quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ateus e católicos fazem 'guerra de outdoors' no Natal de Nova York

 Grupo ateísta colocou propaganda em um dos lados do Túnel Lincoln. Liga Católica respondeu com mensagem na outra entrada do túnel.


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Outdoor de grupo ateísta próximo à entrada do Túnel Lincoln, em North Bergen, Nova Jersey, uma das entradas para a cidade de Nova York, nesta quarta-feira (1º). O texto diz: 'Você sabe que é um mito. Neste ano, celebre a razão' (Foto: AP)


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A Liga Católica contra-atacou, colocando seu próprio cartaz no outro lado do tunel. O texto diz: 'Você sabe que é real. Neste ano, celebre Jesus'. (Foto: AP)

Nota: Eu não entendi o que os ateus dizem ser um mito. No natal celebramos o nascimento de Jesus, seria isso um mito? Jesus nunca nasceu? Celebre a razão, essa é boa...

Fonte: G1

Regra de Ouro

A ética da reciprocidade é um princípio moral geral, que se encontra em praticamente todas as religiões e culturas, frequentemente como regra fundamental. Este facto sugere que pode estar relacionada com aspectos inatos da natureza humana.

A seguir, exemplos de referência à regra áurea nas religiões mais antigas:

No Zoroastrismo

Aquela natureza só é boa quando não faz ao outro aquilo que não é bom para ela própria - Dadistan-i-Dinik 94:5

No Judaísmo

O que é odioso para ti, não o faças ao próximo[carece de fontes?]

No Confucionismo

Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam - Confúcio

No Budismo

Não atormentes o próximo com o que te aflige - Udana-Varga 5:18

No Hinduísmo

Esta é a suma do dever: não faças aos outros aquilo que se a ti for feito, te causará dor - Mahabharata (5:15:17)

No Cristianismo

Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles - Jesus no Sermão da Montanha(Mt. 7, 12)

Fonte: Wikipedia

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Humanize-se

 
Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras.

Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.

Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol.

Eclesiastes 9.7-9

Tuiteiros e Cia.

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Imagem via Bacia das Almas

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A obsessão cristã contra a homossexualidade

 


   Coloquei o título dessa forma pois alguns poderiam dizer que não são contra os homossexuais mas contra a prática homossexual. A bola da vez são os homossexuais. Em toda história da igreja sempre existem certas pessoas e práticas que foram vistas como o maior e mais inaceitável pecado. Primeiro foram as cruzadas contra os mulçumanos na “guerra santa” para livrar o mundo do poder dos pagãos. Na idade medieval veio a perseguição contra as “bruxas” (?) ou qualquer pessoa que questionasse os dogmas da igreja católica, que eram queimadas nas fogueira ou torturadas. Também havia a escravidão que muitos “cristãos” diziam ser até ser ordenada por Deus, e se baseavam na bíblia para isso. Mas também foi um cristão com uma visão além do seu tempo que denunciou esse erro e começou a mudar o mundo. Depois foram os judeus na segunda guerra mundial, onde não foi um projeto particular da igreja mas a arrasadora maioria cristã alemã não foi contra, pelo contrário ajudou o Estado a espalhar o ódio contra os judeus.

   Hoje a nova agenda é contra a homossexualidade (pra ser politicamente correto). E me pergunto até quando e quem serão os próximos. Me pergunto ainda o que faria Jesus. Será que sairia por ai com cartazes em defesa da liberdade de expressão religiosa? Colocaria como prioridade converter os homossexuais e denunciar esse grande pecado que hoje infesta o mundo com sua maldade?  Espero que não, que Aquele que mudou toda a história do mundo e que veio trazer a boa-nova, perdoar os pecados e ensinar sobre o amor ao próximo não tenha uma cabeça tão desmiolada como a nossa.

   Leia os evangelhos e em nenhum momento vai encontrar Jesus querendo converter alguém ou participando de movimentos contra certos pecados. Jesus dizia a todos: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. Mateus 4:17. Não falava aos homossexuais, adúlteros, ladrões, hipócritas, assassinos ou aos corruptos, mas falava para todos. Não queria converter certos tipos de pessoas, mas sim todas as pessoas, ensinava que qualquer um que confia em suas próprias forças já está perdido. Não pregava nem colaborava a disseminar ódio contra qualquer tipo de pessoa ou prática mas denunciava a hipocrisia dos religiosos de sua época, que seguiam rigorosamente a lei mas por dentro eram cheios de maldade e se achavam melhores do que os demais pagãos.

   Muitos vão citar aqui as passagens de Paulo na Carta aos Romanos e outros ainda vão ter ousadia de citar os livros da lei, mas creio que ninguém vai se lembrar do que disse Jesus que dizem seguir:

E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.


Este é o primeiro e grande mandamento.


E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.


Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. Mateus 22:37-40.

   Vão dizer ainda que a verdade precede o amor, que amam mas não podem calar a verdade, ai eu me pergunto que amor é esse e que luz estamos sendo no mundo... pois com nossas práticas só disseminamos o ódio. Todo o tipo de hipocrisia podemos agüentar mas um homossexual na igreja? Um absurdo. E a mensagem tão simples do amor ao próximo é colocada em segundo plano, o nosso preconceito fica em primeiro.

   Daqui a algum tempo, mas já podemos observar alguns poucos hoje, cristãos vão passar a ler a bíblia de uma forma diferente, que não exclui mas inclui e que ninguém está salvo, mas o Seu amor nos une e por isso não existe nem homossexual nem heterossexual mas somos todos um em Cristo Jesus, nosso Salvador. E a simples, mas maravilhosa e transformadora mensagem do amor ao próximo vai poder seguir iluminando a escuridão.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Não-Resistência do Mal com o Mal


    Preconizamos que a lei criminal do Antigo Testamento — olho por olho, dente por dente — foi anulada por Jesus Cristo e que, segundo o Novo Testamento, todos os fiéis devem perdoar seus inimigos em todos os casos, sem exceção, e não se vingar. Extorquir dinheiro à força, prender, mandar para a cadeia ou condenar à morte não se constitui, evidentemente, em perdão, e sim em vingança.
 
   A história da humanidade está cheia de provas de que a violência física não contribui para o reerguimento moral e de que as más inclinações do homem somente podem ser corrigidas através do amor; de que o mal não pode desaparecer senão por meio do bem; de que não se deve contar com a força do próprio braço para se defender do mal; de que a verdadeira força do homem está na bondade, na paciência e na caridade; de que só os pacíficos herdarão a terra e de que aqueles que com a espada ferirem pela espada perecerão.

   Por isso, tanto para garantir com mais segurança a vida, a propriedade, a liberdade e a felicidade dos homens, quanto para seguir a vontade d'Aquele que é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, aceitamos de todo o coração o princípio fundamental da não-resistência ao mal por meio do mal, porque acreditamos firmemente que este princípio, que atende a todas as circunstâncias possíveis da nossa existência e ao mesmo tempo exprime a vontade de Deus, deve finalmente triunfar. Não pregamos uma doutrina revolucionária. O espírito da doutrina revolucionária é um espírito de vingança, de violência e de morte, sem temor a Deus e sem respeito pela personalidade humana, e não queremos nos deixar penetrar senão pelo espírito do Cristo. Nosso princípio fundamental de não-resistência ao mal por meio do mal não nos permite insurreições, nem rebeliões, nem violências.

William Lloyd Harrison, Declaração de Não-Resistência ao mal, subscrita em 1838.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Apaixonado por livros

    De fato livros são portas que nos levam a outra dimensão. Através dos livros podemos viajar pelo mundo e pela nossa imaginação, nada mais prazeroso do que ler um livro num dia frio embaixo do cobertor, ou então num dia de sol embaixo de uma sombra. Além de todo o prazer que podemos desfrutar através da leitura, em nossa caminhada cristã se faz necessário realizar essa prática.

    Alguns livros têm a força e a grandeza de não dizer apenas o que é óbvio, quando você encontra um livro desses não consegue “sossegar” enquanto não termina, e depois fica pensando sobre as frases que leu e passa a ter uma nova visão e um novo relacionamento com Deus, em alguns momentos nos surpreendemos tanto que logo após ler uma frase ficamos pensando em sua beleza e o quão profunda ela é, ao menos para nossa vida.

    Buscar o livro que você nunca mais vai esquecer é uma aventura maravilhosa, você procura muito até que encontra aquele livro que vai mudar sua caminhada cristã e seu modo de viver a vida. Através da literatura nossa vida cristã toma a cada dia novos nuances e perspectivas, nos sentimos revigorados e o livro nos proporciona alegria.

    Além da importância que a leitura tem para a vida cristã já que através dela aprendemos a seguir os passos de Jesus, através da leitura dos evangelhos, os livros são formas de ver e sentir toda a beleza que o mundo tem e assimilar verdades que vão guiar nossa vida e relacionamento com Deus.


Encontre um bom livro e tenha uma ótima leitura, sua vida com certeza não vai ser a mesma!

sábado, 20 de novembro de 2010

Promoção Blogosfera Apaixonada

A Livraria Casa da Bíblia Online iniciou no dia 8 de novembro de 2010 uma grande promoção aberta a toda blogosfera que é apaixonada por livros e sabe da importância deles em nossa vida cristã.

A promoção vai até o dia 30 de novembro de 2010 e vai premiar os três melhores posts sobre o tema: “A importância da leitura para a vida cristã”. O primeiro colocado vai ganhar um vale-compra em Bíblias e livros no valor de R$ 300,00, o segundo no valor de R$ 150,00 e o terceiro no valor de R$ 100,00.

Além de premiar os melhores posts sobre o tema, a Livraria Casa da Bíblia Online estará realizando sorteios de livros durante todo o período da promoção aos inscritos, promoções no twitter, descontos de até 80% em produtos e sorteios de brindes aos consumidores.

Todas as informações da campanha estão no site www.maiscb.com.br. Acesse e faça já sua inscrição se você é um apaixonado por livro.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Morte aos Comentaristas


   O cerne da mensagem do Reino, conforme enunciado por Jesus, é tão escandalosamente revolucionário e exigente que nós cristãos tratamos de aparar suas arestas mais escandalosas (todas elas), de modo a que ele não pudesse causar estrago e constrangimento a ninguém – em especial a nós mesmos.

   Como resultado desse eficaz trabalho de domesticação, todo o tipo de barbaridade foi e é efetuado pelos cristãos em nome de Deus – mas, como aprendi com o Serqueira, sem firma reconhecida. Desnecessário olhar para trás e contemplar as Cruzadas. Nos nossos dias aquele que reivindica para o si o título de país mais Verdadeiramente Cristão™ da Terra é também o mais beligerante e consumista – sendo que a proclamação do o Reino exige de forma inequívoca e intransigente o baixar de armas e a simplicidade de vida.

   Os fundamentalistas evangélicos norte-americanos, defensores últimos da integridade do evangelho, sustentam que é horrenda ofensa não crer na Bíblia literalmente. Eles de fato crêem literalmente, mas de forma cuidadosa e seletiva: isto é, quando lhes convém.

   Os fundamentalistas e seus asseclas crêem que o Gênesis está falando em dias literais quando afirma que o mundo foi criado em sete dias; mas ensinam que Jesus não estava falando numa espada literal quando sentenciou: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão”. O nascimento virginal de Jesus deve ser entendido literalmente e seria blasfêmia sugerir o contrário; mas já Jesus não deve ser entendido literalmente quando nos convida a amar os inimigos, a emprestar sem esperar receber de volta, a oferecer a outra face, a dar liberalmente a quem pedir, a renunciar a toda pretensão de poder, a colocar o outro em primeiro lugar, a não ajuntar tesouros na terra, a renunciar a tudo para segui-lo, a nos fazermos frágeis e despretensiosos como criancinhas, a dar a vida pelos amigos.

   Mais fácil é fazer-se de louco e ater-se, como fazemos invariavelmente, a lateralidades. Ninguém quer se dar ao luxo de ponderar que talvez o evangelho seja incompatível com o belicismo, a acumulação insana de bens, o egocentrismo institucional e o capeta-lismo (como dizia o velho profeta carioca Gentileza). O que Jesus disse é, na prática, irrelevante à nossa pretensão de sermos seguidores dele. Estamos protegidos do Indomável pela nossa interpretação à prova de balas das suas palavras.

   Naturalmente, estou chovendo no molhado quando falo sobre esse assunto – e olhe que volto sempre a ele. Se, falando da forma mais clara, o aclamado Søren Kierkegaard não conseguiu abrir os olhos da galera, não serei eu. Já no século retrasado, e por excelentes razões, Kierkegaard exigia a cabeça dos que fazem de intermediar o significado da Bíblia sua profissão.

* * *

MORTE AOS COMENTARISTAS

   A enorme quantidade de intérpretes contemporâneos bíblicos tem prejudicado, mais do que auxiliado, nossa compreensão da Bíblia. Ao ler os comentaristas tornou-se necessário fazê-lo como quem assiste uma peça durante a qual a profusão de espectadores e de luzes impede, por assim dizer, que desfrutemos da peça em si – e somos premiados ao invés disso com pequenos incidentes. Para assistirmos à peça temos de aprender a ignorá-los, se possível, ou entrar por um caminho que não tenha sido obstruído.

   O comentarista tornou-se, na verdade, o mais prejudicial dos intermediários. Se você deseja entender a Bíblia, certifique-se de lê-la sem um comentário. Pense em dois amantes. A amante escreve uma carta ao seu amado. O amado está por acaso interessada no que os outros acham da carta? Não irá lê-la sozinho? Em outras palavras, nunca lhe passaria pela cabeça lê-la com o auxílio de um comentário. Se a carta da amante estivesse escrita num idioma que ele não compreende – ora, ele por certo aprenderia a língua, mas com certeza não a leria com a intermediação de comentários. Esses de nada adiantam. O amor pela sua amada e sua prontidão em satisfazer os desejos dela tornam-no mais do que capaz de compreender a carta. É o mesmo com as Escrituras. Com a ajuda de Deus podemos entender a Bíblia muito bem. Todo comentário deprecia, e a pessoa que senta-se com dez comentários abertos e lê a Escritura… está provavelmente escrevendo o décimo-primeiro. Não está por certo lidando com as Escrituras.

Se você deseja entender a Bíblia, certifique-se de lê-la sem um comentário.

   Suponha agora que essa carta da amante possua o atributo único de que cada ser humano é o amado a quem ela se dirige. E agora? Deveríamos por acaso sentar e conferenciar um com o outro? Não, cada um de nós deveria ler essa carta apenas como indivíduo, como indivíduo singular que recebeu essa carta de Deus. Ao lê-la, estaremos preocupadas em primeiro lugar com nós mesmos e com nosso relacionamento com ele. Não concentraremos nossa atenção na carta em si, no fato de que essa passagem possa ser interpretada de uma forma e esta de outra – de forma alguma: o importante para nós será agir, e o mais cedo possível.

   Não é então algo singular ser o amado, e não nos dá esse algo uma vantagem que nenhum comentarista possui? Pense a respeito. Não somos nós os melhores intérpretes das nossas próprias palavras? E em seguida o amante e, em relação a Deus, o verdadeiro crente? Não devemos esquecer que as Escrituras são meras placas rodoviárias: Cristo, o amado, é o caminho. Morte aos comentaristas!

   A questão é simples. A Bíblia é muito fácil de entender. Mas nós cristãos somos um bando de vigaristas trapaceiros. Fingimos que não somos capazes de entendê-la porque sabemos muito bem que no minuto em que compreendermos estaremos obrigados a agir em conformidade. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo a não ser o seu comprometimento de agir em conformidade com ela. Meu Deus, dirá você, se eu fizer isso minha estará arruinada. Como vou progredir na vida?

   Aqui jaz o verdadeiro lugar da erudição cristã. A erudição cristã é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se da Bíblia; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a Bíblia chegue perto demais. Ah, erudição sem preço! O que seria de nós sem você? Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. De fato, já é coisa terrível estar sozinho com o Novo Testamento.

Terrível coisa é estar sozinho com o Novo Testamento.

   Abro o Novo Testamento e leio: “Se você quer ser perfeito, venda todos os seus bens e dê aos pobres, e venha me seguir”. Meu Deus, se fôssemos de fato fazer isso, todos os capitalistas, todos os funcionários públicos e empreendedores, toda a sociedade na verdade, seríamos reduzidos à condição de quase mendigos! Estaríamos em maus lençóis não fosse a erudição cristã! Louvado seja todo aquele que trabalha para consolidar a reputação da erudição cristã, que ajuda a refrear o Novo Testamento, esse livro perturbado que passaria por cima de nós uma, duas, três vezes se andasse à solta (quer dizer, se a erudição cristã não o refreasse).

   O que precisamos realmente, portanto, é de uma reforma que coloque até mesmo a Bíblia de lado. Sim, isso teria hoje em dia a mesma validade que teve o rompimento de Lutero com o papa. A presente ênfase em “voltar à Bíblia” tem, infelizmente, criado religiosidade a partir de uma trapaça erudita e literalista—mera manobra de diversão. Tragicamente, esse tipo de conhecimento tem gotejado gradualmente sobre as massas, de modo que hoje em dia ninguém é mais capaz de simplesmente ler a Bíblia. Todo nosso saber bíblico tornou-se nada além de uma fortaleza de desculpas e escapes. Quando se trata de existência, de obediência, há sempre algo de que devemos cuidar antes. Vivemos sob a ilusão de que devemos primeiro ter a interpretação correta ou a crença em sua forma perfeita antes de podermos começar a viver – quer dizer, nunca chegamos a fazer o que a Palavra diz.

   A igreja vem há muito precisando de um profeta em temor e tremor que tenha a coragem de proibir o povo de ler a Bíblia. Sou tentado, portanto, a fazer a seguinte proposta. Coletemos todas as nossas Bíblias e juntemo-las em algum lugar aberto ou no alto de uma montanha e então, enquanto todos ajoelhamos, alguém fale com Deus da seguinte maneira:

“Leve esse livro de volta. Nós, cristãos, tais como somos, não somos aptos a nos envolver com tal coisa; ela apenas nos torna orgulhosos e infelizes. Não estamos prontos para ela.”

   Em outras palavras, sugiro que nós, como os aldeões cujo rebanho de porcos arrojou-se na água e afogou-se, imploremos a Cristo que “retire-se de nós” (Mateus 8:34). Isso pelo menos seria um discurso honesto – algo muito diferente da erudição nauseante e hipócrita tão prevalente hoje em dia.

   Em vão a Bíblia comanda com autoridade. Em vão ela admoesta e implora. Não ouvimos – isto é, ouvimos a sua voz apenas pela intermediação/interferência da erudição cristã, dos especialistas que tiveram treinamento adequado. Da mesma forma que um estrangeiro exige os seus direitos numa língua estranha e ousa apaixonadamente dizer palavras ousadas ao enfrentar autoridades do Estado – mas veja, o intérprete que deve traduzi-las para as autoridades não ousa fazê-lo, substituindo-as por alguma outra coisa – assim soa a Bíblia através da erudição cristã.

“Leve esse livro de volta.”

   Afirmamos que a erudição cristã existe especificamente para nos ajudar a entender o Novo Testamento, a fim de que melhor possamos ouvir a sua voz. Nenhum lunático, nenhum prisioneiro de estado foi jamais confinado dessa forma. No que diz respeito a eles, ninguém nega que estão trancafiados, mas as precauções contra o Novo Testamento são ainda maiores. Nós o trancafiamos, mas argumentamos que estamos fazendo justamente o contrário, que estamos zelosamente engajados em ajudar a que ele ganhe clareza e controle. Por outro lado, naturalmente, nenhum lunático ou prisioneiro de estado poderia ser mais perigoso do que o Novo Testamento caso se permitisse que ele andasse à solta.

   É verdade que nós, protestantes, empreendemos grandes esforços para que cada pessoa possua sua própria Bíblia – até mesmo em seu idioma nativo. Ah, mas como são grandes os esforços para imprimir sobre todos a noção de que ela só pode ser compreendida através da erudição cristã! Essa é nossa situação atual.

O que tentei demonstrar aqui pode ser declarado sem dificuldade:

Tenho desejado fazer as pessoas darem-se conta e admitirem que acho o Novo Testamento muito fácil de entender, mas tenho encontrado até agora a maior dificuldade para agir de forma literal em conformidade com o que ele diz tão claramente. Talvez eu pudesse ter tomado outra direção; poderia ter inventado uma nova espécie de erudição, dando à luz ainda outro comentário, mas estou muito mais satisfeito com o que fiz – uma confissão sobre mim mesmo.

Søren Kierkegard, Provocations

Vi em: Bacia das Almas

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre o Sexo

   O horror que cristãos de todas as estirpes nutrem ainda contra o corpo, contra o prazer sensorial e contra a sexualidade não se origina na herança da Bíblia hebraica, na tradição dos apóstolos ou no ensino de Jesus. Ao contrário: nosso pessimismo sexual não tem suas raízes na tradição bíblica, mas na influência exercida pelos filósofos estóicos e gnósticos sobre os cristãos dos quatro primeiros séculos.

   Os filósofos estóicos prescreviam o controle completo da vontade sobre as paixões e as emoções. Seu ideal de humanidade era em tudo semelhante ao personagem Dr. Spock da série Jornada nas Estrelas original: um homem que busca honestamente a virtude, mas desconhece o tráfico, tipicamente humano, com as frustrações e os prazeres. Dos estóicos (como Sêneca, tutor de Nero) herdamos a hipervalorização do celibato e a idéia da abstinência dentro do casamento como coisa virtuosa. Os estóicos ensinaram-nos a noção extrabíblica de que todo prazer sensorial é uma ameaça e uma tentação, e que portanto a única atividade sexual legítima é a que visa a procriação.

   Os gnósticos, por sua vez, criam que o mundo físico não era obra de um Deus bom, mas de demônios, e que a incorpórea alma humana era a única centelha de verdadeira luz neste lodaçal de matéria. Dos gnósticos herdamos o desprezo pelo corpo, a demonização da matéria, o desprezo pela experiência sensorial e a hipervalorização do ascetismo.

O cristianismo reduziu a moralidade à moralidade sexual.

   Foi a influência dessas idéias, e não a leitura dos Testamentos, que criou a postura de gente como Agostinho, que só admitiu depois de muita hesitação a possibilidade de Adão e Eva terem mantido relações antes da Queda; mas o sexo antes do pecado, garantiu Agostinho, teria sido operação necessariamente santa e portanto mecânica, inteiramente isenta de prazer. Pela mesma razão Maria, mãe de Jesus, teve sua sexualidade cauterizada de modo a permanecer eternamente virgem, mesmo durante e depois do parto de Jesus. Seria coisa inconcebível, assegurou o papa Sirício no terceiro século, que Maria se rebaixasse à “intemperança” do prazer sexual; inconcebível que seu útero, “aquele átrio do rei eterno”, fosse “maculado pela presença [posterior] do sêmen masculino”.

   Com a assimilação do pessimismo estóico e gnóstico, o sexo e o prazer passaram a ser vistos a uma luz cada vez mais negativa, mesmo dentro do casamento, até que o celibato completo passou a ser requerido dos líderes eclesiásticos. Na equação do negativismo sexual, sexo nenhum equivale a nenhum prazer, e nenhum prazer equivale a muita virtude.

   Consolidava-se assim, nos primeiros séculos do cristianismo e graças a uma influência alienígena à visão de mundo bíblica, uma tendência que nem os ajustes da reforma protestantem seriam capaz de abalar: para o cristianismo histórico, a moralidade ficou para sempre reduzida à moralidade sexual.

   Perdemos assim a sanidade da visão judaica a respeito do sexo e do prazer, que é favorável e celebratória e nada tem de neurotizada. Ainda mais importante, perdemos de vista o coração do ensino de Jesus sobre ética e santidade. Como deixam claro os evangelhos, a postura e o ensino de Jesus requeriam uma profunda revisão na nossa rasteira noção tradicional de moralidade. Afinal de contas, o mesmo Jesus que comia e bebia com gente de má fama, que via heróis em prostitutas e marginais e tinha prazer na companhia de pecadores, enxergava corrupção e podridão na vida dos carolas, devotos e santinhos da sua época. Para Jesus, como espetacularmente demonstrado no Sermão do Monte, nada é simples na moralidade, especialmente o reducionismo: nossa tendencia a nos sentirmos seguros na abstinência e a tendência correspondente de condenarmos os outros em seus excessos.

   Cegados pelo falso brilho do estoicismo e pelas promessas tortas do gnosticismo, os cristãos eliminaram de forma brutal todas as sutilezas do ensino de Jesus sobre a moralidade, e passaram a proclamar a má nova – tudo que dá prazer é pecado – ao invés da boa – não há ninguém sem pecado, por isso a graça da aceitação está disponível para todos.

   Hoje, dois milênios depois, permanecemos reduzindo religiosamente a moralidade à esfera sexual. Jesus não tolerava a mentira, a ganância, o orgulho e a crueldade; nós toleramos tudo isso, mas quem não se submeter aos nossos elevados padrões de moralidade sexual terá de ser excluído do nosso meio.

   Os católicos permanecem obcecados com o celibato e com a contracepção; os protestantes permanecem obcecados com a virgindade antes do casamento e com a homossexualidade. A mentalidade evangélica permite a exploração de pessoas pelo capitalismo e a alienação social que ela ocasiona, mas não tolera a união sexual antes da sanção reparadora do sacerdote. O Vaticano ensina que padres não podem casar-se, e trata como embaraçosa infelicidade o fato de que tenham de recorrer eventualmente a meninos. A igreja evangélica norte-americana, patrocinadora ideológica dos avanços militares dos Estados Unidos, é reconhecida, essencialmente, pela sua postura antihomossexual; ou seja, um homem pode matar outro, mas não pode beijá-lo. As campanhas católicas contra o uso de anticoncepcionais são reflexos contemporâneos da antiga luta estóica contra o prazer; a única função legítima do sexo, como ensinava Sêneca, deve permanecer a procriação.

   Para os cristãos do terceiro milênio, toda imoralidade – a única verdadeira imoralidade – é sexual. O inquietante é que, com o passar do tempo, perdemos a capacidade de ver que não há nessa postura nenhum traço de Jesus, do Antigo Testamento ou dos apóstolos. Pela familiaridade com o nosso próprio discurso, tornamo-nos inteiramente incapazes de reconhecer nossa neurose sexual.

   Ao contrário, o que fazemos constantemente é acusar o mundo contemporâneo de ser obcecado com sexo. Pode ser hora de reconhecer que, depois de milênios do nosso exemplo, eles simplesmente aprenderam conosco.


O autor desse texto é Paulo Brabo.
Disponível em: www.baciadasalmas.com

sábado, 23 de outubro de 2010

Ame os que o odeiam


Ame os que o odeiam

43 Ouvistes o que foi dito: "Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo".

44 Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem;

45 para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, pois que Ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.

46 Porque se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos igualmente assim?

47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de notável? Não agem os gentios também dessa maneira?

48 Assim sendo, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus.

   O termo publicano (palavra latina com origem no grego telõnês) denominava um coletor de impostos a serviço do império romano. Esses homens eram odiados por causa da impiedade com que exploravam o povo. Para os judeus, o publicano era imundo, pois estava sempre em contato com os gentios. A palavra “publicano” tornou-se sinônimo de egoísmo, desonestidade, falsidade, impiedade e incredulidade. Gentios (em hebraico gôyïm e do grego ethnikoi ou Hellênes traduzido pela Vulgata, em latim, como gentiles) era um termo geral para significar “nações”. Entretanto, na época de Jesus, esse termo era usado pelos judeus para se referir, em tom discriminatório e preconceituoso, a todas as pessoas que não fossem israelenses. Para os mestres e doutores da Lei, os “gentios” eram idólatras, imorais e pecadores. Um judeu chamado de gentio significava um publicano; ou seja, uma pessoa impura, incrédula, mau-caráter, inescrupulosa, impiedosa e digna de todo o desprezo. Jesus resgata o valor real dos “gentios” (das nações) e convida a todos para Seu Reino (Rm 1.16; Cl 3.11; Gl 2.14; Ap 21.24; 22.2). Jesus conclui essa parte do seu ensino revelando o segredo da ética cristã: o amor deve fazer muito mais do que a obrigação. Este foi o testemunho de Cristo e este deve ser o objetivo maior dos cristãos: buscar o amor perfeito do Pai e agir assim, como filhos amados de Deus, para que outros vejam a luz de Cristo e sejam libertos das trevas deste mundo.

~~~~~

   É para isso que Jesus nos chama, para carregar a cruz. Mas nos anima e sustem pois está junto de nós e já venceu o mundo. Ele nos chama para implantar o reino dos céus hoje mesmo aqui na terra, seguindo os seus mandamentos. Você está disposto a isso? Está disposto a ajuda na batalha contra o mal no mundo, não tendo sua própria vida como preciosa? Negue a si mesmo e assim conhecerás a Verdade e a Verdade te libertará, não é um segredo para vencer, pois não buscamos sucesso e conhecimento do mundo... pelo contrário. Mas mesmo diante de más circunstâncias a Salvação e a nova vida que ganhamos pela Graça não deixará que você se desanime. Fica o convite do Rei dos Reis:

Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Marcos 8:34

Fonte: Bíblia versão King James.

Sim para ser, não para não ser!

 
 
   Quando Jesus diz “não”, é não. Quando Ele diz: “Faça assim”; é para assim fazer. Desse modo, veja quando Ele diz “não”.

   Não julgueis. Não atireis pérolas aos porcos. Não vos mostreis aos homens quando orardes, jejuardes ou derdes esmolas. Não andeis ansiosos de coisa alguma. Não os imiteis. Assim não é no meio de vós. Não foi assim desde o princípio. Não podeis servir a dois senhores. Não resistais ao perverso. Não vos vingueis a vós mesmos. Etc.

Veja também quando Ele diz “sim”.

   Sim! Seja misericordioso. Seja justo. Seja fiel. Seja solidário. Seja simples. Seja como uma criança. Seja vigilante. Seja sóbrio. Seja capaz do bem sempre. Seja dos que buscam o Reino de Deus antes de tudo. Etc.

Agora saiba:

Para cada “não” há uma total impossibilidade de que, em se buscando viver contra o “não”, se possa ser feliz. Não adianta. Quando Jesus diz “não” ninguém consegue violar e ser feliz.

Para cada “sim” há a total possibilidade de vida e felicidade abertos para quem ande conforme a proposta.

Obedecer adianta tudo...

Quem obedece a Palavra de Jesus segue o fluxo da vida, e isto é felicidade.

Agora releia os Evangelhos!

Não é não. Sim é sim. O que passa disso sempre vem do Maligno!

Texo do blog Caminho da Graça, autoria de Caio Fábio.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Capitalismo é Compatível com o Cristianismo?

 Mineiro carrega pedra para a maior empresa de extração de carvão do mundo, na índia. A Índia Carvão fará o maior lançamento de ações da história do pais US$ 3,4 bilhões.

   Bilhões desnutridos para manter milhares obesos! Eis o mundo capitalista, é esse o reino dos céus? Com certeza não, Jesus sempre falou que todos os homens são iguais para Deus e que todos devem ser incluídos e não excluídos, esse sistema que governa o mundo e gera os sentimentos egoístas do individualismo e competição é inimigo da boa-nova de Jesus, o sistema que escraviza os homens que precisam urgentemente serem libertos conhecendo a Verdade para a sua vida. Sentimentos de comunhão, coletividade, colaboração e compaixão é a mensagem que devemos anunciar e vivenciar... tá esperando o que mais? Que a família toda desse sujeito da foto precise fazer o mesmo que ele para não morrer de fome?

E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Lucas 18:24

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Capitalismo e Cristianismo.

 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. Mateus 6:24

   A fim de manter a sua supremacia por um período significativo de tempo, um sistema religioso precisa sustentar valores e idéias que parecem evidentes por si mesmos à maior parte dos membros de uma sociedade. As principais idéias de um sistema religioso têm de ser naturalmente transferíveis às novas gerações, sem que precisem ser ensinadas diretamente; os desvios da norma, os hereges, devem por sua vez ficar evidentes e ser excluídos por um mecanismo instintivo de rejeição logo que se manifestam.

   Há pelo menos três séculos o cristianismo como sistema religioso formal da civilização ocidental foi substituído pela crença universal no capitalismo. O capitalismo (leia-se, e em inglês, way of life) provou-se por todos os critérios o sistema de crenças mais bem sucedido da história.

   Isso porque, como qualquer muçulmano pode facilmente apontar, o capitalismo é uma religião como qualquer outra – apenas mais enraizada e muito mais difícil de converter. Embora a história do sucesso do cristianismo e do capitalismo ocidental andem até certo ponto de mãos dadas, os sistemas de segurança e multiplicação do capitalismo como sistema de fé são infinitamente mais estanques e bem amarrados do que os do cristianismo jamais foram.

   Alguns valores subjacentes ao cristianismo (como, digamos, a ênfase na humildade e no sacrifício pessoal) nunca tiveram apelo diante do cidadão comum como as seduções embutidas no capitalismo.
Já foi dito e comprovado que em outro tempo as esperanças instiladas pelo cristianismo permitiram que ele servisse como instrumento de domínio e controle por parte das classes superiores.

   Os mecanismos de defesa e autopropagação das duas religiões, no entanto, são muitos semelhantes e denunciam uma origem comum. Durante o período de supremacia do cristianismo institucional qualquer cidadão que ousasse propor uma alternativa ao cristianismo ortodoxo era imediatamente taxado, condenado e convenientemente eliminado da discussão como herege; nos dias de hoje, qualquer cidadão que ouse propor uma alternativa ao capitalismo ortodoxo (como fazem, por exemplo, os proponentes do software livre e os que advogam leis menos restritivas de copyright) é imediatamente taxado, condenado e convenientemente eliminado da discussão como comunista.


Já foi dito e comprovado que em outro tempo as esperanças instiladas pelo cristianismo permitiram que ele servisse como instrumento de dominação e controle por parte das classes superiores. 

   O homem comum que acreditava na felicidade numa vida futura não precisava revoltar-se contra as injustiças desta vida. Enquanto o cristianismo era a religião das multidões, diz esse raciocínio, as multidões eram fáceis de controlar e de apaziguar: diante de qualquer insatisfação com uma injustiça presente, bastava acenar com a garantia da justiça eterna.

   A verdade é que, com esperanças ainda mais artificiais (e garantias pelo menos tão irreais), o capitalismo alcançou sucesso ainda maior como religião. A diferença de ênfase do capitalismo é na verdade sutil, mas como sistema de domínio da população sua eficácia é infinitamente maior. O homem comum dos dias de hoje não precisa revoltar-se contra as injustiças desta vida porque ele acredita que o sistema é livre e eficiente, e nada impede que ele ascenda na escala social e econômica ainda nesta vida. Esta promessa de mobilidade social, com que lhe acena a sociedade “livre”, é a sua fé inviolável. Não importa quão poucos sejam os que de fato ascendem socialmente como resultado da livre iniciativa (talvez um ainda menor número dos que iam para o céu), mas para a permanência dos sistema basta que a ilusão persista.

   As multidões hoje em dia são fáceis de controlar e de apaziguar porque, diante de qualquer insatisfação com uma injustiça presente, basta acenar com a liberdade e a justiça inerentes ao sistema: “se você não chegou ate onde eu cheguei”, dizem em silêncio as classes dominantes, “é porque não tem a mesma garra e a mesma competência que eu. Você poderia ter se esforçado mais, e na verdade ainda pode: a culpa pelo seu fracasso é sua e somente sua”.

Segundo o cristianismo, o mundo é justo porque qualquer pessoa, desde que realmente queira, pode alcançar o paraíso na eternidade. Segundo o capitalismo, o mundo é justo porque qualquer pessoa, desde que realmente queira, pode ficar rica. 

   Acenando com promessas diferentes, os dois sistemas produzem resultado semelhante e que tende a manter o estado de coisas. No final das contas, quem crê nas promessas do capitalismo é pelo menos tão manipulável e conformado com a sua sorte quanto o mais devoto cristão.Segundo o cristianismo, o mundo é justo porque qualquer pessoa, desde que realmente queira, pode alcançar o paraíso na eternidade. Segundo o capitalismo, o mundo é justo porque qualquer pessoa, desde que realmente queira, pode ficar rica.

   O menor sucesso do capitalismo não foi ter apagado do próprio cristianismo qualquer traço de originalidade. Não importa que o Novo Testamento defenda, de uma a outra capa, a humildade, o altruísmo e o comedimento; não importa o “bem-aventurados os pobres” e o “ai dos ricos” de Jesus. O alvo de qualquer cristão ocidental contemporâneo está sincronizado com o capitalismo, não com a ousada mensagem de contracultura que permeia o Novo Testamento.

   Para verificar o sucesso definitivo do capitalismo como sistema de crenças basta ver que até mesmo as seitas cristãs alteraram as suas ênfases ideológicas a partir do sucesso irresistível do seu antagonista. Hoje em dia nenhum sistema religioso cristão bem-sucedido ousa acenar com promessas para a vida futura. Para serem ouvidos, incansáveis mensageiros evangélicos despejam em rádios e programas de televisão as mesmas esperanças de prosperidade financeira e pessoal oferecidas pelo capitalismo.

   Uma felicidade que não seja para esta vida não interessa aparentemente a ninguém, mas a felicidade prometida para esta vida pode controlar quem quer que seja.
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   O título deste artigo é chupado do instigante The Varieties Of Religious Experience – As Variedades da Experiência Religiosa, do psicólogo americano William James, publicado pela primeira vez em 1902. Para fins do seu estudo de “religião natural”, James definia religião como “os sentimentos, atitudes e experiências dos indivíduos na sua esfera privada, no que diz respeito à posição em que eles avaliam-se estar em relação ao que quer que seja que considerem o divino”.

   James ficaria surpreendido com o rumo que o seu campo de estudo assumiu nas últimas décadas. O divino hoje em dia é o capital – o nirvana, o crédito ilimitado.

O autor desse texto é Paulo Brabo, do site Bacia das Almas

Beber e dirigir... não dá nada?



Veja, reflita e mude.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Orkut: Uma rede anti-social?


Tempos atrás conversava com uma amiga e ela me contou encabulada que era viciada em Orkut, passando horas visitando as páginas de pessoas conhecidas e desconhecidas. Achei muito curiosa a confissão, pois uma de suas comunidades era justamente “Saia do Orkut e vá ler um livro”. Quando perguntei sobre esta incoerência ela disse: “É que a gente tem que disfarçar... Não posso passar para as pessoas a idéia de que eu sou fútil. Com esta comunidade todos pensarão que sou uma pessoa mais erudita.”

As redes sociais como Facebook, Orkut e outras têm uma função bem legal de unir as pessoas. Eu mesmo já reencontrei alguns amigos de adolescência e infância por meio destas fantásticas ferramentas de relacionamento. Confesso também que já fui um assaz usuário destes espaços virtuais. Hoje meu Orkut está bem abandonado... Mas não descarto os benefícios que a tecnologia proporciona para nossa vida e relacionamentos.

Entretanto, o comportamento desta minha amiga, descrito lá em cima, nos revela um aspecto muito comum no mundo virtual: As pessoas nem sempre são como se mostram. Aliás, penso que na maioria das vezes as pessoas não se mostram como realmente são, mas como gostariam ou deveriam ser.

As fotos são sempre as mais bonitas e até “photoshopadas”. Os comentários vendem um estado de espírito de sucesso e felicidade, segundo os valores do usuário. Claro que nenhuma pessoa normal gosta que suas piores fotos sejam publicadas para o mundo. Eu também sempre procuro selecionar as fotos mais bacanas do ponto de vista estético, mas o que critico são os excessos praticados. Um direito de cada indivíduo, mas que revela uma face triste do ser humano: Não gosto de quem sou.

Porque não gosto de quem sou? Porque disfarço minha aparência, minha profissão, meus dotes intelectuais, meu comportamento e estilo de vida? Porque lanço mão destes subterfúgios para parecer ser pessoas que não sou, mas que queria ser? As redes sociais apenas facilitam e potencializam um comportamento que já existe no mundo real. Mesmo em nosso cotidiano, muitas vezes queremos parecer ser o que não somos e vivemos num perpétuo baile de máscaras, onde ninguém sabe exatamente com que está lidando, posto o outro nunca ser exatamente o que mostra ser. Tantas vezes estas máscaras são tão bem ajustadas que o próprio mascarado nem mais sabe exatamente quem realmente é...

Lembro-me, há mais de duas décadas atrás, quando fui participar numa reunião de lideranças nacionais de juventude. Na época eu não havia entrado para a faculdade, pois minha condição de vida permitia-me ser apenas um trabalhador tempo integral. No início desta reunião, quando todos se apresentavam, contavam um pouco de si e a faculdade que estavam fazendo. Ruborizei, pois eu não tinha coragem de dizer que não estudava. Senti-me diminuído ante aqueles universitários e usei de uma ferramenta “orkutiana”: menti!

Disse que era universitário e estava cursando sei lá o que. Naquele dia fiquei muito amigo de duas moças que, depois, com o desenvolvimento da nossa amizade, facilmente descobriram minha mentira... A vergonha foi tanta que me afastei delas, rompendo uma linda amizade que se iniciava.

Se tento ser o que não sou é porque julgo-me pequeno, feio, inadequado ou fraco. Entretanto, não existem pessoas perfeitas. Ninguém é melhor ou pior do que você! As pessoas são apenas diferentes e cada uma possui talentos próprios.

Dentre os muitos ensinos de Jesus, um deles é a auto-aceitação. Uma das coisas que Jesus nos ajuda a fazer é descobrir quem realmente somos. Ele nos ajuda a nos aceitarmos e nos mostra caminhos que podem nos levar a sermos pessoas melhores naquilo que temos falhado.

Jesus restituiu a dignidade da adúltera, impedindo o seu apedrejamento.

Jesus deu dignidade às mulheres, chamando-as pelo próprio nome, numa época e sociedade que as tratava como objetos.

Jesus deixou o baixinho Zaqueu feliz da vida, indo almoçar na casa dele, permitindo que ele se enxergasse em suas misérias emocionais e incentivando-o a aceitar o que não podia mudar (sua altura) e mudar o que não podia permanecer (seu comportamento corrupto).

Jesus permitiu que Pedro descobrisse que ele não era quem pensava que fosse: Um corajoso. Mas a covardia de Pedro foi exposta com o canto do galo. Posteriormente, numa praia, Jesus o aceitou e mostrou que ele poderia aceitar-se também, agora, com menos arrogância.

Jesus aceitou um samaritano, curando sua vida e sua dignidade (mesmo os samaritanos sendo um povo brigado com a nação de Jesus, o povo judeu). Posteriormente até contou uma estória de um samaritano que era melhor que os judeus cheios de religiosidade. Isto equivaleria a hoje um pregador judeu ir até o povo palestino para curá-los e amá-los, restituindo a dignidade dos pobres, sem interesses.

Jesus defendeu o direito dos pobres, dos órfãos, das viúvas. E como não fazia acepção de pessoas, até pessoas ricas, autoridades militares e religiosas e povos de outras culturas receberam sua cura e seus milagres.

Não siga o meu mau-exemplo de vinte anos atrás... Não tente ser quem você não é, como num Orkut ambulante, mas mostre-se sem maquiagens ou máscaras para as pessoas com quem anda. Jesus te ama como você é e não como você acha que deveria ser , entretanto, se há comportamentos seus dos quais você mesmo se envergonha,peça a ajuda de Jesus e esforce-se, pois Ele está vivo e ajuda todos, inclusive você.


Luciano Maia, originalmente postado em Café com Deus.

sábado, 25 de setembro de 2010

Quem quer cair em tentação?


Se eu tenho permissão para fazer algo, aquilo não me é uma tentação, posto que somente sou tentado por aquilo que “não” posso ter, ver ou fazer. Se não posso é porque alguém me proibiu ou disse que é errado.
Se não é “errado” nem proibido, desejar, ver ou fazer , logo, não é uma tentação. Portanto, a tentação é algo que pode ser criada. Criamos tentações quando proibimos coisas. A Lei de Moisés era proibitiva, criando, pois, tentações. A Lei de Cristo é a Graça: liberdade no Espírito. Se tenho liberdade, não tenho tentações.

Paradoxal e, como diriam alguns pastores: “perigosa esta linha de raciocínio – não vamos dar liberdades para não termos problemas com ela”. Mas não dar liberdade é sair da Graça de Cristo e retornar à escravidão das leis mosaicas.

Pela Lei da Graça que hoje opera (nas pessoas que são “nascidas do Espírito”) todas as coisas são lícitas, não obstante, nem todas convêm. Porque não convém?

O que não convém?

O que não convém está relacionado ao amor ao próximo. Se o que me é lícito fazer irá prejudicar alguém em algum lugar do planeta, não devo mais fazer. Não porque eu não possa fazer, mas porque devo amar o outro e, por amor altruísta – não pela lei – deixo de fazer coisas que me dão prazer, me alegram e me são lícitas, simplesmente para não prejudicar outros.

Alguns poderiam perguntar: “Mas, deixo de fazer isto ou aquilo não é para ser salvo?”
A resposta é um retumbante: NÃO! Não somos salvos pela lei nem pelas nossas obras boas. A lei mata e o Espírito da vida. Somos salvos e aceitos por Deus não pelo que nós somos, mas pelo que Ele é! Somos salvos pela Graça de Deus, não pelas nossas boas ações!

Assim, acabamos por dar um tipo de definição para o pecado, que é prejudicar o próximo.
Não! O pecado não é prejudicar Deus, posto que a Deus ninguém prejudica, no máximo, por Ele podemos ser abençoados ou prejudicados. Ele não depende de nós, de nossa crença, de nossas teologias, de nossa defesa em favor d'Eele e nem de nossa devoção. Estas coisas são importantes para nós, homens vacilantes, que carecemos de identidade.

Pecado não é problema para Deus. Todos os pecados já estão perdoados. Ou não estão? Deus não vê mais os nossos pecados, pois eles já foram pagos por Cristo e lançados no mar do esquecimento.
Deus não vê o “nascido de novo” pela lente do pecado, mas pela lente da Graça. Para Deus os que crêem estão limpos. Infelizmente poucos de nós temos esta capacidade de acreditar no Evangelho e aceitar que fomos perdoados, preferimos crer que temos que "pagar algum preço" ou fazer algum "sacrifício" para sermos aceitos ou merecedores de um “presente” de Deus, que chamamos de salvação. Mas não, gente, é de graça mesmo!

Para piorar este cenário de dúvidas, alguns líderes religiosos estão constantemente ensinando um Evangelho que não é o Evangelho da Graça, mas o diabólico Evangelho do Mérito, por meio do qual sempre é dito: “Cuidado que Deus castiga! Não toque nisto! Não beba aquilo! Feche os olhos! Dê dinheiro! Morra!”

Postado em Café com Deus, por Luciano Maia.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ser Cristão?


Certa vez o frei Leonardo Boff perguntou para o Dalai Lama: “Qual é a melhor religião?” Ele respondeu: “A melhor religião é aquela que te faz melhor”. Boff retrucou: “O que me faz melhor?” Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapagado, mais amoroso, mais humanitário e mais responsável, a religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião”.

Concordo com a resposta do Dalai Lama, aliás, eu penso que essa foi a resposta de Jesus, esse foi o foco do ministério de Jesus, Ele andou proclamando uma mensagem com o desejo de que essa mensagem produzisse um tipo diferente de pessoas. Jesus não falou em levar pessoas para o céu, Jesus falou sobre trazer o céu para a existência.

Você me pergunta: você acredita que iremos para o céu? Sim, acredito. Não sei como será, não sei onde é, não sei nada a respeito do céu, mas sei que iremos pra lá um dia.

Essa mensagem que diz: “Aceite a Jesus, siga as regras do cristianismo e você vai passar a eternidade no céu” é uma redução ao evangelho, porque se concentra em dizer que a mensagem de Cristo entra em ação no dia da morte. Coisa triste pensar assim, deixamos de experimentar os valores do reino que geram razão, alegria e força para viver, e passamos a viver cumprindo um apanhado de regras para ir pro céu.

Jesus fala para as pessoas de um jeito de viver e não de uma vida bem sucedida pós-morte, ele convoca a uma postura pro agora, uma decisão para existir com saúde espiritual. Céu é consequência, é depois.

A espiritualidade cristã pressupõe avaliação, pressupõe auto-crítica, convoca os seguidores de Cristo a tomarem cuidado para não perder a alma.

Pense:

Você é livre e Cristo quer que você use sua liberdade para produzir vida.

Você tem a vida sob os seu cuidados. Quem toma as decisões é você. Quem decide o pai que você é? Quem determina a maneira que você trata seus empregados ou seus colegas de trabalho?

Deus não traçou seu caminho já com tudo decidido e tudo encaminhado. Não, é sua a responsabilidade de zelar por aquilo que você está fazendo, é você quem tera que lidar com as consequencias dos seus atos.

A bíblia mostra que somos livres, quando nos convida a uma postura, quando nos convoca a encarmos nossas responsabilidades, o fato de Jesus pregar, falar para mostrar o valor da coisas revela que você pode ir por outros meios, você tem como decidir isso, a vida é sua.

João Batista pregava o evangelho convocando a transformação de idéias, aquilo que o Ronald Sider chamou de expansão de consciência.

A biblia diz que onde o Reino de Deus acontece há perdão de pecados, mas não é só isso, não é simplesmente aceitar esse perdão e continuar com a mesma vida adultera, materialista, racista e egoista de antes, porque se não houver esse tipo de transformação é porque você ainda não experimentou uma salvação existêncial que muda a maneira de pensar e a vida é um verdadeiro inferno.

Creio que ser cristão é entrar numa dinâmica relacional, onde confessamos Cristo como nossa verdade e essa verdade começa a infiltrar em todas as áreas da nossa vida e assim somos dia a dia moldados a imagem de Jesus até que seremos como Ele é, nesse dia seremos revestidos de toda a verdade e um verdadeiro céu acontece no coração.

Autor: Villy Fomin, disponível em Emeurgência.

Conselho aos Jovens


O livro de Eclesiastes nos faz recomendações aparentemente contraditórias. Sim, porque de um lado se recomenda que o jovem recreie seu coração, ande por caminhos que agradem aos olhos e que satisfaçam o coração. Então, depois desse estímulo, aparece uma frase que diz: “Sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá conta”.

Ou seja: diz que se deve recreiar a alma, escolher o caminho belo, e agradar o coração, para então depois chamar a atenção para uma possibilidade quase nunca considerada nesta existência, que é a de que é possível se divertir saudavelmente, apreciar o que é bonito, e agradar a própria alma, sem fazer disso algo que necessariamente seja mal.

Afinal, Deus pedirá conta um dia de cada ato do ser... Mas, tal fato, não tem que ser visto como um convite à evasão de tudo o que possa significar alegria. Por esta razão o texto prossegue estimulando o jovem a experimentar as boas alegrias e os bons prazeres.

Assim, a recomendação é para que o jovem não se iluda com as falsas alegrias, nem com as belezas que não alimentam também a alma, e com as satisfações que não completam o ser.

Portanto, se diz: “Afasta, pois, de teu coração o desgosto e de tua carne a dor, porque a juventude e a primavera da vida são vaidade”. E prossegue recomendando que se faça isto “antes que cheguem os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer”.

Desse modo o equilíbrio da revelação da sabedoria nos põe no caminho do meio na existência, afastando-nos dos pólos e dos exageros em tudo. Infelizmente, na maioria das vezes, a juventude é desperdiçada no jovem!

É por esta razão que se passa da vida do jovem..., e se diz: “... antes que venham os maus dias...”—; fazendo-se, então, uma descrição de como pesa a vida de um velho. Sim, porque a velhice em si é canseira e enfado. Porém, quando o velho foi um jovem que desperdiçou a sua juventude no desgosto e na dor, sua idade avançada será amargurada e triste.

Desse modo, o que o Eclesiastes pede é que aqueles que, na juventude, se alegram, o façam com alegria verdadeira; e não com as euforias que só geram, ao final, desgosto e dor. Daí o apelo: “Afasta de teu coração o desgosto e de tua carne a dor...”

Ora, o estranho é que as maiores dores e desgostos que alguém pode carregar vida afora, em geral, são aqueles que decorrem de uma juventude que se desperdiça na insensatez do jovem empolgado com a primavera da vaidade. Assim se fica sabendo que a verdadeira juventude não é irreflexiva e nem inconseqüente!

Entretanto, o conselho da sabedoria não está na evasão da alegria, mas na educação dela; de tal modo que nenhuma alegria seja a vereda do desgosto, da descrença e do cinismo; e, nem tampouco, seja algo que consuma a carne com desgastes que não se tornarão em capital de bem estar para o futuro.

Hoje, quanto mais vejo a moçada tratando sexo como “hot-dog” e vejo a proliferação de “ficadas” que só deixam para trás o imperceptível desgaste de alma (fruto da troca de energias espirituais que não são boas) —, penso que nunca foi tão importante que se creia — e apenas se creia com base na saúde proposta na sabedoria divina, e não em nenhuma “moral exterior” — no quão danosas são para o ser (da carne ao espírito), essa cultura de desgosto e dor que se espalha pela terra.

Sim, porque no final, não é apenas questão de botar uma camisinha ou tomar um contraceptivo feminino, transar, lavar, botar a calcinha ou a cueca, bater um bom papo sobre a cama-coisa-nenhuma, e pensar que isso é apenas massagem erótica, e nada além disso.

Na realidade, conforme tenho dito, um casal que deseja ter uma vida juntos, tem que tecer tal existencial de modo processual, pois as coisas do amor não são automáticas, mas tecituras de gestos feitos no cotidiano e no tempo, um dia depois do outro.

Entretanto, conforme Paulo, a “fortuidade” existencial, como o unir sexualmente des-significado com alguém, gera um espírito, um outro termo, uma alteração na essência da pessoa; pois, tudo o que não é amor, é automático para o mal, produzindo transferências de natureza estranha, e, por vezes, deixando na pessoa uma sombra que, na maioria das vezes, ela não sabe nem mesmo de onde veio.

Isto sem falar que a opção por alegrias sem significado des-significam o ser; o que gera desgosto e dor de natureza psicológica e existencial.

Nestes dias, percebo que a grande dor humana já não advém do sentimento de “repressão”, como aconteceu nos séculos que nos antecederam. Prova disso é que a doença feminina por excelência, era a histeria, a qual é quase sempre o resultado da repressão, especialmente a de natureza sexual. Hoje, todavia, a histeria deixou de ser a grande vilã das angustias da alma, e se vê o crescente domínio da “Síndrome de Pânico”, tanto em homens como em mulheres; a qual (a Síndrome) produz sentimento de desamparo, orfandade e solidão.

Assim, quanto mais as pessoas se dão, mesmo que livres da repressão, sem o saberem, viajam para o pólo oposto, que é o da solidão e o do abandono. Desse modo, o convite divino é para que a alegria seja verdadeira, o belo carregue sentido e significado, e para que o que chamamos “satisfação”, não seja auto-engano, mas verdade boa para o ser. Não adianta tentar viver em qualquer dos dois pólos... Ninguém consegue neles encontrar vida.

Aliás, é Paulo que, aos Gálatas, diz que não se deve tentar viver nem sob as repressões da Lei e nem tampouco na Libertinagem e seu poder de introjeção; pois, no primeiro caso, a alma mergulha no desgosto de nunca ter sentido nenhum gosto; e, no segundo caso, ela se abisma no mundo das diversidades que criam legiões de espíritos e de sentimentos herdados pela alma em razão do excesso de trocas des-significadas.

Portanto, aproveita tudo aquilo que aproveita-aproveitar; e não te percas na multidão de prazeres que são apenas a injeção do desgosto e de dor de corpo-imagem na alma.

Todo aquele que desconhece tal equilíbrio, não importando o pólo no qual viva, experimentará muito desgosto e muita dor nesta existência; desperdiçando a força da juventude enquanto é jovem; e apenas acumulando para si os pesos de amarguras e de dores de ser que se estocam para os anos dos quais se diz: “Não tenho neles prazer!”

Pense nisto!

O autor do texto é Cáio Fábio
Postado originalmente em Cáio Fábio.net

Terra Média, Nárnia e a quenga


Se você leu O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia (ou mesmo, assistiu os adaptações para o cinema), deve ter notado a semelhança entre os míticos personagens. Isso não é coincidência: J.R.R. Tolkien e C.S.Lewis, respectivos autores das obras, foram contemporâneos, colegas de profissão na mesma faculdade, se reunindo com um pequeno grupo de amigos,nas horas vagas, em um pub - os inklings - para um happy hour e discutir sobre personagens mitológicos.

Nárnia se distingue da Terra Média em muitos aspectos.

Quando se lê o Senhor dos Anéis, se distingue bem onde ficam os lugares ruins e perversos dos locais bons e agradáveis. Mordor era o inferno, Rohan era a guerra, o lar dos hobbits, o lugar de descanso e infância. Os elfos são o mistério e o mágico.

Já Nárnia parece sempre ensolarada e bela, e vai se deteriorando, tornando-se árida com o desenrolar da trama, até o desfecho apocalíptico, místico e transcendente.

Outra grande diferença é que é fácil identificar os mocinhos dos vilões para os lados da Terra Média, os maus são feios, fétidos, selvagens, asquerosos, os bons são heróicos, lindos, caridosos e altruístas.

Em Nárnia existem diferentes raças de seres místicos convivendo, e não se distingue pela aparência a maldade ou a bondade dos seres: há faunos, minotauros, harpias, animais falantes, anões, filhos de Adão e Calormanos, bons e maus, não necessariamente nesta ordem.

Esse sempre foi um detalhe que tornou Nárnia mais aceitável e real, em minha opinião. A Terra Média é mais densa, obscura, detalhada, sufocante, mas a vida real não distingue na aparência dos que são e os que não são.

Após cumprir meu turno, fui para a estação, vazia pela hora, aguardar a saída de meu ônibus. Uma moça da idade de meu primogênito era a única da fila naquele momento. Encolhida, parecia deslocada. Sua aparência era frágil, bermuda curta, cabelos negros esvoaçados em um rosto branco e assustado, pequena, magra, eve. Demorei a perceber o quanto ela parecia perdida, desviando o olhar de tudo a sua volta, procurando de quando em vez em meu rosto alguma familiaridade. Sinceramente, naquela noite estava interessada em meu livro, e meus pensamentos logo se concentraram na leitura assim que a condução partiu.

O perfume forte e doce demais inundou o ônibus, mesmo eu sentado nos últimos bancos e a moça isolada, silenciosa, no banco da frente, antes da catraca, por onde sairia na metade do percurso, meia hora depois.

Distraído, vi quando a menina desceu e entrou em um prostíbulo chique da av. Vergueiro.

Ela não tinha cara de puta. Não estava descrito em seu semblante antes de vê-la se era um orc, um elfo, um calormano. Não consegui matar a charada, ver naquela mocinha a capacidade de passar sua madrugada a disposição daquele que pagar, independente da tara, do apetite, do cheiro.

Ela era filhinha de alguém. Para alguns, uma vagabunda que gosta do que faz, para outros, alguém que precisa de Deus, mas que as mulheres orarão para que se converta longe de seus maridos. Outros ainda, muitas vezes familiares, desejarão que ela suma, ou morra.

Muitos personagens poderiam ser vistos naquela pequena mulher.

Para pessoas como eu, um trecho de uma noite qualquer, quando voltava de um dia extenuante de trabalho.

Eu, que na minha indiferença, poderia muito bem parecer com um orc horrendo diante da possibilidade de falar-lhe palavras de esperança que levo comigo, e não fiz. A pequena menina, juvenil como uma elfa, poderia ser chamada de diaba, mas jamais identificada assim em seus olhos tristes.

Só a culpa dela mentia. Fazia com que ela acreditasse que todos soubessem de sua vileza.

Autor: Zé Luís via Cristão Confuso

domingo, 29 de agosto de 2010

Hero - Superchick



Veja, pense e aja.

Ninguém se senta com ele, ele não se encaixa
Mas nós sentimos como se fizessemos quando tiramos sarro dele
Porque você quer pertencer, você vai em frente?
Porque a dor dele é o preço para você pertencer
Não é porque o odiamos ou queremos que ele morra
Mas talvez ele vá pra casa e pense em suicídio
ou volte pra escola com uma arma ao seu lado
e uma gentileza sua talvez tenha salvado a vida dele

Heróis são feitos quando você faz uma escolha!
Você poderia ser um herói
Heróis fazem o que é certo
Você poderia ser um herói
Você talvez salve uma vida
Você poderia ser um herói, você poderia se juntar a luta
pelo que é certo, pelo que é certo, pelo que é certo

Ninguém fala com ela, ela se sente tão só
Ela sente muita dor para sobreviver por si só
Os machucados que ela não pode segurar transbordam numa faca
Ela escreve no seu braço, quer desistir da sua vida
Cada dia que ela segue em frente é um dia em que ela é forte
Lutando contra a mentira em que desistir é o jeito,
Cada momento de coragem é sua própria vida que ela salva
Quando ela joga fora as pílulas um herói é feito
[Refrão]

Ninguém fala com ele sobre o modo como ele vive
Ele pensa que as escolhas que ele faz são só dele
Ele não sabe que é um líder cujo caminho ele lidera
E outros vão seguir as escolhas que ele fez
Ele vive na borda, ele tem idade suficiente para decidir
O irmão dele que quer ser ele só tem nove anos
Ele pode fazer o que quizer porque é seu direito
As escolhas que ele faz mudam uma vida de nove anos de idade

sábado, 28 de agosto de 2010

Quem Você Segue?



   Em nossa caminhada de vida cristã muitas vezes acabamos “perdendo-se” pelo caminho, podemos até não perder o caminho mas estamos trilhando pelo terreno errado. Através da nossa rotina de sempre ir à igreja, ouvir pregações, ler a bíblia entre outras coisas ditas religiosas (não ouvir isso, não falar aquilo e não agir daquela outra forma) acabamos que nos tornando muitas vezes religiosos hipócritas, isso mesmo, aqueles a quem Jesus vociferou as palavras de maior repugnância. Quem nunca esteve numa conversa com pessoas do “mundo” e pensou: “Ah! Ainda bem que não sou como essas pessoas.” Talvez não tenha pensando necessariamente isso mas no fundo tinha o mesmo significado. Ou talvez em determinados momentos achamos que somos os donos da verdade e que por conhecer a “vontade de Deus” e estar na igreja somos melhores que os outros ou ainda que podemos julgar a atitude de outras pessoas. Certos pecados nós toleramos sem problema algum e convivemos sem problemas: a ganância de algumas pessoas, a soberba de alguns que se acham melhores que o outro, o irmão que vive mentindo e enganando outras pessoas, a fofoca e os julgamentos que nosso amigo(a) faz de outras pessoas que muitas vezes, na maioria delas, são seus irmãos na fé, a total falta de humildade de outros. Vivemos nossas vidas achando que somos superiores e melhores do que os outros pois “conhecemos a verdade” ou porque não fazemos aquelas coisas más que as pessoas do “mundo” fazem.
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Mateus 23:27
   Eu já fiz tudo isso várias vezes. Quando a pregação é sobre assuntos como: homossexualismo, sexo antes do casamento, baladas entre outras, saí de baixo porque lá vem bomba. O irmão que vive mentindo e enganando muitas vezes as pessoas que “ama” nós aceitamos numa boa, mas ai de nós se ver um casal de homossexuais... Vivemos falando “Não existe pecadinho ou pecadão!” mas na prática julgamos sim alguns pecados como piores do que outros. Em situações diferentes ouvimos pessoas fazendo fofocas totalmente destrutivas e aceitamos numa boa, mais se descobrir que o casal de namorados vai ter um filho, saí de perto: que absurdo! Esses são só alguns exemplos de atitudes hipócritas e falsas que temos, mas existem diversos outros casos. Como Phillip Yancey falou em algum dos seus livros que eu já li, nós toleramos sem problema o divórcio, assunto sobre o qual Jesus manifestou-se claramente no novo testamento, mas quanto ao homossexualismo não podemos nem ouvir falar que já tacamos pedras mas Jesus não falou uma palavra sobre esse pecado, de certa forma acabamos sendo incoerentes. 

   Mas o ponto principal que quero tratar aqui não é esse. Não, Jesus não viveu julgando as pessoas, mas amou a todas de todo seu coração para tentar dessa forma mudar e transformar suas vidas. Vamos buscar viver como Ele viveu e lembrar dos seus mandamentos mais importantes irmãos:

Mestre, qual é o grande mandamento na lei?

E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.

Este é o primeiro e grande mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. Mateus 22:36-40
   Não vamos desperdiçar nossas vidas afastando cada vez mais as pessoas de Jesus, quando perguntamos para alguém sobre o que pensa da igreja geralmente ouvimos muitas críticas. Será que estamos seguindo os passos de Jesus realmente? Será que não somos cristãos apenas no falar mas na prática somos o oposto? Através da nossa vida estamos realmente resplandecendo o amor de Cristo?

   Essas palavras não são de julgamento ou acusação amigo, mas de amor. Não pretendo acusar ninguém com isso mas apenas abrir nossos olhos para qual é o verdadeiro e correto caminho para os que querem seguir Jesus. Se tento julgar alguém é apenas eu mesmo pois na maioria das vezes não faço isso que falei, mas busco com todas minhas forças e peço ajuda do Pai pra fazer a Sua vontade. Ore também ao Senhor Jesus e peça forças pra viver a vida fazendo a vontade Dele, sempre buscando amar o próximo e dessa forma tentar resplandecer a luz nas trevas. Eu tenho certeza que pelas nossas próprias forças jamais vamos alcançar esse objetivo, mas Cristo vive em nós e nada é impossível para Ele. Desejo a todos nós o desejo de buscar uma vida assim e também a orientação de Deus para poder alcançá-la.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

To Save a Life


    Vi  esse filme agora e fui obrigado a vir aqui compartilhar com vocês. Esse filme é único, diferente de vários filmes cristãos que já vi, não melhor nem pior mas muito especial. O filme mostra o quanto nós podemos e precisamos fazer diferença nesse mundo, como as pessoas precisam de amor e compreensão. Muitas vezes vivemos nossa vida pensando só nos nossos problemas e dificuldades e esquecemos do nosso próximo que precisa urgentemente de nossa ajuda e carinho, esquecemos de olhar para fora e olhamos apenas para o nosso interior. Esse filme nos lembra de que podemos fazer a diferença nesse mundo mesmo que talvez pensemos que nossa vida não é um exemplo ou não temos capacidade, mostra que quando buscamos a felicidade e o bem para os outros a consequencia é também o nosso crescimento pois Ele nos guia. Não preciso falar muito mas apenas peço que não deixem de ver esse filme, vejam e deixem ser transformados, busquem e peçam a Deus que através da sua vida Ele transborde o Seu amor incondicional nesse mundo. Precisamos constantemente ser acordados de nossa vida centrada no eu, temos que olhar ao nosso redor, existem pessoas que precisam muito do amor de Deus, que preenche toda a nossa vida e nos traz paz. Que cada um de nós possa ser transformado a cada dia, rumo ao nosso alvo: JESUS!

Deus seja louvado para sempre, toda honra e toda glória ao Seu nome, amor incomparável, incondicional, inesgotável maravilhoso!

Nos guia Pai!

Jesus dis: O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. João 15:12


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Riqueza Vazia


   Para o rabi de Nazaré ser rico e ganancioso não é conduta especialmente corrupta ou perversa – está mais para o imbecil. Porque, ele ousa argumentar, correr atrás do material impede-nos precisamente de desfrutá-lo. O mais rastaqüera lírio do campo ostenta guarda-roupa mais exuberante do que o de Salomão; os pássaros banqueteiam-se e empanturram-se com mais gosto do que Herodes. Um pão de queijo no pé da serra desbanca o mais irretocável Boeuf Bourguignon. Uma caminhada ao lado de quem se ama sobrepuja o interior vazio de uma Ferrari. Um pé descalço é mais feliz do que o calça Mr. Cat. E assim por diante.

Texto de Paulo Brabo, disponível em www.baciadasalmas.com

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Evangelismo Simples de Jesus


Patrick Dugan

  Cinco anos atrás me mudei para um novo bairro. Logo que cheguei à Rua Lajeado, pensei em evangelizar nossos novos vizinhos. Claro, sendo eu um missionário veterano, saberia muito bem o que fazer... (Que nada!) Como “religioso profissional”, já atravessara o Brasil e até outros países para evangelizar. No entanto, para minha vergonha, nunca havia ganhado nem um vizinho para Cristo. Lia os livros sobre evangelismo e mergulhava nos textos sobre crescimento da igreja. Porém, no meio de tanta complicação, desenvolvi algumas atitudes, certos hábitos e “síndromes”, que me afastaram do evangelismo simples de Jesus.

   Minha falta de sucesso em evangelizar os vizinhos tem me levado a refletir sobre a forma tão humana e simples com que Jesus se relacionava com as pessoas no seu trabalho missionário. É claro que, dependendo da situação, Jesus agia com rigor.

   No dia-a-dia com os vizinhos, precisamos aprender da simplicidade de Jesus. Um texto que tem me impressionado muito é o de João 1.35-50, no qual encontramos as primeiras atividades evangelísticas de Jesus. Certamente é uma passagem que devemos estudar com cuidado. Nela, notaremos quatro características do evangelismo simples de Jesus que podem nos livrar de algumas “síndromes” complicadas e nos encorajar a imitá-lo. Tenho procurado seguir o modelo, e, para minha alegria, na Rua Lajeado, já está começando a funcionar!

O diálogo

   As primeiras palavras evangelísticas de Cristo, registradas na Bíblia, foram: “O que vocês querem?” Oh, foi uma pergunta!

   João Batista estava na companhia de dois discípulos quando viu Jesus passar. Na hora ele disse: “Eis o Cordeiro de Deus!” Os dois discípulos, ouvindo isso, seguiram Jesus. E este, que não somente sabia toda a verdade, mas é a Verdade, voltando-se para eles, lhes fez uma pergunta, um convite para o diálogo.

   Eu, e talvez você também, fomos orientados a pensar em evangelismo como um monólogo. Eu tenho a verdade, o meu vizinho não a tem. Eu falo e ele escuta. Certo? Um bom evangelista é aquele que fala bem. Não faz muitas perguntas. É especialista em respostas. Só que, muitas vezes, isso não funciona. Especialmente quando se trata dos nossos vizinhos.

   A postura de conhecedor, de superior, é impessoal e ofensiva às pessoas. Um dos moradores do nosso bairro desabafou um dia:

   “Não entendo esse pessoal. O cara chega ao meu portão e dispara a falar que nem metralhadora. Não sei se ele tem um número de pessoas para evangelizar por dia, ou se ganha dinheiro com isso, ou sei lá o quê...”

   Eu não tive como lhe responder.

   Quando adotamos o método de evangelismo ao estilo “monólogo”, descobrimos que as pessoas não nos escutam. Nem fizemos a metade da nossa apresentação e aparecem os bocejos e os sinais de aborrecimento e de cansaço. Então passamos a falar mais alto ou mais enfaticamente.

   Jesus começou sua carreira missionária com uma pergunta. Quem sabe, se seguirmos esse exemplo simples dele e começarmos a fazer perguntas e a ouvir respostas, quebraremos a “síndrome do monólogo” e ganharemos o direito de sermos ouvidos?

O processo

   No texto citado, Jesus tem encontros rápidos e transformadores com vários jovens. Entretanto nem tudo foi tão instantâneo... Eram instantes em um processo. Esse processo começara havia mais de vinte anos na formação religiosa daqueles jovens judeus, culminando anos depois em maturidade e em um honrado apostolado. Mesmo na ocasião em que deram os primeiros passos, levaram ainda alguns meses até se decidirem por seguir a Jesus definitivamente (Mt 4). O encontro com ele era um momento crucial, com certeza, mas fazia parte de um processo.

   Aqui encontramos outra “síndrome” que nos afasta da simplicidade de Jesus e nos causa muita ansiedade. Achamos que é nosso dever levar as pessoas a uma decisão imediata. Temos a idéia de que, se encontrarmos a palavra certa, se tivermos uma unção mais poderosa ou uma técnica mais apurada, a pessoa irá se render aos pés de Jesus imediatamente.

   Na Rua Lajeado, minha tarefa não é ganhar todo mundo “de uma tacada só”. Preciso de sabedoria para discernir em que posição as pessoas se encontram nesse processo, e ajudá-las a dar o passo seguinte. Nem sempre aquela é a hora de ganhar a pessoa. Alguns vizinhos têm necessidades físicas que precisam ser atendidas primeiro, e outros carecem de bons modelos para se sentirem motivados. Em determinados casos, será necessário derrubar as barreiras intelectuais. Tenho vizinhos que precisam de libertação espiritual, porque tiveram envolvimento com o espiritismo. Muitos necessitam de oração. É bom dar-lhes um pouco de tempo. Assim o coração deles pode amolecer a ponto de reconhecerem sua necessidade de Deus. Chegará a hora da persuasão, do confronto e da decisão, mas nem sempre o dia é hoje.

   Sem pressão, sem necessidade de mostrar serviço, preciso fazer minha parte... e você, na sua rua, fazer a sua. Como Jesus, com muita simplicidade, precisamos discernir em que etapa a pessoa se encontra em seu “processo”, e ajudá-la a seguir adiante. Devemos procurar ser amigos, dar bom exemplo, emprestar um livro, explicar a Bíblia, oferecer oração, ou convidar para ir à igreja. Acompanharemos a cadência do trabalho do Espírito na vida do vizinho.

O tratamento individual

   Nos versículos 29 a 51, podemos observar as diversas formas que Jesus usou para chamar aqueles homens para segui-lo.

Vejamos como o chamado é diferente para cada pessoa:

– João Batista recebe uma revelação vinda diretamente de Deus (vv. 29-34).

– André e o outro discípulo passaram o dia com Jesus (v. 39).

– Simão Pedro, levado pelo irmão, encontra-se com Jesus e este muda-lhe o nome (vv. 40-42).

– Jesus encontra Filipe e lhe dá uma ordem: “Segue-me” (v. 43).

– Natanael, depois de ouvir Filipe, aproxima-se de Jesus cheio de dúvidas e se rende diante do conhecimento sobrenatural dele (vv. 45-51).

   Precisamos deixar Jesus trabalhar de forma singular na vida das pessoas. Às vezes tentamos ser mais organizados do que Deus! Levanta-se a “síndrome da metodologia”. Somos fascinados por categorias, métodos e fórmulas. (Quatro temperamentos, sete tipos de inteligência, quatro leis espirituais...) Mas o fascínio de Deus é para cada pessoa, individualmente. O importante não é onde elas fizeram o compromisso ou o que elas disseram, mas o resultado final, se o indivíduo se arrependeu dos pecados, exerceu fé em Jesus e se relaciona com ele.

   É como nas histórias de amor e casamento. Cada uma é diferente. Um amigo meu viu aquela que seria sua esposa no outro lado de uma sala e disse consigo mesmo: “É ela”, e pronto. Outros cresceram juntos na mesma rua, e a amizade tomou um rumo diferente. Alguns fizeram da cerimônia um espetáculo suntuoso. Já outros se casaram na sala da sua humilde casa. Mas o importante é que todos vivam um relacionamento de amor.

   No reino de Deus é assim também. Alguns não sabem a hora em que fizeram a decisão, foram batizados da forma “errada”, não tiveram um discipulado formal, ainda não conseguiram deixar de fumar, e são discípulos de Cristo. Por outro lado, há pessoas que sabem o dia da conversão, dominam o vocabulário evangélico, foram batizados por imersão e falam em línguas estranhas, mas não demonstram as marcas de um discípulo de Jesus.

   As pessoas da Rua Lajeado não entrarão no reino de maneira idêntica. Daqueles que já se decidiram,cada uma vem por um caminho próprio. O primeiro homem a se converter, angustiado por uma separação conjugal, leu um livro sobre perdão e depois se decidiu em um culto público. Outra vizinha, após receber oração por uma enfermidade, orou sozinha e falou que “nasceu de novo”. O marido dela vem acompanhado-a, devagar e sempre. Mãe e filha oraram em minha casa junto com minha esposa. Cada uma foi a Jesus de forma diferente,mas vivem hoje um relacionamento com ele.

Os Relacionamentos

   É interessante notar no texto de João o importante papel dos relacionamentos nas primeiras conversões a Jesus.

Vejamos a seqüência:

- João Batista era primo de Jesus.

- João indica Jesus a seus discípulos, e um destes era André.

- André apresenta Pedro.

- Filipe, da mesma cidade e provavelmente um conhecido da turma, leva Natanael.

   Parece que complicamos muito essa forma simples de Jesus que aproveitava os contos naturais. Esquecemo-nos de que até hoje a maioria das pessoas vem para Jesus por meio de relacionamentos, talvez até em 80% dos casos, segundo alguns pesquisadores.

   Nos dias de hoje, somos acometidos pela “síndrome da mídia”. Estamos cada vez mais envolvidos com tecnologia. É rádio, televisão, telemensagens, publicações, placas luminosas e agora a Internet. E enquanto estamos comprometidos com projetos mirabolantes, não cultivamos relacionamentos – com parentes, amigos, colegas de trabalho e vizinhos – que oferecem maior potencial para a evangelização.

   Com certeza Jesus ganhou pessoas nos encontros casuais que teve através das pregações que fez às multidões, e não duvido de que aproveitaria a mídia atualmente. Porém, nesse primeiro episódio missionário dele, como na maioria dos casos hoje,o evangelho se alastra por meio de relacionamentos. Olhemos para nossa experiência. Qual foi a influência principal no processo de aceitarmos a Cristo? Uma família? Um colega da escola ou do trabalho? Um vizinho? Façamos uma pesquisa entre os membros da nossa igreja. Ficaremos surpresos. Na sua grande maioria, as pessoas foram alcançadas por meio de relacionamentos.

   Isso quer dizer o quê, para mim, que moro na Rua Lajeado? Que preciso aprender a me relacionar melhor com os não-cristãos da minha rua. Meu maior desafio não é aperfeiçoar minha técnica evangelística, mas me relacionar com naturalidade e amor. Meus vizinhos não são “escalpos” ou troféus para provar minha espiritualidade. São pessoas de inestimável valor, portadoras da imagem de Deus. Eu também sou humano. Preciso me relacionar com eles não como pastor, nem guru, mas como um homem frágil que foi transformado por Jesus. Aqui no Sul isso significa tomar chimarrão e jogar conversa fora (bater um bom papo) Requer tempo para conversas na frente de casa sobre serviço, política e cortadores de grama. Para as mulheres, uma xícara de açúcar emprestada e o chá para curar uma gripe é o caminho. É mostrar interesse pela pessoa como pessoa, não como “alma”. Usando a ponte de relacionamento, mais pessoas virão a Jesus.

   O evangelismo simples de Jesus me ajuda a ver com mais clareza o que Deus quer de mim, ali na Rua Lajeado.

Por envolver diálogo, preciso me preocupar em fazer perguntas e esperar as respostas;

Por ser um processo, não preciso me apavorar em chegar ao alvo imediatamente;

Por ser individual, minha preocupação não deve ser com os detalhes de um método perfeito, mas deve ser levar as pessoas a um relacionamento com Deus;

Por ser relacional, minha tarefa é construir pontes de amizade.

   Só agora, no final destes primeiros cinco anos em que moro na Rua Lajeado, é que estamos vendo alguns resultados. Cada terça-feira nos reunimos em uma casa diferente para um estudo bíblico, e assim vamos revezando. Somos aproximadamente vinte pessoas. Algumas já se posicionaram e estão se integrando à igreja local. Outras ainda se encontram com um pé atrás. Entretanto estou mais tranqüilo, porque sei que Deus quer de mim um evangelismo simples... como o de Jesus.

(in Revista Mensagem da Cruz - Patrick Dugan reside em São Leopoldo, RS. É missionário norte-americano e um dos diretores da Editora Betânia. E-mail: patrick.bernard@terra.com.br)

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