quinta-feira, 24 de março de 2011

A Cruz e Cristo

    A cruz sempre cumpre sua finalidade destruindo um padrão estabelecido, o da vítima, e criando outro padrão, o seu próprio. Assim, as coisas sempre saem como ela quer. Ela vence ao derrotar seu oponente e impor sua vontade sobre ele. A cruz sempre domina. Nunca entra em acordos, nunca faz trocas nem concessões, nunca cede um ponto a favor da paz. Ela não se importa com a paz; importa-se apenas em terminar mais rapidamente possível a oposição contra ela.

    Com perfeito conhecimento de tudo isso, Cristo disse: 'Se alguém quiser vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me'. Então, a cruz não somente trouxe um fim à vida de Cristo, mas também à primeira vida, a vida velha, de cada um dos seus verdadeiros seguidores. A cruz destrói o padrão antigo, o padrão de Adão, na vida do crente e o traz a um fim. Então, o Deus que ressuscitou Cristo dos mortos, ressuscita o crente, e uma nova vida começa.

Isso, e nada menos, é o verdadeiro cristianismo.

Devemos fazer algo em relação à cruz. E só podemos fazer uma de duas coisas - fugir da cruz, ou morrer nela 



John MacArthur, em seu livro, "O evangelho segundo os apóstolos". Editora Fiel.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O problema do materialismo

   Mafalda e Miguelito, assim como chamo os gatos lá em casa mas nem lembrava de onde tinha tirado esse nome.

   A minha cisma com o materialismo não é “apenas” porque excluí de plano a existência de qualquer coisa que não seja tangível, como a fé e Deus, o valor das histórias fantásticas, os contos e etc. coisas essas que são realmente importantes e dão um sentido e significado maior às nossas vidas. Como se não bastasse isso, o materialismo se mostra altamente destrutivo à humanidade e ao planeta. A ideologia materialista diz que tudo o que existe é o que se pode tocar, ver, sentir, ouvir ou cheirar, se não se encaixar em uma dessas situações nesse sistema fechado não vale a pena dar valor ou pior: não deve nem tomar o seu tempo, já que isso não existe... simples assim.

   Talvez essa forma de ver o mundo faça jus ao modo de vida da maioria das pessoas em nossa sociedade atual: superficial e simplista. O problema, e que às vezes nos passa despercebido, é que ao ver o mundo dessa forma só damos valor ao que é material: roupas, carros, marcas, aparência, status, dinheiro e etc. Ser bem sucedido não é ter lucidez e não se entregar à estupidez, é ter um Audi A3 como canta a banda forfun. O sujeito pode até ser honesto e decente mas se não tem posses não é alguém em que devemos nos espelhar, já o espertinho que dá um jeitinho brasileiro para enriquecer ah! Quem me dera ser tão esperto! Os valores são tão distorcidos que a pessoa que tem alguma virtude tem até vergonha do que vão dizer de sua honestidade... honestidade uma ova isso é burrice, o mundo é dos espertos.

   Estava conversando com uma colega de trabalho agora que estava lendo na internet blogs de meninas anorexas que encorajam umas às outras em sua luta para alcançar a magreza extrema. Essa colega que está se formando em psicologia me explicou que essas meninas se vêem no espelho como pessoas gordas, alucinações mesmo do nível de uma pessoa paranóica. Eu não quero dizer que apenas a nossa visão materialista de mundo é que causa isso, mas eu tenho certeza que os reflexos estão ai. Você liga a televisão e é bombardeado por propagandas que mostram que só é feliz quem consome e quem tem aquele tipo exato de forma física, seus valores ficam em segundo plano. Mulheres boas pra casar mesmo são as do tipo fruta já o homem quanto mais rico melhor.

   Ao viver dessa forma esquecemos de valorizar às coisas que realmente importam em nossas vidas: a amizade, o amor, a lealdade, a honestidade, a humildade, a generosidade, a sabedoria e também a aquilo tudo que realmente nos torna felizes e não está à venda nas prateleiras, como um abraço forte e um palavra confortadora no momento difícil e não um carro novo. A fé, o alimento da alma, é jogada pra escanteio.

   Não custa deixar claro apenas pra não gerar confusões que consumir o necessário não é nenhum problema. Algumas pessoas tem problema pois não conseguem consumir nem o alimento. O problema é quando o consumo, os bens materiais e a estética viram o nosso objetivo de vida.

E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.
 
Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.

Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?
Evangelho de Marcos capítulo 8 versículos 34, 35 e 36.

Consumir menos e viver mais

A política ambiental do Governo britânico alicerça-se no desenvolvimento de tecnologias “limpas”, mas os progressos em eficiência energética apenas aumentam as aspirações dos consumidores: “Se o meu frigorífico gasta menos energia, talvez compre um ar condicionado”. A inovação é parte da solução, mas não chega. O Governo baseia-se numa crença irracional.

O nosso sistema político baseia-se no crescimento econômico, medido através do produto interno bruto, que cresce graças ao aumento do consumo. Se as pessoas pararem de consumir, a economia vai ao fundo. A publicidade e o marketing têm como objetivo fazer com que continuemos a consumir e que os nossos filhos sigam esse exemplo.

Este sistema econômico, de custo ambiental exorbitante, está doente. O gráfico do psicólogo americano Tim Kasser ilustra-o bem. A curva do rendimento per capita está sempre a aumentar, desde há 40 anos, mas a das pessoas que se dizem “muito felizes” mantém-se estável. O desvio entre as duas curvas não pára de crescer.

O gráfico de Kasser é fonte de esperança e de inquietação. A boa notícia é que um baixo nível de consumo não é, necessariamente, sinônimo de infelicidade. Por outro lado, é preocupante ver que continuamos a consumir, mesmo que isso não nos torne mais felizes. Kasser diz que o hiperconsumo é uma resposta à insegurança, um mecanismo de adaptação destruidor. Nas últimas décadas, as fontes de insegurança multiplicaram-se.

Além das clássicas manipulações dos publicitários, economias de mercado altamente competitivas geram novas fontes de ansiedade, que vão das questões de identidade (Qual o meu papel na sociedade?) às perguntas fundamentais (Quem tomará conta de mim quando for velho?). A ligação entre materialismo e insegurança explica por que é que países tão diferentes como os EUA e a China são tão materialistas.

Este sistema é auto-alimentando. Quando mais insegurança, mais materialismo, e vice-versa. Kasser demonstrou que os valores materialistas geram angústia, tornando-nos mais vulneráveis à depressão e menos cooperativos. Certos estudos mostram que as pessoas sabem quais são as verdadeiras fontes de uma felicidade duradoura – ter relações sólidas, aceitar o que se é, pertencer a uma comunidade –, mas que uma poderosa aliança de interesses políticos e econômicos tenta desviá-las, fazendo-as trabalhar e gastar mais.

Mudar as coisas não será fácil e a transição para uma economia de baixo consumo vai demorar. O problema é que a revolução pode ter efeitos perversos, teme Kasser. A redução do consumo pode provocar instabilidade econômica e mais insegurança. E o aquecimento global também gera ansiedade, o que pode agravar a febre hiperconsumista.

Mas as coisas ainda podem correr bem. As nossas sociedades poderão adotar um modo de consumo moderado, orientado para a satisfação das verdadeiras necessidades humanas. A maioria das pessoas reconhece que se impõe mudanças no estilo de vida, mas todos esperamos que os outros dêem o exemplo.

No seu livro “Ecological Debt” [Dívida Ecológica, inédito em português], Andrew Simms aponta o papel crucial do Estado. No início dos anos 1940, o Governo britânico conseguiu reduzir o consumo, contando não só com a boa vontade dos cidadãos mas com uma vasta campanha de propaganda, aliada a um sistema de racionamento e impostos sobre produtos de luxo. Eis o que devíamos fazer, mas nenhum partido ousa propor.

Madeleine Bunting
in Courrier Internacional (edição portuguesa), Fevereiro de 2008

Originalmente publicado no jornal The Guardian, londres, em 03.12.2007

quarta-feira, 16 de março de 2011

A ansiedade das coisas

   Em tempos mais sãos do que o nosso um homem começava a sentir nostalgia quando estava avançado na terceira idade, entrevendo já a última curva da vida. Hoje em dia a nostalgia é motivo de ansiedade para todos, democraticamente; até mesmo os adolescentes, garantem-me, tem já saudades sentidas e irresistíveis dos tempos idos da infância.

   Não é na verdade coisa de se admirar, porque em tempos de mudança acelerada como o nosso muita coisa pode mudar nos três ou quatro anos informes que separam a adolescência da infância. Nostalgia é o clamor por pontos de referência que não existem mais, e na vertigem do século inúmeras referências perdem-se, transformam-se ou são substituídas em um ano ou dois, às vezes menos.

   Um adolescente pode olhar ao redor e constatar lucidamente que os programas de televisão são outros, o tipo aprovado de música é outro; os brinquedos, os filmes, os heróis – que tudo mudou desde a sua infância recente, pela qual passa a sangrar de nostalgia tão sincera quanto precoce. O mesmo é ainda mais válido para quem passou dos vinte ou trinta anos de idade; quem sobrevive vinte anos num mundo de mudança vertiginosa como o nosso é obrigado a encarar que a realidade mudou tanto a ponto de se tornar meramente reconhecível. Os pontos de referência ruíram, o vento levou, o gato comeu, e a mudança torna-se motivo de ansiedade, a velhice chega antes do meio da vida e a nostalgia consome e oprime.

   O motivo desta nota é lembrar, com inevitável nostalgia, dos tempos em que não era assim. Houve tempo em que o mundo girava sem se fazer notar e as manchas solares não causavam perturbação maior. As pessoas, conta-se, paravam para conversar e comer. Faziam coisas insensatas como serenatas e bilboquês. Nesta galáxia distante de que estou falando os seres humanos eram tão pouco materialistas que podiam dar-se ao luxo de apegar-se a coisas e, para que não tivessem que se preocupar muito com elas, as coisas eram feitas para durar.

   Com cinqüenta anos de idade um homem ganhava o relógio ou o violino do avô, e orgulhava-se de poder colocá-los em uso imediato; com setenta anos, o sujeito usava ainda a caneta ou o serrote que tinha sido do seu pai. Coisas como bengalas, máquinas de escrever, escrivaninhas e panelas, abridores de cartas e até mesmo roupas tinham a sua utilidade prolongada por gerações. Os mecanismos eram menos complexos e as coisas podiam ser eficazmente consertadas. As pessoas lubrificavam as coisas, trocavam seus cabos, lixavam e poliam.

   Como não saltavam na nossa cara exigindo serem trocadas, as coisas tinham um status menor e não eram motivo de ansiedade. Como sobreviviam às pessoas, algumas coisas transcendiam a sua condição e ficavam para sempre ligadas a um ser humano em particular: as pessoas acenavam com “o facão do meu bisavô”, “a poltrona da minha avó”.

   Hoje em dia, e sem qualquer hipérbole necessária, um sujeito de vinte anos já perdeu a conta de quantas vezes trocou de modelo de telefone celular: o seu próprio telefone celular. Salvo como curiosidade, nada sobrevive a uma geração; nada com mais de dez anos é concebivelmente útil.

   O paradoxo é que, como tudo que está disponível é tão irreversivelmente novo, tudo torna-se obrigatória e imediatamente velho. Mais do que nossos bem-intencionados avós poderiam imaginar, a abundância do novo deixou-nos cercados de coisas invariavelmente velhas e envelheceram as nossas almas. Das velhas fotografias, eles nos olham com peles e olhos mais jovens do que jamais chegaremos a ter.

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Mais uma vez um texto fora do comum do Paulo Brabo da  Bacia das Almas, isso já está virando comun agora que ando sem tempo inspiração para postar alguma coisa.