quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Evangelismo Simples de Jesus


Patrick Dugan

  Cinco anos atrás me mudei para um novo bairro. Logo que cheguei à Rua Lajeado, pensei em evangelizar nossos novos vizinhos. Claro, sendo eu um missionário veterano, saberia muito bem o que fazer... (Que nada!) Como “religioso profissional”, já atravessara o Brasil e até outros países para evangelizar. No entanto, para minha vergonha, nunca havia ganhado nem um vizinho para Cristo. Lia os livros sobre evangelismo e mergulhava nos textos sobre crescimento da igreja. Porém, no meio de tanta complicação, desenvolvi algumas atitudes, certos hábitos e “síndromes”, que me afastaram do evangelismo simples de Jesus.

   Minha falta de sucesso em evangelizar os vizinhos tem me levado a refletir sobre a forma tão humana e simples com que Jesus se relacionava com as pessoas no seu trabalho missionário. É claro que, dependendo da situação, Jesus agia com rigor.

   No dia-a-dia com os vizinhos, precisamos aprender da simplicidade de Jesus. Um texto que tem me impressionado muito é o de João 1.35-50, no qual encontramos as primeiras atividades evangelísticas de Jesus. Certamente é uma passagem que devemos estudar com cuidado. Nela, notaremos quatro características do evangelismo simples de Jesus que podem nos livrar de algumas “síndromes” complicadas e nos encorajar a imitá-lo. Tenho procurado seguir o modelo, e, para minha alegria, na Rua Lajeado, já está começando a funcionar!

O diálogo

   As primeiras palavras evangelísticas de Cristo, registradas na Bíblia, foram: “O que vocês querem?” Oh, foi uma pergunta!

   João Batista estava na companhia de dois discípulos quando viu Jesus passar. Na hora ele disse: “Eis o Cordeiro de Deus!” Os dois discípulos, ouvindo isso, seguiram Jesus. E este, que não somente sabia toda a verdade, mas é a Verdade, voltando-se para eles, lhes fez uma pergunta, um convite para o diálogo.

   Eu, e talvez você também, fomos orientados a pensar em evangelismo como um monólogo. Eu tenho a verdade, o meu vizinho não a tem. Eu falo e ele escuta. Certo? Um bom evangelista é aquele que fala bem. Não faz muitas perguntas. É especialista em respostas. Só que, muitas vezes, isso não funciona. Especialmente quando se trata dos nossos vizinhos.

   A postura de conhecedor, de superior, é impessoal e ofensiva às pessoas. Um dos moradores do nosso bairro desabafou um dia:

   “Não entendo esse pessoal. O cara chega ao meu portão e dispara a falar que nem metralhadora. Não sei se ele tem um número de pessoas para evangelizar por dia, ou se ganha dinheiro com isso, ou sei lá o quê...”

   Eu não tive como lhe responder.

   Quando adotamos o método de evangelismo ao estilo “monólogo”, descobrimos que as pessoas não nos escutam. Nem fizemos a metade da nossa apresentação e aparecem os bocejos e os sinais de aborrecimento e de cansaço. Então passamos a falar mais alto ou mais enfaticamente.

   Jesus começou sua carreira missionária com uma pergunta. Quem sabe, se seguirmos esse exemplo simples dele e começarmos a fazer perguntas e a ouvir respostas, quebraremos a “síndrome do monólogo” e ganharemos o direito de sermos ouvidos?

O processo

   No texto citado, Jesus tem encontros rápidos e transformadores com vários jovens. Entretanto nem tudo foi tão instantâneo... Eram instantes em um processo. Esse processo começara havia mais de vinte anos na formação religiosa daqueles jovens judeus, culminando anos depois em maturidade e em um honrado apostolado. Mesmo na ocasião em que deram os primeiros passos, levaram ainda alguns meses até se decidirem por seguir a Jesus definitivamente (Mt 4). O encontro com ele era um momento crucial, com certeza, mas fazia parte de um processo.

   Aqui encontramos outra “síndrome” que nos afasta da simplicidade de Jesus e nos causa muita ansiedade. Achamos que é nosso dever levar as pessoas a uma decisão imediata. Temos a idéia de que, se encontrarmos a palavra certa, se tivermos uma unção mais poderosa ou uma técnica mais apurada, a pessoa irá se render aos pés de Jesus imediatamente.

   Na Rua Lajeado, minha tarefa não é ganhar todo mundo “de uma tacada só”. Preciso de sabedoria para discernir em que posição as pessoas se encontram nesse processo, e ajudá-las a dar o passo seguinte. Nem sempre aquela é a hora de ganhar a pessoa. Alguns vizinhos têm necessidades físicas que precisam ser atendidas primeiro, e outros carecem de bons modelos para se sentirem motivados. Em determinados casos, será necessário derrubar as barreiras intelectuais. Tenho vizinhos que precisam de libertação espiritual, porque tiveram envolvimento com o espiritismo. Muitos necessitam de oração. É bom dar-lhes um pouco de tempo. Assim o coração deles pode amolecer a ponto de reconhecerem sua necessidade de Deus. Chegará a hora da persuasão, do confronto e da decisão, mas nem sempre o dia é hoje.

   Sem pressão, sem necessidade de mostrar serviço, preciso fazer minha parte... e você, na sua rua, fazer a sua. Como Jesus, com muita simplicidade, precisamos discernir em que etapa a pessoa se encontra em seu “processo”, e ajudá-la a seguir adiante. Devemos procurar ser amigos, dar bom exemplo, emprestar um livro, explicar a Bíblia, oferecer oração, ou convidar para ir à igreja. Acompanharemos a cadência do trabalho do Espírito na vida do vizinho.

O tratamento individual

   Nos versículos 29 a 51, podemos observar as diversas formas que Jesus usou para chamar aqueles homens para segui-lo.

Vejamos como o chamado é diferente para cada pessoa:

– João Batista recebe uma revelação vinda diretamente de Deus (vv. 29-34).

– André e o outro discípulo passaram o dia com Jesus (v. 39).

– Simão Pedro, levado pelo irmão, encontra-se com Jesus e este muda-lhe o nome (vv. 40-42).

– Jesus encontra Filipe e lhe dá uma ordem: “Segue-me” (v. 43).

– Natanael, depois de ouvir Filipe, aproxima-se de Jesus cheio de dúvidas e se rende diante do conhecimento sobrenatural dele (vv. 45-51).

   Precisamos deixar Jesus trabalhar de forma singular na vida das pessoas. Às vezes tentamos ser mais organizados do que Deus! Levanta-se a “síndrome da metodologia”. Somos fascinados por categorias, métodos e fórmulas. (Quatro temperamentos, sete tipos de inteligência, quatro leis espirituais...) Mas o fascínio de Deus é para cada pessoa, individualmente. O importante não é onde elas fizeram o compromisso ou o que elas disseram, mas o resultado final, se o indivíduo se arrependeu dos pecados, exerceu fé em Jesus e se relaciona com ele.

   É como nas histórias de amor e casamento. Cada uma é diferente. Um amigo meu viu aquela que seria sua esposa no outro lado de uma sala e disse consigo mesmo: “É ela”, e pronto. Outros cresceram juntos na mesma rua, e a amizade tomou um rumo diferente. Alguns fizeram da cerimônia um espetáculo suntuoso. Já outros se casaram na sala da sua humilde casa. Mas o importante é que todos vivam um relacionamento de amor.

   No reino de Deus é assim também. Alguns não sabem a hora em que fizeram a decisão, foram batizados da forma “errada”, não tiveram um discipulado formal, ainda não conseguiram deixar de fumar, e são discípulos de Cristo. Por outro lado, há pessoas que sabem o dia da conversão, dominam o vocabulário evangélico, foram batizados por imersão e falam em línguas estranhas, mas não demonstram as marcas de um discípulo de Jesus.

   As pessoas da Rua Lajeado não entrarão no reino de maneira idêntica. Daqueles que já se decidiram,cada uma vem por um caminho próprio. O primeiro homem a se converter, angustiado por uma separação conjugal, leu um livro sobre perdão e depois se decidiu em um culto público. Outra vizinha, após receber oração por uma enfermidade, orou sozinha e falou que “nasceu de novo”. O marido dela vem acompanhado-a, devagar e sempre. Mãe e filha oraram em minha casa junto com minha esposa. Cada uma foi a Jesus de forma diferente,mas vivem hoje um relacionamento com ele.

Os Relacionamentos

   É interessante notar no texto de João o importante papel dos relacionamentos nas primeiras conversões a Jesus.

Vejamos a seqüência:

- João Batista era primo de Jesus.

- João indica Jesus a seus discípulos, e um destes era André.

- André apresenta Pedro.

- Filipe, da mesma cidade e provavelmente um conhecido da turma, leva Natanael.

   Parece que complicamos muito essa forma simples de Jesus que aproveitava os contos naturais. Esquecemo-nos de que até hoje a maioria das pessoas vem para Jesus por meio de relacionamentos, talvez até em 80% dos casos, segundo alguns pesquisadores.

   Nos dias de hoje, somos acometidos pela “síndrome da mídia”. Estamos cada vez mais envolvidos com tecnologia. É rádio, televisão, telemensagens, publicações, placas luminosas e agora a Internet. E enquanto estamos comprometidos com projetos mirabolantes, não cultivamos relacionamentos – com parentes, amigos, colegas de trabalho e vizinhos – que oferecem maior potencial para a evangelização.

   Com certeza Jesus ganhou pessoas nos encontros casuais que teve através das pregações que fez às multidões, e não duvido de que aproveitaria a mídia atualmente. Porém, nesse primeiro episódio missionário dele, como na maioria dos casos hoje,o evangelho se alastra por meio de relacionamentos. Olhemos para nossa experiência. Qual foi a influência principal no processo de aceitarmos a Cristo? Uma família? Um colega da escola ou do trabalho? Um vizinho? Façamos uma pesquisa entre os membros da nossa igreja. Ficaremos surpresos. Na sua grande maioria, as pessoas foram alcançadas por meio de relacionamentos.

   Isso quer dizer o quê, para mim, que moro na Rua Lajeado? Que preciso aprender a me relacionar melhor com os não-cristãos da minha rua. Meu maior desafio não é aperfeiçoar minha técnica evangelística, mas me relacionar com naturalidade e amor. Meus vizinhos não são “escalpos” ou troféus para provar minha espiritualidade. São pessoas de inestimável valor, portadoras da imagem de Deus. Eu também sou humano. Preciso me relacionar com eles não como pastor, nem guru, mas como um homem frágil que foi transformado por Jesus. Aqui no Sul isso significa tomar chimarrão e jogar conversa fora (bater um bom papo) Requer tempo para conversas na frente de casa sobre serviço, política e cortadores de grama. Para as mulheres, uma xícara de açúcar emprestada e o chá para curar uma gripe é o caminho. É mostrar interesse pela pessoa como pessoa, não como “alma”. Usando a ponte de relacionamento, mais pessoas virão a Jesus.

   O evangelismo simples de Jesus me ajuda a ver com mais clareza o que Deus quer de mim, ali na Rua Lajeado.

Por envolver diálogo, preciso me preocupar em fazer perguntas e esperar as respostas;

Por ser um processo, não preciso me apavorar em chegar ao alvo imediatamente;

Por ser individual, minha preocupação não deve ser com os detalhes de um método perfeito, mas deve ser levar as pessoas a um relacionamento com Deus;

Por ser relacional, minha tarefa é construir pontes de amizade.

   Só agora, no final destes primeiros cinco anos em que moro na Rua Lajeado, é que estamos vendo alguns resultados. Cada terça-feira nos reunimos em uma casa diferente para um estudo bíblico, e assim vamos revezando. Somos aproximadamente vinte pessoas. Algumas já se posicionaram e estão se integrando à igreja local. Outras ainda se encontram com um pé atrás. Entretanto estou mais tranqüilo, porque sei que Deus quer de mim um evangelismo simples... como o de Jesus.

(in Revista Mensagem da Cruz - Patrick Dugan reside em São Leopoldo, RS. É missionário norte-americano e um dos diretores da Editora Betânia. E-mail: patrick.bernard@terra.com.br)

Via blog http://paginasmissionarias.blogspot.com/

sábado, 10 de julho de 2010

Escolhas



   Imagine Deus no céu, cercado pelos coros de anjos que o adoram, cantando hosanas interminavelmente...
 

   "Se eu criar um mundo perfeito, sei qual será o resultado. Em sua absoluta perfeição, funcionará como uma máquina perfeita, jamais se desviando de minha vontade absoluta." Uma vez que a imaginação de Deus é perfeita, para ele não há qualquer necessidade de criar tal universo: para ele é suficiente imaginá-lo para poder vê-lo em todos os seus detalhes. Tal universo não seria muito interessante quer para o homem quer para Deus, por isso podemos presumir que a Divindade prosseguiu em suas meditações. "Mas que aconteceria se eu criasse um universo que é livre, livre até mesmo de mim? O que aconteceria se eu escondesse minha Divindade de maneira que as criaturas fossem livres para cuidarem de suas próprias vidas, sem ficarem amedrontadas por minha Presença onipotente? As criaturas irão me amar? Posso ser amado por criaturas que não programei para me adorarem eternamente? Será que da liberdade pode surgir o amor? Meus anjos me amam incessantemente, mas eles podem me ver a todo tempo. Que acontecerá se eu criar seres à minha própria imagem como um Criador, seres que sejam livres? Mas, se eu introduzir liberdade nesse universo, corro o risco de também introduzir o Mal, pois se forem livres, então serão livres para se desviar de minha vontade. Bem... Mas o que acontecerá se eu continuar a interagir com esse universo dinâmico, o que acontecerá se eu e as criaturas juntos nos tornarmos os criadores de uma grande peça cósmica? O que acontecerá se, de cada ocasião de manifestação do mal, eu reagir com um bem inimaginável, um bem que supera totalmente o mal ao se manifestar inesperadamente a partir das próprias tentativas do mal de negar o Bem? Essas novas criaturas de liberdade irão então me amar, unir-se-ão a mim para criar o Bem a partir do Mal, algo novo a partir da liberdade? O que acontecerá se eu me unir a elas no mundo de limitação e forma, o mundo de sofrimento e mal? Ah... num universo verdadeiramente livre, nem eu mesmo sei como isso acabará. Será que eu mesmo tenho coragem de assumir esse risco em nome do amor?¹"

  Deus poderia ter criado um universo perfeito, onde tudo aconteceria de acordo com sua vontade e seu planejamento. Seria como um computador que funciona exatamente como foi programado, chato e previsível. Porem Deus escolheu criar um universo onde Ele não interfere nas nossas vontades, podemos ama-Lô ou odia-Lô. Muitas vezes temos dúvidas: porque Deus não se mostra de um forma que eu possa crer? Porque não realiza grandes milagres ou ações que todos possam ver e crer? Existiu um preço a ser pago, ao nos dar a liberdade de crer ou não Ele não usa seu poder para nos obrigar a crer, pois dessa forma tudo já estaria determinado, mas diferentemente disso Ele nos dá liberdade de amar por livre e espontânea vontade mas temos que ter fé.

O poder pode fazer qualquer coisa, menos a mais importante: não consegue controlar o amor.  Philip Yancey

¹ Descrição fantasiosa da criação feita por William Irwin Thompson.