terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A frescura universal

    Frescos. É literalmente a forma que podemos classificar a sociedade moderna. A tempos já vinha pensando comigo mesmo sobre esse "novo" objeto criado no século XX o qual parece ser atualmente um produto imprescindível para a vida humana: o ar condicionado. Com base no conceito de hiper-realidade o ar condicionado é um claro exemplo dessa realidade mais real do que a própria realidade. Vejamos por exemplo os shopping centres: onde todo o sistema de ar é criado e simulado (não só isso), um mundo à parte da realidade lá fora. Enquanto nas ruas ao redor desses centros de compras onde a temperatura está 30º celsius e crianças pedem esmolas na porta, do lado de dentro as pessoas vivem num mundo de fantasia: luzes, temperatura e imagens criadas e simuladas, a hiper-realidade.

    Hoje em dia parece que viver sem um ar condicionado é quase um crime e uma afronta aos direitos humanos. Nas residências, automóveis, empresas, escritório, lojas, farmácias, supermercados, cinemas e tudo mais está lá o bendito aparelho. Podemos até dizer que que a maioria das pessoas vive mais tempo nesse ambiente simulado do que no mundo real, e isso não é nenhum espanto... Jean Baudrillard já anunciava isso décadas atrás.

    Eu vejo as pessoas reclamando e realmente ficando irritadas com o calor insuportável que faz la fora e aquele local ao qual foram e que não tinha ar condicionado e passaram um calor infernal, uma verdadeira ofensa à sua dignidade. Parece um absurdo e quase inacreditável lembra-lás que o homem viveu sem essa invenção moderna a milhares de anos, e pior: em climas ainda mais quentes que o nosso! Um rapaz esses dias disse: "nossa como as outras pessoas trabalham antes nessa sala sem ar condicionado?" eu tive vontade de dizer: ué, morreram todas de calor é claro! O leitor entende a ironia: simplesmente as pessoas viviam, trabalhavam e faziam suas coisas normalmente, inacreditávelmente sem ares-condicionados!

    Esse então é meu manifesto contra mais esse objeto que foi elevado ao posto de indispensável à vida humana, essa necessidade inventada pela propaganda a serviço do capitalismo e do consumismo. Pare de frescuras. Viva o frio do inverno quando é inverno, o calor, vale lembrar: NATURAL, do verão quando é verão! Vamos sentir as estações, e não ficar passando frio quando é verão e calor quando é inverno graças a essa engenhoca moderna chamada ar-condicionado. Quem sabe se não tivéssemos inventando o ar condicionado e todo o processo de degradação que ele gera ao planeta para ser fabricado o mundo não estaria tão quente. Pare de viver num mundo criado, simulado e hiper real para viver nas reais e verdadeiras temperaturas ou seja lá o que for... antes bastava ao homem a brisa soprando, depois os leques abanando, depois o ventilador ventilando, hoje os ares-condicionados condicionando, e parece que logo mais, nem isso vai bastar! Frescos, somos todos.

3 comentários:

  1. Jovemm, muito boa a reflexão. "Jorge Cabrera é o nosso exemplo classico" Afinal aproveito esse tema para levar a outro que ontem mesmo estava refletindo! Tempos quentes, grande parte da população procura ir para as praias! "para aproveitarem o que a natureza nos proporcionou de tão belo." O edificio a qual estou trabalhando fica a menos de 10 metros do mar, aqui no estreito, a minha janela é literalmente dentro do mar. Então me perguntei, afinal porque não se toma banho ali? A resposta parece obvia se não fosse trágica! Os mesmos seres que procuram as mais badaladas praias para se refrescarem, jogam seus esgotos, restos de construções no mar, como se as suas aguas não fossem una, andando pelo mundo inteiro e consigo a poluição! Mal sabem eles que daqui a alguns anos não teremos mais pontos próprios para banho, os balneários alcançaram os estatos da praia comprida, coqueiros, estreito e biguaçu, lugares lindos porém destruidas as suas aguas pelos homens. Note que a cada ano que passa sobe o numenro de pontos improprios para banho no teste realizado pela FATMA! Voltando ao seu tema, conclui-se que o homem era feliz e se alto destruiu - o ar condicionado natural da terra (as arvores) cada vez mais escassas, desequilibrando a temperatura, as chuvas, a vida na terra, assim o homem tenta voltar no tempo se refrescando nos condicionadores de ar, após tamanha devastação!

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  2. É verdade jovem! Você conseguiu esclarecer ainda mais meu ponto de vista, muito bom. Antes as árvores e o clima iam naturalmente refrescando o planeta, mas o homem em seu "progresso" acaba destruindo tudo e depois lucra vendendo ar condicionado, que como eu falei no meu post, a população em geral não consegue mais viver sem.

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  3. Está cada vez melhor suas escritas.. nos faz refletir nas coisas "bobas" do cotidiano, e nos mostra o quanto a vida ao ar livre, coisa que aqui em São Paulo fica sempre um pouco mas dificil, mas não impossível, é importante.. Nos faz ficar bem, respirar ar puro, pensar, refletir, comer melhor, fazer exercíco.. ter uma vida melhor.. de verdade.

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