Por Paulo Brabo em Bacia das Almas
O único sentido da vida é servir a humanidade, colaborando para o estabelecimento do reino de Deus, o que não poderá ser feito se cada um dos homens não reconhecer e não professar a verdade.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Momentos
Para evitar essa barra, vivemos eternamente entediados e distanciados do
momento, esmagados pela claríssima convicção de que poderíamos estar
fazendo algo mais legal, mais bem-remunerado ou mais útil para o bem da
humanidade. Vivemos, pela mesmíssima razão, eternamente distantes de
Deus e das pessoas.
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Reflexão
Variedade Paralisante
Nos dias de hoje temos muito, mas paradoxalmente, nos sentimos mais
insatisfeitos. A mensagem passada dia após dia, pelo mercado, pela
propaganda e por nossos heróis contemporâneos, é de que quanto mais você
tiver, quanto mais comprar mais realizado será. Como alguns já começam a
perceber, tal mensagem, que de início parecia ser a solução de todos
nossos problemas, parece não estar surtindo efeito algum. Os mais sábios
e divinos homens não foram aqueles que tinham muito mas não conseguiam
aproveitar tudo, mas foram àqueles que viveram com o mínimo, ou ainda,
com somente aquilo que podiam carregar com suas próprias forças, ou
seja, a roupa de corpo e uma trouxa no máximo, mas que viviam
intensamente suas vidas. Hoje com tantas escolhas à nossa disposição não
sabemos escolher, é engraçado. Com tantas peças de roupas disponíveis
ficamos indecisos e no final não satisfeitos com a escolha realizada.
Talvez seja o tempo de repensarmos nosso modo de vida e buscar como
exemplo os homens que viveram a vida mais sincera e divina que alguem já
viveu, como um tal de Jesus. As casas estão cada vez mais atulhadas,
mas a alma cada vez mais vazia e sem perspectivas. Deveriamos, por mais
estranho que isso possa soar, buscar menos e viver mais.
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Reflexão
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Você Escolhe
O ser humano, ao longo dos tempos, sempre avaliou a si mesmo e aos
outros pelo ter e não pelo ser. Jesus foi o primeiro a desfragmentar tal
pensamento limitado vivendo a vida da forma mais plena que alguem já
viveu. Não tinha o que trancar e considerava isso, apesar de tudo o que
conhecermos dizer o contrário, uma bem-aventurança. Mas nós aprendemos
desde criança: tempo é dinheiro, e esse move o mundo. Quem em sã
consciência iria escolher viver como o exemplo divino? Não vivendo de
esmolas, mas procurando ser em primeiro lugar. Eu é que não, aliás não
está mais aqui quem falou!
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segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Fatos e Aprendizados
E enquanto céticos e crentes discutem circularmente sobre a factualidade dos milagres, deixamos de considerar o que consideraram gerações e gerações de cristãos: o que os milagres da narrativa bíblica tem a nos ensinar. Qual é o seu significado. O que representam. Quais são suas implicações na vida real, na minha vida e na sua.
Nosso literalismo, que alimentamos na esperança de preservar o conteúdo da mensagem bíblica, termina por sufocá-lo e apagá-lo por completo. Ficamos discutindo que se Jesus não nasceu literalmente de uma virgem, se não foi concebido literalmente pela divina semente portando o divino DNA, não pode ser tomado legitimamente como Filho de Deus – e perdemos de vista a maravilha e o mistério de que a história conte que o filho crucificado do carpinteiro tenha angariado a fama de filho de Deus, e a tenha angariado também para nós. Argumentamos que Adão e Eva devem ter sido personagens reais abocanhando uma fruta literal, do contrário desmoronaria por completo o edifício do Pecado Original e seu magnífico anexo, o da Redenção – e nisso deixamos de ouvir a história, que conta como a divina misericórdia soube abraçar com toda a maturidade as contradições da liberdade e os horrores sagrados do amor.
Nosso literalismo, que alimentamos na esperança de preservar o conteúdo da mensagem bíblica, termina por sufocá-lo e apagá-lo por completo. Ficamos discutindo que se Jesus não nasceu literalmente de uma virgem, se não foi concebido literalmente pela divina semente portando o divino DNA, não pode ser tomado legitimamente como Filho de Deus – e perdemos de vista a maravilha e o mistério de que a história conte que o filho crucificado do carpinteiro tenha angariado a fama de filho de Deus, e a tenha angariado também para nós. Argumentamos que Adão e Eva devem ter sido personagens reais abocanhando uma fruta literal, do contrário desmoronaria por completo o edifício do Pecado Original e seu magnífico anexo, o da Redenção – e nisso deixamos de ouvir a história, que conta como a divina misericórdia soube abraçar com toda a maturidade as contradições da liberdade e os horrores sagrados do amor.
Por Paulo Brabo, via Bacia das Almas
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Reflexão
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Milagre a olho nú
Ainda existe esperança para nós. Deus nos mostra isso a cada dia.
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Vídeo
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Adolescente vende um rim para comprar iPad 2
O fim está próximo.Um menino chinês de 17 anos vende o próprio rim pra comprar um ipad 2. É a invenção das necessidades, onde o supérfulo vira obrigatório. A ideologia capitalista consumista e os ataques da propaganda alcançaram seu ápice. Salve-se quem puder, se é que existe tempo.
Notícia completa:
Todo mundo sabe que os aparelhos da Apple levam os consumidores à loucura, mas ninguém esperava por essa: um adolescente chinês, identificado como Zheng, vendeu um dos rins para comprar um iPad 2. E, como se não bastasse, acabou não comprando o tablet.
Em entrevista para a emissora Shenzhen, o rapaz contou que gostaria de comprar um tablet, mas que estava sem dinheiro. Ao navegar pela internet, ele encontrou um anúncio que oferecia 22 mil iuans pelo órgão, o equivalente a cerca de 3 mil dólares.
Depois das negociações, Zheng viajou para a cidade de Chenzhou, onde o rim foi removido em um hospital. O garoto teve alta depois de três dias e, então, recebeu a quantia informada pelos negociantes.
Ao perceber que o filho tinha um laptop e um iPhone novos, a mãe de Zheng o pressionou para saber como ele conseguiu comprar os equipamentos, obtendo assim a confissão do rapaz. O caso foi denunciado à polícia, mas os responsáveis pela cirurgia não foram encontrados. O hospital nega qualquer relação com o crime.
O caso tem sido tratado como exemplo de um materialismo exagerado que atinge jovens da China e de outras partes do mundo. Além disso, outro assunto preocupante é o comércio ilegal de órgãos, que tem se tornado cada vez mais popular no território chinês.
Fonte: http://www.tecmundo.com.br/10465-adolescente-vende-um-rim-para-comprar-ipad-2.htm
Em entrevista para a emissora Shenzhen, o rapaz contou que gostaria de comprar um tablet, mas que estava sem dinheiro. Ao navegar pela internet, ele encontrou um anúncio que oferecia 22 mil iuans pelo órgão, o equivalente a cerca de 3 mil dólares.
Depois das negociações, Zheng viajou para a cidade de Chenzhou, onde o rim foi removido em um hospital. O garoto teve alta depois de três dias e, então, recebeu a quantia informada pelos negociantes.
Ao perceber que o filho tinha um laptop e um iPhone novos, a mãe de Zheng o pressionou para saber como ele conseguiu comprar os equipamentos, obtendo assim a confissão do rapaz. O caso foi denunciado à polícia, mas os responsáveis pela cirurgia não foram encontrados. O hospital nega qualquer relação com o crime.
O caso tem sido tratado como exemplo de um materialismo exagerado que atinge jovens da China e de outras partes do mundo. Além disso, outro assunto preocupante é o comércio ilegal de órgãos, que tem se tornado cada vez mais popular no território chinês.
Fonte: http://www.tecmundo.com.br/10465-adolescente-vende-um-rim-para-comprar-ipad-2.htm
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Capitalismo
terça-feira, 31 de maio de 2011
Amigos e Mitos
Das muito frutíferas e intensas conversas que tiveram Tolkien e Lewis, uma se destaca como o momento decisivo em seus debates e assinala o ponto em que Lewis passou de agnóstico, a crente. Foi numa noite de Sábado, 19 de setembro de 1931. Após o jantar três amigos saíram para um passeio: Tolkien, Lewis e Hugo Dyson (que também era cristão). A conversa naturalmente voltou-se para o cristianismo. Lewis se entrincheirara em sua visão panteísta de Deus, e por causa disso não podia abraçar o cristianismo ortodoxo, que em essência exige a crença em Cristo e uma firme convicção de que Jesus foi enviado para morrer na cruz pela salvação de nossas almas. Lewis aceitava histórias bíblicas como sendo nada além de mitos. Tolkien declarou ao amigo que um mito necessariamente não se constitui em mentira. Um mito deriva de um núcleo de verdade e descrevem um significado cultural bastante específico. Muito bem, então chame de mito se quiser, mas ele foi criado de fatos reais e inspirado por uma profunda verdade. Nenhum mito é mentira e o mito que está no cerne do cristianismo ofereceu um caminho a seguir para o aspecto não materialista de todo ser humano, uma estrada interior para uma verdade espiritual, mais profunda que aponta para Jesus como Senhor de tudo.
Michael White - TOLKIEN, UMA BIOGRAFIA – Editora Imago
Michael White - TOLKIEN, UMA BIOGRAFIA – Editora Imago
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C.S. Lewis,
J.R.R. Tolkien
quarta-feira, 25 de maio de 2011
O que é ser Cristão?
Essa definição não pretende ser absoluta, e nem poderia uma vez que palavras não podem explicar a complexidade da vida e dessa questão especificamente, já que você aprende a ser cristão através de uma pessoa e não de um livro.
Antes de tudo cabe salientar que, acredite ou não, ser cristão é a única forma de salvar sua vida, em todos os significados que a palavra possa significar. Basicamente é seguir as orientações de um homem que viveu há aproximadamente dois mil anos atrás, chamado Jesus. Não cabe aqui explicar como surgiu o nome cristão, mas basta saber para o momento que é como foram chamadas as primeiras pessoas que viviam conforme o exemplo de Jesus de Nazaré.
Indo ao que interessa, seguir essas orientações vai exigir a sua vida, ou o que você pensa ser ela: suas vontades, seu orgulho e suas convicções, já que, pasmem, Jesus afirma que essa não é a verdadeira vida. Na verdade enquanto você vive pra si mesmo e para os seus chegados (o mesmo que para si mesmo) você está mais morto do que nunca. A única forma de encontrar a vida está em segui-LO, pois Ele é o caminho a verdade e a vida, agora sim verdadeira. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. (Marcos 8:35).
Ora, quando Jesus afirma que "aquele que perde a vida por amor de mim e do evangelho a salvará" está dizendo que aquele que deixa de fazer as suas vontades para seguir as Suas palavras é o que salva a sua vida. Mas então que ensinos são esses? De uma forma simples, se é que seja possível, é: viver a vida segundo a lei do amor, essa é a única lei que o cristão deve seguir, que é amar a Deus acima de todas as coisas e amar teu próximo como a ti mesmo. Não é frequentar uma igreja nos finais de semana (quem dera!), jejuar, doar milhares, seguir determinadas regras de boa conduta e coisas do nível, tais coisas podem ajudar a viver a lei do amor mas basicamente ser cristão não é isso.
Portanto quando você decide salvar-se e começa a seguir os passos de Jesus, você passa a colaborar na instauração do reino dos céus na terra onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos (Colossenses 3:11). Se você quiser ser o primeiro, deve ser aquele que serve.
Senti uma enorme dificuldade para escrever isso pois apesar de entender o que é ser cristão é muito difícil explicar com palavras, e é por isso que você aprende a ser cristão não através de palavras mas através de uma pessoa, a saber, Jesus Cristo. Por isso se você decide salvar o mundo e a si mesmo por consequência, comece a seguir o exemplo de Jesus através da Bíblia, e viva a lei do amor. Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas (Mateus 7:12).
Antes de tudo cabe salientar que, acredite ou não, ser cristão é a única forma de salvar sua vida, em todos os significados que a palavra possa significar. Basicamente é seguir as orientações de um homem que viveu há aproximadamente dois mil anos atrás, chamado Jesus. Não cabe aqui explicar como surgiu o nome cristão, mas basta saber para o momento que é como foram chamadas as primeiras pessoas que viviam conforme o exemplo de Jesus de Nazaré.
Indo ao que interessa, seguir essas orientações vai exigir a sua vida, ou o que você pensa ser ela: suas vontades, seu orgulho e suas convicções, já que, pasmem, Jesus afirma que essa não é a verdadeira vida. Na verdade enquanto você vive pra si mesmo e para os seus chegados (o mesmo que para si mesmo) você está mais morto do que nunca. A única forma de encontrar a vida está em segui-LO, pois Ele é o caminho a verdade e a vida, agora sim verdadeira. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. (Marcos 8:35).
Ora, quando Jesus afirma que "aquele que perde a vida por amor de mim e do evangelho a salvará" está dizendo que aquele que deixa de fazer as suas vontades para seguir as Suas palavras é o que salva a sua vida. Mas então que ensinos são esses? De uma forma simples, se é que seja possível, é: viver a vida segundo a lei do amor, essa é a única lei que o cristão deve seguir, que é amar a Deus acima de todas as coisas e amar teu próximo como a ti mesmo. Não é frequentar uma igreja nos finais de semana (quem dera!), jejuar, doar milhares, seguir determinadas regras de boa conduta e coisas do nível, tais coisas podem ajudar a viver a lei do amor mas basicamente ser cristão não é isso.
Portanto quando você decide salvar-se e começa a seguir os passos de Jesus, você passa a colaborar na instauração do reino dos céus na terra onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos (Colossenses 3:11). Se você quiser ser o primeiro, deve ser aquele que serve.
Senti uma enorme dificuldade para escrever isso pois apesar de entender o que é ser cristão é muito difícil explicar com palavras, e é por isso que você aprende a ser cristão não através de palavras mas através de uma pessoa, a saber, Jesus Cristo. Por isso se você decide salvar o mundo e a si mesmo por consequência, comece a seguir o exemplo de Jesus através da Bíblia, e viva a lei do amor. Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas (Mateus 7:12).
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Aquele que de Todos se Apiedou
Ouviram-se risadas e também insultos. Riam e injuriavam, os que tinham ouvido e os que não ouviram, só de olhar a cara do funcionário demitido.
- Ter pena! Por que haviam de ter pena? - exclamou, de repente, Marmieládov, levantando-se de mão estendida, tomado de uma enérgica exaltação, como se estivesse apenas à espera daquelas palavras.
– Mas por que hão de ter pena de mim? Digam! É assim mesmo. Não há motivo. O que me devem fazer é cravarem-me numa cruz e não terem pena de mim! Mas crucifiquem-me depois de me julgarem e, quando me tiverem crucificado, tenham pena de mim. E então eu próprio irei ter com vocês para sofrer o suplício, pois não é de alegria que eu tenho sede, mas de tristeza e de lágrimas! Imaginas tu, taberneiro, que esta meia garrafa me trouxe a felicidade? Sofrimento, o sofrimento é que eu procurava no seu fundo; tristeza e lágrimas, e encontrei-as realmente; quanto à piedade, há de ter piedade de nós Aquele que de todos se apiedou e tudo compreendeu: Ele, que é o amigo e também é o juiz. Nesse dia Ele há de aparecer e perguntará: "Onde está essa pobre moça que se vendeu por uma madrasta má e tísica e por umas crianças, que lhe não são nada? Onde está essa pobre moça que teve compaixão do pai, bêbado inveterado, sem se assustar com o seu embrutecimento?"
E depois dirá: "Anda, vem cá! Eu já te perdoei uma vez. Já te perdoei uma vez. Perdoados te sejam também agora os teus muitos pecados, porque amaste muito". E perdoará à minha Sônia; há de perdoar-lhe, eu sei que há de perdoar-lhe... Foi isso o que senti há pouco no meu coração, quando fui vê-la... E há de julgar a todos e a todos perdoará, tanto aos bons como aos maus, aos prudentes e aos pacíficos... E, depois de julgar todos, inclinar-se-á também para nós: "Vinde cá", dirá, "vós outros, também, vós, os bêbados, vinde cá, impudicos; vinde cá, porcalhões!" E nós aproximar-nos-emos, sem nos envergonharmos, e deter-nos-emos. E Ele dirá: "Meus filhos! Imagem bestial é a vossa e tendes a sua marca; mas aproximai-vos também". E intervêm os castos, e intervêm os prudentes: "Senhor! Mas vais admitir estes também?" E Ele dirá: "Pois eu os admito, ó castos! Aqui os acolho, ó prudentes! Porque nem um só deles se julgou nunca digno de tal mercê..." E estender-nos-á as suas mãos, e nós outros entregar-nos-emos nelas e romperemos em pranto e compreenderemos tudo... Então, havemos de compreender tudo! E todos hão de compreender... E Ekatierina Ivânovna também compreenderá... Senhor, venha a nós o vosso reino...
Fiódor Dostoiévski em seu livro Crime e Castigo, interpelando que Aquele a que de todos se apiedou, há também de perdoar os últimos, os degenerados os que não se julgam dignos, pelo contrário.
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Fiódor Dostoiévski
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Eis um Homem
Eis um homem que buscava felicidade. Como não conseguia perceber a beleza e alegria nas coisas simples ao seu redor saiu a procurar. Primeiramente pensava que a felicidade estava diretamente ligada ao prazer físico do corpo por esse motivo que se entregou a todos os prazeres sensuais da carne, desde as mais longas festas até aos prazeres sexuais cada vez mais sensitivos que podia encontrar, no começo sentiu um prazer sim, isso ele não poderia negar. Mas eis que passado o fascínio inicial logo não se contentava mais apenas com isso buscando cada vez mais e mais, porque assim como uma droga isso não mais o satisfazia e precisava de doses sempre maiores. Depois de algum tempo percebeu que a felicidade não estava ai.
Então pensou consigo mesmo: dessa vez vou encontrar a felicidade em coisas tangíveis e duradouras as quais me deleitarei dia após dia, logo adquiriu tudo o de mais belo que mãos humanas poderiam criar: com as mais brilhantes jóias e mais finas roupas se enfeitou, nos mais suntuosos e maravilhosos palácios se abrigou, as obras de artes mais valiosas que existiam ele adquiriu, e tudo o que agradava seus olhos era comprado. Tinha tudo o que de mais caro um homem poderia obter. Mas outra vez sentia a felicidade escapar de suas mãos, pois o vazio de sua alma não podia ser satisfeito com riquezas temporais que logo perdiam seu encanto, e aprendeu, estarrecido, que a felicidade não poderia ser comprada, não aceitava barganhas.
Depois de ter passado essas experiências sentiu-se só e triste. Tinha desistido da felicidade. Dessa forma passou a viver sua vida da forma mais honesta que podia viver consigo mesmo, não buscava mais satisfazer apenas suas vontades mas buscava compartilhar, e logo fez grandes amigos que nos momentos mais escuros estavam ao seu lado para consolar. Passou a ver a beleza e maravilha da vida em coisas simples como um pássaro cantando na manhã de primavera ou o ar puro das montanhas. Viu, com grande admiração, o que não tinha visto antes: como era belo e mágico o mundo ao seu redor… a singularidade e complexidade de cada homem com que cruzava, a beleza e a vida dos campos, florestas, mares e montanhas que conhecia. Quando havia resignado, quando não mais barganhava com a felicidade foi que ela o encontrou, pois por algum milagre que ainda não entende, conseguiu entender que a felicidade é algo grande e perfeito demais para ser negociada ou estar sobre seu o controle, é que só pode ser encontrada no mais sincero coração, disposto a amar e fazer o que deve ser feito sem esperar nada em troca.
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Reflexão
terça-feira, 10 de maio de 2011
Assim Vivem os Homens
Tolsoi dizia que existem três conceitos de vida, dois pelos
quais a humanidade já passou, que são o modo de vida animal ou pessoal onde o
ser visa apenas seus interesses e vontades individuais; o da vida social onde
busca os interesses de seu grupo: família, tribo, sociedade, Estado, Nação e
etc; e o terceiro, o qual passamos hoje (ou deveriamos passar), com o
cristianismo: a vida universal ou divina onde cada ser humano compreende a
beleza e o significado da vida não em si mesmo ou em seus chegados, mas em cada
ser humano que carrega uma centelha divina, em toda a obra. Tal modo de vida
foi proposto e ensinado por Jesus a dois mil anos atrás, Ele já compreendia a
nova forma de vida que a humanidade precisa aprender para viver, deixando para
trás os outros dois modos simplistas e pobres de se viver.
Eis que passaram milênios e alguns de nós ainda vivem como
os mais ancestrais e brutos dos homens: buscando apenas o seu prazer pessoal.
Sua vida é o niilismo em sua forma mais perfeita, pois cada ação, pensamento, e
sua forma de vida em si é a busca de sua satisfação, de seu prazer. Alguns
menos outros mais, mas ainda sim o modo de vida animal. Não importa o que o Outro
sente, mas apenas o que eu sinto. Não importa se minhas ações podem prejudicar alguém ou que conseqüências tiveram,
se entristeceram alguém, o que importa em últimos casos é se me trouxe prazer.
O que interessa é os seus interesses ou os do seu grupo,
quero que os interesses: do meu estado, nação, partido político, amigos, classe
profissional, família, ideologia e etc. prevaleçam em detrimento dos outros. Os
mais atrasados vivendo apenas para si, alguns mais a frente buscando os
interesses dos seus, mas achar algum louco vivendo pela vida, pela
universalidade, por toda a humanidade é pedir demais, quase um absurdo diria o
niilista convicto.
Jesus a milhares de anos a frente de seu tempo já ensinava a
nova etapa da vida pela qual a humanidade deveria viver a partir daquele
momento: a forma de vida fraterna e divina, cada um buscando viver para o
próximo, não viver para ser servido mas viver para servir, pois esse modo de
vida garantia Ele, é a única forma honesta e verdadeira pela qual podemos
encontrar a vida e felicidade verdadeira. Qualquer que procurar salvar a sua
vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á. (Lucas 17:33). E saia
por ai proclamando para quem estivesse disposto e apto para ouvir:
Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.
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Homem,
Liev Tolstói,
Reflexão
segunda-feira, 2 de maio de 2011
As Palavras Esquecidas
Esta obscuridade chegou a tal ponto que os homens não mais compreendem as noções mais simples, expressas no Evangelho com as mais simples palavras. Hoje, tendo a luz da doutrina de Cristo penetrado até os ângulos recônditos da consciência humana, conforme disse Ele, grita-se de cima dos telhados o que ele dizia ao pé do ouvido; quando esta doutrina se mescla a todas as manifestações da vida doméstica, econômica, social, política e internacional, seria inexplicável que permanecesse incompreendida se para tanto não houvesse causas especiais.
Uma destas causas é que tanto fiéis como ateus estão firmemente convencidos de que compreenderam, há muito tempo, tão completa, positiva e definitivamente a doutrina evangélica, que não é possível atribuir-lhe um significado diverso daquele que lhe é dado. E sua interpretação errônea é fortalecida pela antiguidade da tradição. O rio mais copioso não pode acrescentar uma gota d'água a um copo já cheio.
Pode-se explicar ao homem mais ignorante as coisas mais abstratas, se ele delas ainda não tem noção alguma; mas não se pode explicar a coisa mais simples ao homem mais inteligente, se ele está firmemente convencido de saber muito bem o que se lhe quer ensinar.
A doutrina de Cristo apresenta-se aos homens de nosso tempo como uma doutrina perfeitamente conhecida desde há muito em seus mínimos detalhes, e que não pode ser compreendida de modo diverso do que o é atualmente. O cristianismo é, assim, para os fiéis, uma revelação sobrenatural, milagrosa, de tudo o que é dito no Credo. Para os livres-pensadores é uma manifestação esgotada do desejo que têm os homens de crer no sobrenatural, um fenômeno histórico que encontrou sua expressão definitiva no catolicismo, na ortodoxia, no protestantismo, e que para nós não mais possui qualquer significado prático.
A importância da doutrina é ocultada dos fiéis da igreja e dos livres-pensadores da ciência. Comecemos a falar dos primeiros. Há 1.800 anos, em meio ao mundo romano, surge uma nova doutrina, estranha, nada semelhante a nenhuma das que a haviam precedido e atribuída a um homem, Cristo. Esta doutrina era inteiramente nova (tanto na forma, quanto na substância) para o mundo judaico que a tinha visto nascer e sobretudo para o mundo romano, onde era pregada e propagada.
Em meio às complicadíssimas regras religiosas do mundo judaico — onde, segundo Isaías, havia regra sobre regra — e à legislação romana, levada a um alto grau de perfeição, surge uma nova doutrina que negava não apenas todas as divindades, como também todas as instituições humanas e suas necessidades. Em troca de todas as regras das antigas crenças, esta doutrina não oferecia senão um modelo de perfeição interna, de verdade e de amor na pessoa do Cristo e, como conseqüência desta perfeição interna, a perfeição externa, preconizada pelos profetas: o reino de Deus, no qual todos os homens, não mais sabendo odiar, serão unidos pelo amor, e no qual o leão estará frente ao cordeiro. Ao invés de ameaças de castigo para as infrações das regras ditadas por antigas leis religiosas ou civis, ao invés da atração das recompensas por sua observância, esta doutrina só atraía por ser a verdade.
“Se alguém quiser cumprir Sua vontade, saberá se minha doutrina é de Deus ou se falo de mim mesmo" (Jo 7,17). "Vós, porém, procurais matar-me, a mim que vos falei a verdade" (Jo 8,40), "e a verdade vos fará livres. Não devemos obedecer a Deus senão com a verdade. Toda a doutrina será revelada e compreendida pelo espírito da verdade. Façam o que Deus lhes manda e conhecerão a verdade" (Jo 8,36).
Nenhuma outra prova da doutrina foi apresentada além da verdade, a adequação da doutrina com a verdade. Toda a doutrina consistia na busca da verdade e em sua observação, na efetivação cada vez mais perfeita da verdade e do desejo de dela se aproximar, sempre mais, na vida prática. Segundo esta doutrina, não é por meio de práticas que o homem se torna justo.
Os corações elevam-se à perfeição interna através de Cristo, modelo de verdade, e a perfeição externa pela efetivação do reino de Deus. O cumprimento da doutrina está no caminho da estrada indicada, na busca da perfeição interna pela imitação de Cristo, e da perfeição externa graças ao estabelecimento do reino de Deus.
A maior ou menor felicidade do homem depende, segundo esta doutrina, não do grau de perfeição que ele pode alcançar, mas do seu caminho mais ou menos rápido para esta perfeição.
Liev Tolstói em, O Reino de Deus está em Vós.
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Liev Tolstói
quinta-feira, 24 de março de 2011
A Cruz e Cristo
A cruz sempre cumpre sua finalidade destruindo um padrão estabelecido, o da vítima, e criando outro padrão, o seu próprio. Assim, as coisas sempre saem como ela quer. Ela vence ao derrotar seu oponente e impor sua vontade sobre ele. A cruz sempre domina. Nunca entra em acordos, nunca faz trocas nem concessões, nunca cede um ponto a favor da paz. Ela não se importa com a paz; importa-se apenas em terminar mais rapidamente possível a oposição contra ela.
Com perfeito conhecimento de tudo isso, Cristo disse: 'Se alguém quiser vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me'. Então, a cruz não somente trouxe um fim à vida de Cristo, mas também à primeira vida, a vida velha, de cada um dos seus verdadeiros seguidores. A cruz destrói o padrão antigo, o padrão de Adão, na vida do crente e o traz a um fim. Então, o Deus que ressuscitou Cristo dos mortos, ressuscita o crente, e uma nova vida começa.
Isso, e nada menos, é o verdadeiro cristianismo.
Devemos fazer algo em relação à cruz. E só podemos fazer uma de duas coisas - fugir da cruz, ou morrer nela
John MacArthur, em seu livro, "O evangelho segundo os apóstolos". Editora Fiel.
Com perfeito conhecimento de tudo isso, Cristo disse: 'Se alguém quiser vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me'. Então, a cruz não somente trouxe um fim à vida de Cristo, mas também à primeira vida, a vida velha, de cada um dos seus verdadeiros seguidores. A cruz destrói o padrão antigo, o padrão de Adão, na vida do crente e o traz a um fim. Então, o Deus que ressuscitou Cristo dos mortos, ressuscita o crente, e uma nova vida começa.
Isso, e nada menos, é o verdadeiro cristianismo.
Devemos fazer algo em relação à cruz. E só podemos fazer uma de duas coisas - fugir da cruz, ou morrer nela
John MacArthur, em seu livro, "O evangelho segundo os apóstolos". Editora Fiel.
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Cruz
quinta-feira, 17 de março de 2011
O problema do materialismo
Mafalda e Miguelito, assim como chamo os gatos lá em casa mas nem lembrava de onde tinha tirado esse nome.
A minha cisma com o materialismo não é “apenas” porque excluí de plano a existência de qualquer coisa que não seja tangível, como a fé e Deus, o valor das histórias fantásticas, os contos e etc. coisas essas que são realmente importantes e dão um sentido e significado maior às nossas vidas. Como se não bastasse isso, o materialismo se mostra altamente destrutivo à humanidade e ao planeta. A ideologia materialista diz que tudo o que existe é o que se pode tocar, ver, sentir, ouvir ou cheirar, se não se encaixar em uma dessas situações nesse sistema fechado não vale a pena dar valor ou pior: não deve nem tomar o seu tempo, já que isso não existe... simples assim.
Talvez essa forma de ver o mundo faça jus ao modo de vida da maioria das pessoas em nossa sociedade atual: superficial e simplista. O problema, e que às vezes nos passa despercebido, é que ao ver o mundo dessa forma só damos valor ao que é material: roupas, carros, marcas, aparência, status, dinheiro e etc. Ser bem sucedido não é ter lucidez e não se entregar à estupidez, é ter um Audi A3 como canta a banda forfun. O sujeito pode até ser honesto e decente mas se não tem posses não é alguém em que devemos nos espelhar, já o espertinho que dá um jeitinho brasileiro para enriquecer ah! Quem me dera ser tão esperto! Os valores são tão distorcidos que a pessoa que tem alguma virtude tem até vergonha do que vão dizer de sua honestidade... honestidade uma ova isso é burrice, o mundo é dos espertos.
Estava conversando com uma colega de trabalho agora que estava lendo na internet blogs de meninas anorexas que encorajam umas às outras em sua luta para alcançar a magreza extrema. Essa colega que está se formando em psicologia me explicou que essas meninas se vêem no espelho como pessoas gordas, alucinações mesmo do nível de uma pessoa paranóica. Eu não quero dizer que apenas a nossa visão materialista de mundo é que causa isso, mas eu tenho certeza que os reflexos estão ai. Você liga a televisão e é bombardeado por propagandas que mostram que só é feliz quem consome e quem tem aquele tipo exato de forma física, seus valores ficam em segundo plano. Mulheres boas pra casar mesmo são as do tipo fruta já o homem quanto mais rico melhor.
Ao viver dessa forma esquecemos de valorizar às coisas que realmente importam em nossas vidas: a amizade, o amor, a lealdade, a honestidade, a humildade, a generosidade, a sabedoria e também a aquilo tudo que realmente nos torna felizes e não está à venda nas prateleiras, como um abraço forte e um palavra confortadora no momento difícil e não um carro novo. A fé, o alimento da alma, é jogada pra escanteio.
Não custa deixar claro apenas pra não gerar confusões que consumir o necessário não é nenhum problema. Algumas pessoas tem problema pois não conseguem consumir nem o alimento. O problema é quando o consumo, os bens materiais e a estética viram o nosso objetivo de vida.
E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.
Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.
Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?
Evangelho de Marcos capítulo 8 versículos 34, 35 e 36.
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Reflexão
Consumir menos e viver mais
A política ambiental do Governo britânico alicerça-se no desenvolvimento de tecnologias “limpas”, mas os progressos em eficiência energética apenas aumentam as aspirações dos consumidores: “Se o meu frigorífico gasta menos energia, talvez compre um ar condicionado”. A inovação é parte da solução, mas não chega. O Governo baseia-se numa crença irracional.
O nosso sistema político baseia-se no crescimento econômico, medido através do produto interno bruto, que cresce graças ao aumento do consumo. Se as pessoas pararem de consumir, a economia vai ao fundo. A publicidade e o marketing têm como objetivo fazer com que continuemos a consumir e que os nossos filhos sigam esse exemplo.
Este sistema econômico, de custo ambiental exorbitante, está doente. O gráfico do psicólogo americano Tim Kasser ilustra-o bem. A curva do rendimento per capita está sempre a aumentar, desde há 40 anos, mas a das pessoas que se dizem “muito felizes” mantém-se estável. O desvio entre as duas curvas não pára de crescer.
O gráfico de Kasser é fonte de esperança e de inquietação. A boa notícia é que um baixo nível de consumo não é, necessariamente, sinônimo de infelicidade. Por outro lado, é preocupante ver que continuamos a consumir, mesmo que isso não nos torne mais felizes. Kasser diz que o hiperconsumo é uma resposta à insegurança, um mecanismo de adaptação destruidor. Nas últimas décadas, as fontes de insegurança multiplicaram-se.
Além das clássicas manipulações dos publicitários, economias de mercado altamente competitivas geram novas fontes de ansiedade, que vão das questões de identidade (Qual o meu papel na sociedade?) às perguntas fundamentais (Quem tomará conta de mim quando for velho?). A ligação entre materialismo e insegurança explica por que é que países tão diferentes como os EUA e a China são tão materialistas.
Este sistema é auto-alimentando. Quando mais insegurança, mais materialismo, e vice-versa. Kasser demonstrou que os valores materialistas geram angústia, tornando-nos mais vulneráveis à depressão e menos cooperativos. Certos estudos mostram que as pessoas sabem quais são as verdadeiras fontes de uma felicidade duradoura – ter relações sólidas, aceitar o que se é, pertencer a uma comunidade –, mas que uma poderosa aliança de interesses políticos e econômicos tenta desviá-las, fazendo-as trabalhar e gastar mais.
Mudar as coisas não será fácil e a transição para uma economia de baixo consumo vai demorar. O problema é que a revolução pode ter efeitos perversos, teme Kasser. A redução do consumo pode provocar instabilidade econômica e mais insegurança. E o aquecimento global também gera ansiedade, o que pode agravar a febre hiperconsumista.
Mas as coisas ainda podem correr bem. As nossas sociedades poderão adotar um modo de consumo moderado, orientado para a satisfação das verdadeiras necessidades humanas. A maioria das pessoas reconhece que se impõe mudanças no estilo de vida, mas todos esperamos que os outros dêem o exemplo.
No seu livro “Ecological Debt” [Dívida Ecológica, inédito em português], Andrew Simms aponta o papel crucial do Estado. No início dos anos 1940, o Governo britânico conseguiu reduzir o consumo, contando não só com a boa vontade dos cidadãos mas com uma vasta campanha de propaganda, aliada a um sistema de racionamento e impostos sobre produtos de luxo. Eis o que devíamos fazer, mas nenhum partido ousa propor.
Madeleine Bunting
in Courrier Internacional (edição portuguesa), Fevereiro de 2008
Originalmente publicado no jornal The Guardian, londres, em 03.12.2007
O nosso sistema político baseia-se no crescimento econômico, medido através do produto interno bruto, que cresce graças ao aumento do consumo. Se as pessoas pararem de consumir, a economia vai ao fundo. A publicidade e o marketing têm como objetivo fazer com que continuemos a consumir e que os nossos filhos sigam esse exemplo.
Este sistema econômico, de custo ambiental exorbitante, está doente. O gráfico do psicólogo americano Tim Kasser ilustra-o bem. A curva do rendimento per capita está sempre a aumentar, desde há 40 anos, mas a das pessoas que se dizem “muito felizes” mantém-se estável. O desvio entre as duas curvas não pára de crescer.
O gráfico de Kasser é fonte de esperança e de inquietação. A boa notícia é que um baixo nível de consumo não é, necessariamente, sinônimo de infelicidade. Por outro lado, é preocupante ver que continuamos a consumir, mesmo que isso não nos torne mais felizes. Kasser diz que o hiperconsumo é uma resposta à insegurança, um mecanismo de adaptação destruidor. Nas últimas décadas, as fontes de insegurança multiplicaram-se.
Além das clássicas manipulações dos publicitários, economias de mercado altamente competitivas geram novas fontes de ansiedade, que vão das questões de identidade (Qual o meu papel na sociedade?) às perguntas fundamentais (Quem tomará conta de mim quando for velho?). A ligação entre materialismo e insegurança explica por que é que países tão diferentes como os EUA e a China são tão materialistas.
Este sistema é auto-alimentando. Quando mais insegurança, mais materialismo, e vice-versa. Kasser demonstrou que os valores materialistas geram angústia, tornando-nos mais vulneráveis à depressão e menos cooperativos. Certos estudos mostram que as pessoas sabem quais são as verdadeiras fontes de uma felicidade duradoura – ter relações sólidas, aceitar o que se é, pertencer a uma comunidade –, mas que uma poderosa aliança de interesses políticos e econômicos tenta desviá-las, fazendo-as trabalhar e gastar mais.
Mudar as coisas não será fácil e a transição para uma economia de baixo consumo vai demorar. O problema é que a revolução pode ter efeitos perversos, teme Kasser. A redução do consumo pode provocar instabilidade econômica e mais insegurança. E o aquecimento global também gera ansiedade, o que pode agravar a febre hiperconsumista.
Mas as coisas ainda podem correr bem. As nossas sociedades poderão adotar um modo de consumo moderado, orientado para a satisfação das verdadeiras necessidades humanas. A maioria das pessoas reconhece que se impõe mudanças no estilo de vida, mas todos esperamos que os outros dêem o exemplo.
No seu livro “Ecological Debt” [Dívida Ecológica, inédito em português], Andrew Simms aponta o papel crucial do Estado. No início dos anos 1940, o Governo britânico conseguiu reduzir o consumo, contando não só com a boa vontade dos cidadãos mas com uma vasta campanha de propaganda, aliada a um sistema de racionamento e impostos sobre produtos de luxo. Eis o que devíamos fazer, mas nenhum partido ousa propor.
Madeleine Bunting
in Courrier Internacional (edição portuguesa), Fevereiro de 2008
Originalmente publicado no jornal The Guardian, londres, em 03.12.2007
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Notícias
quarta-feira, 16 de março de 2011
A ansiedade das coisas
Em tempos mais sãos do que o nosso um homem começava a sentir nostalgia quando estava avançado na terceira idade, entrevendo já a última curva da vida. Hoje em dia a nostalgia é motivo de ansiedade para todos, democraticamente; até mesmo os adolescentes, garantem-me, tem já saudades sentidas e irresistíveis dos tempos idos da infância.
Não é na verdade coisa de se admirar, porque em tempos de mudança acelerada como o nosso muita coisa pode mudar nos três ou quatro anos informes que separam a adolescência da infância. Nostalgia é o clamor por pontos de referência que não existem mais, e na vertigem do século inúmeras referências perdem-se, transformam-se ou são substituídas em um ano ou dois, às vezes menos.
Um adolescente pode olhar ao redor e constatar lucidamente que os programas de televisão são outros, o tipo aprovado de música é outro; os brinquedos, os filmes, os heróis – que tudo mudou desde a sua infância recente, pela qual passa a sangrar de nostalgia tão sincera quanto precoce. O mesmo é ainda mais válido para quem passou dos vinte ou trinta anos de idade; quem sobrevive vinte anos num mundo de mudança vertiginosa como o nosso é obrigado a encarar que a realidade mudou tanto a ponto de se tornar meramente reconhecível. Os pontos de referência ruíram, o vento levou, o gato comeu, e a mudança torna-se motivo de ansiedade, a velhice chega antes do meio da vida e a nostalgia consome e oprime.
O motivo desta nota é lembrar, com inevitável nostalgia, dos tempos em que não era assim. Houve tempo em que o mundo girava sem se fazer notar e as manchas solares não causavam perturbação maior. As pessoas, conta-se, paravam para conversar e comer. Faziam coisas insensatas como serenatas e bilboquês. Nesta galáxia distante de que estou falando os seres humanos eram tão pouco materialistas que podiam dar-se ao luxo de apegar-se a coisas e, para que não tivessem que se preocupar muito com elas, as coisas eram feitas para durar.
Com cinqüenta anos de idade um homem ganhava o relógio ou o violino do avô, e orgulhava-se de poder colocá-los em uso imediato; com setenta anos, o sujeito usava ainda a caneta ou o serrote que tinha sido do seu pai. Coisas como bengalas, máquinas de escrever, escrivaninhas e panelas, abridores de cartas e até mesmo roupas tinham a sua utilidade prolongada por gerações. Os mecanismos eram menos complexos e as coisas podiam ser eficazmente consertadas. As pessoas lubrificavam as coisas, trocavam seus cabos, lixavam e poliam.
Como não saltavam na nossa cara exigindo serem trocadas, as coisas tinham um status menor e não eram motivo de ansiedade. Como sobreviviam às pessoas, algumas coisas transcendiam a sua condição e ficavam para sempre ligadas a um ser humano em particular: as pessoas acenavam com “o facão do meu bisavô”, “a poltrona da minha avó”.
Hoje em dia, e sem qualquer hipérbole necessária, um sujeito de vinte anos já perdeu a conta de quantas vezes trocou de modelo de telefone celular: o seu próprio telefone celular. Salvo como curiosidade, nada sobrevive a uma geração; nada com mais de dez anos é concebivelmente útil.
O paradoxo é que, como tudo que está disponível é tão irreversivelmente novo, tudo torna-se obrigatória e imediatamente velho. Mais do que nossos bem-intencionados avós poderiam imaginar, a abundância do novo deixou-nos cercados de coisas invariavelmente velhas e envelheceram as nossas almas. Das velhas fotografias, eles nos olham com peles e olhos mais jovens do que jamais chegaremos a ter.
Não é na verdade coisa de se admirar, porque em tempos de mudança acelerada como o nosso muita coisa pode mudar nos três ou quatro anos informes que separam a adolescência da infância. Nostalgia é o clamor por pontos de referência que não existem mais, e na vertigem do século inúmeras referências perdem-se, transformam-se ou são substituídas em um ano ou dois, às vezes menos.
Um adolescente pode olhar ao redor e constatar lucidamente que os programas de televisão são outros, o tipo aprovado de música é outro; os brinquedos, os filmes, os heróis – que tudo mudou desde a sua infância recente, pela qual passa a sangrar de nostalgia tão sincera quanto precoce. O mesmo é ainda mais válido para quem passou dos vinte ou trinta anos de idade; quem sobrevive vinte anos num mundo de mudança vertiginosa como o nosso é obrigado a encarar que a realidade mudou tanto a ponto de se tornar meramente reconhecível. Os pontos de referência ruíram, o vento levou, o gato comeu, e a mudança torna-se motivo de ansiedade, a velhice chega antes do meio da vida e a nostalgia consome e oprime.
O motivo desta nota é lembrar, com inevitável nostalgia, dos tempos em que não era assim. Houve tempo em que o mundo girava sem se fazer notar e as manchas solares não causavam perturbação maior. As pessoas, conta-se, paravam para conversar e comer. Faziam coisas insensatas como serenatas e bilboquês. Nesta galáxia distante de que estou falando os seres humanos eram tão pouco materialistas que podiam dar-se ao luxo de apegar-se a coisas e, para que não tivessem que se preocupar muito com elas, as coisas eram feitas para durar.
Com cinqüenta anos de idade um homem ganhava o relógio ou o violino do avô, e orgulhava-se de poder colocá-los em uso imediato; com setenta anos, o sujeito usava ainda a caneta ou o serrote que tinha sido do seu pai. Coisas como bengalas, máquinas de escrever, escrivaninhas e panelas, abridores de cartas e até mesmo roupas tinham a sua utilidade prolongada por gerações. Os mecanismos eram menos complexos e as coisas podiam ser eficazmente consertadas. As pessoas lubrificavam as coisas, trocavam seus cabos, lixavam e poliam.
Como não saltavam na nossa cara exigindo serem trocadas, as coisas tinham um status menor e não eram motivo de ansiedade. Como sobreviviam às pessoas, algumas coisas transcendiam a sua condição e ficavam para sempre ligadas a um ser humano em particular: as pessoas acenavam com “o facão do meu bisavô”, “a poltrona da minha avó”.
Hoje em dia, e sem qualquer hipérbole necessária, um sujeito de vinte anos já perdeu a conta de quantas vezes trocou de modelo de telefone celular: o seu próprio telefone celular. Salvo como curiosidade, nada sobrevive a uma geração; nada com mais de dez anos é concebivelmente útil.
O paradoxo é que, como tudo que está disponível é tão irreversivelmente novo, tudo torna-se obrigatória e imediatamente velho. Mais do que nossos bem-intencionados avós poderiam imaginar, a abundância do novo deixou-nos cercados de coisas invariavelmente velhas e envelheceram as nossas almas. Das velhas fotografias, eles nos olham com peles e olhos mais jovens do que jamais chegaremos a ter.
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Mais uma vez um texto fora do comum do Paulo Brabo da Bacia das Almas, isso já está virando comun agora que ando sem tempo inspiração para postar alguma coisa.
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Reflexão
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Mitos
“Viemos de Deus e, inevitavelmente, os mitos desenvolvidos por nós, embora cheios de erros, refletirão pequenos fragmentos da verdadeira luz, a verdade eterna que está com Deus. Na verdade, somente e através da criação de mitos, tornando-se um ‘subcriador’ e inventando histórias, pode o Homem aspirar ao estado de perfeição que ele conhecia antes da Queda. Nossos mitos podem ser desencaminhados, mas eles, de modo trôpego, terminam por nos levar ao verdadeiro porto” (Citado em J. R. R. Tolkien, de Humphrey Carpenter)
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
RPG, Tecnologia e Jesus
Faz um tempo que não posto algo de minha autoria aqui no blog mas hoje me senti inspirado novamente, ao pensar sobre o que fiz no final de semana e relacionar isso com outras coisas.
Esse final de semana eu fui na casa de um primo meu e lá com outro primo fomos jogar RPG, aquele jogo de dados onde você monta seu personagem e vai fazer aventuras por ai. No caso nossas aventuras eram na terra média já que estavamos jogando o RPG do Senhor dos Anéis. Nesse jogo você tem uma ficha do personagem onde anota os atributos, habilidades, perícias, equipamentos, saúde entre outras informações sobre seu guerreiro.
Depois de um período de tempo jogando alguem reclamou que era muito chato ter de apagar toda hora com a borracha as informações na folha para ter que alterar os equipamentos que está carregando por exemplo… seria melhor se todos tivéssemos um ipad ou um notebook pra não perder tempo com isso e poder alterar as informações rapidamente. Na hora eu concordei mas depois deitado na cama antes de dormir comecei a pensar: é isso que faz o jogo ser o que ele é, é por isso que gostamos de jogar… como dizem o mais importante e interessante é a viajem e não o destino. A diversão do jogo está nesses pequenos detalhes, em anotar informações e conferir elas com os meus primos para ver se estava fazendo a coisa certa… isso também é o jogo. Jogar não é apenas matar orcs, trolls, aranhas e evoluir, o especial do jogo é a relação que você tem com as pessoas enquanto joga, o relacionamento. Quem sabe um jogo com todo o suporte digital fosse mais rápido mas sem sombra de dúvidas também seria mais impessoal.
Então comecei a lembrar o papel que a tecnologia tem hoje em nossas vidas. Quase todas as pessoas hoje em dia tem seu facebook, orkut, tumblr, myspace, msn, twiter e [insira rede social(?) aqui]. Temos nossa grande lista de amigos que cada dia cresce mais porque a todo momento encontramos alguem que "conhecemos" e a lista aumenta.
E ai lembrei como Jesus relacionava-se em sua época. Ele não era popular e não queria a aprovaçao de todos, dizia o que tinha que ser dito. Foi muito reconhecido sim nas cidades onde ensinava mas nem sempre esse reconhecimento era positivo pois judeus planejavam a todo momento como pegar Jesus numa emboscada para matá-lo, o que acabou acontecendo. Os romanos o viam no máximo como um potencial baderneiro e agitador da pax romana. Ele não tinha muitos amigos, tinha doze discípulos e nem neles pode confiar cegamente.
Mas uma coisa é inegável: seus relacionamentos eram o mais pessoais possíveis… conversava a todo momento com as pessoas, tocava-as, deixava-se tocar, nutria um grande amor por todos e não se negava a atender quem lhe procurava com um coração quebrantado. Tanto um ofícial romano necessitado como uma mulher pagã desesperada.
Não participava da vida das pessoas de uma forma menos próxima do que marcar a vida dessas pessoas para sempre. Esse tipo de relacionamento fez com que seus seguidores após Sua morte em várias ocasiões dessem a vida por Ele, já que Ele tinha feito isso primeiro. Ele ensinou como se relacionar e os primeiros cristãos, muitas vezes, deram sua vida para ensinar a única forma de relacionamento verdadeira.
Hoje nós temos nossos 400 amigos (por baixo), mas muitas vezes parece que estamos cada vez mais sozinhos, nossa página de recados está sempre cheia mas o coração as vezes se sente vazio. Pense quantos amigos você tem de verdade, aqueles que estão de corpo e alma ao seu lado nos momentos difíceis e felizes, que estão ai para o que der e vier e estão verdadeiramente adicionados na sua vida. A tecnologia tem ajudado você a criar relacionamentos cada vez mais pessoais como esses ou ao contrário?
Dizem ser sites de relacionamento mas como se relacionar com o monitor? Eu não quero ser radical mas será que não estamos priorizando as coisas erradas em nossas vidas? Pense sobre isso… talvez não seja o seu caso mas é o de muitos já que a tecnologia toma cada vez mais espaço em nossa vida.
Você pode ler esse texto e outros do meu blog, comentar ou trocar e-mails, mas enquanto não me conhecer pessoalmente, não como autor de um blog (ou uma página na internet), mas como um ser humano, jamais vai ter um relacionamento comigo ou me conhecer de verdade.
Por aquele que não se relacionava por menos de um toque.
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Relacionamento
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Mubarak renuncia à presidência do Egito.
Depois de apenas 18 dias de protesto o presidênte do Egito Hosni Mubarak acaba de renunciar o cargo. Depois de 30 anos de governo totalitário e concentrado sem qualquer opção do povo sobre quem deveria governá-los Mubarak cai do poder.
A se o povo soubesse o poder que tem!
A se o povo soubesse o poder que tem!
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Notícias
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
E Deus com isso?
A Folha de S.Paulo informa hoje que a Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) inicia hoje uma Campanha publicitária para dizer que Deus pode não existir. As peças de propaganda com frases como “Religião não define caráter” e “A fé não dá respostas. Ela só impede perguntas”, circularão em ônibus de Salvador e Porto Alegre por um mês.
“A campanha teve início no Reino Unido em 2009 e se espalhou por outros países, com resultados distintos. Nos EUA e na Espanha, a iniciativa deu certo, provocando a esperada polêmica. Na Itália, a veiculação foi proibida. Na Austrália, a companhia responsável por anúncios em ônibus se recusou a exibi-los”, escreve Hélio Schuwartsman. “Algo parecido aconteceu em São Paulo. Depois que conheceu o conteúdo dos anúncios, já após a assinatura do contrato, a empresa que os veicularia se negou a fazê-lo, alegando que a legislação proíbe temas religiosos”.
A notícia informa também que “metade dos cerca de R$ 10 mil utilizados na campanha brasileira vem de pequenas doações e de recursos da própria instituição. A outra metade vem de um único doador paulista que prefere permanecer anônimo”.
Isso me fez lembrar aquela história dos dois rabinos que invadem a madrugada discutindo a existência de Deus e, depois de umas taças de bom vinho, concluem que Deus não existe. Já tarde da noite cada um vai para o seu aposento, mas como de costume acordam bem cedo. Um deles, entretanto, não se apresenta para o desjejum. O outro sai à sua procura vasculhando a casa, e logo encontra o amigo no jardim fazendo seu rito matinal. Ele tem a cabeça coberta com o solidéu, os ombros com o tallit, o manto de orações, e em voz alta repete o Shacharit e o Shema.
– O que você está fazendo?
– Minhas orações matinais, responde o outro com naturalidade.
– Mas nós não concluímos que Deus não existe?
– E o que é que Deus tem a ver com isso?
Via http://edrenekivitz.com/
“A campanha teve início no Reino Unido em 2009 e se espalhou por outros países, com resultados distintos. Nos EUA e na Espanha, a iniciativa deu certo, provocando a esperada polêmica. Na Itália, a veiculação foi proibida. Na Austrália, a companhia responsável por anúncios em ônibus se recusou a exibi-los”, escreve Hélio Schuwartsman. “Algo parecido aconteceu em São Paulo. Depois que conheceu o conteúdo dos anúncios, já após a assinatura do contrato, a empresa que os veicularia se negou a fazê-lo, alegando que a legislação proíbe temas religiosos”.
A notícia informa também que “metade dos cerca de R$ 10 mil utilizados na campanha brasileira vem de pequenas doações e de recursos da própria instituição. A outra metade vem de um único doador paulista que prefere permanecer anônimo”.
Isso me fez lembrar aquela história dos dois rabinos que invadem a madrugada discutindo a existência de Deus e, depois de umas taças de bom vinho, concluem que Deus não existe. Já tarde da noite cada um vai para o seu aposento, mas como de costume acordam bem cedo. Um deles, entretanto, não se apresenta para o desjejum. O outro sai à sua procura vasculhando a casa, e logo encontra o amigo no jardim fazendo seu rito matinal. Ele tem a cabeça coberta com o solidéu, os ombros com o tallit, o manto de orações, e em voz alta repete o Shacharit e o Shema.
– O que você está fazendo?
– Minhas orações matinais, responde o outro com naturalidade.
– Mas nós não concluímos que Deus não existe?
– E o que é que Deus tem a ver com isso?
Via http://edrenekivitz.com/
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Homem
The God Delusion
Por Donald Miller
Meu mais recente esforço de fé não é do tipo intelectual. Eu realmente não faço mais isso. Mais cedo ou mais tarde você simplesmente descobre que há alguns caras que não acreditam em Deus e podem provar que ele não existe e alguns outros caras que acreditam em Deus e podem provar que ele existe – e a esse ponto a discussão já deixou há muito de ser sobre Deus e passou a ser sobre quem é mais inteligente; honestamente, não estou interessado nisso.
Donald Miller é autor de Fé em Deus e pé na tábua, e Como os pinguins me ajudaram a entender Deus, ambos publicados pela Thomas Nelson Brasil.
Via http://edrenekivitz.com/
Meu mais recente esforço de fé não é do tipo intelectual. Eu realmente não faço mais isso. Mais cedo ou mais tarde você simplesmente descobre que há alguns caras que não acreditam em Deus e podem provar que ele não existe e alguns outros caras que acreditam em Deus e podem provar que ele existe – e a esse ponto a discussão já deixou há muito de ser sobre Deus e passou a ser sobre quem é mais inteligente; honestamente, não estou interessado nisso.
Donald Miller é autor de Fé em Deus e pé na tábua, e Como os pinguins me ajudaram a entender Deus, ambos publicados pela Thomas Nelson Brasil.
Via http://edrenekivitz.com/
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Fé
Tudo é Maravilhoso e Ninguem está Feliz
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Você Fica Triste com Papo de Crente?
Nestas férias eu e Simone fomos curtir as limpas praias de Florianópolis. No avião sentamos junto a uma jovem executiva de sucesso, muito faladeira e simpática. Uma hora de vôo e já éramos todos amigos de infância. Conversávamos de tudo: negócios, família, política, futuro... Até uma pequena confidência com relação a sua vida conjugal rolou. Lá para as tantas, não me lembro qual era o contexto, eu contei que era pastor...
Meu “deus”... Que reação mais inesperada ela teve:
“VOCÊ PASTOOOOR? Como assim pastor?! Você está brincando não é? Claro que está brincando. Pois você é um cara legal! Você é simpático, tem um ótimo papo, é inteligente e culto. Como pastor? Você é um cara bom, de deus! Não pode ser mesmo um pastor, certo?”
Aquela reação mostra bem a cara da Igreja Evangélica no Brasil. Cara esta que os pastores e os crentes deram a ela. Um rosto forjado por comportamentos. Uma cara auto-maquiada sem espelho... Maquiagem mal-feita. Uma cara feia!
Para aquela nova amiga, pastor é uma coisa extremamente ruim, pois como ela disse, pastores são uns caras que roubam dinheiro dos pobres, que pedem dízimos e que vivem do estelionato da fé alheia. Pastor é aquele cara que diz que não pode isto, não pode aquilo, não pode comer, não pode beber, não pode viver... Só pode morrer, pois o resto é pecado... Sim, para muitos, esta é a cara do crente. Esta cara de crente foi maquiada pelos próprios crentes por meio de um discurso anacrônico e antibíblico.
O discurso dos “crentes” tem sido incoerentemente herético!
Muitos crentes só pregam pecado.
Tudo é pecado.
Ser uma mulher gostosa é pecado.
Olhá-la é pecado. (Jesus nunca disse que é pecado admirar coisas belas, disse que é pecado olhar "com intenção impura", que é bem diferente... Como alguns religiosos possuem os olhos maus e não conseguem olhar com pureza, pensam que todos são impuros como eles e acabam por proibir a admiração das coisas belas que Deus criou).
"Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros... nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas." Tito 1:15
Ter idéias próprias é pecado.
Contestar é diabólico!
Cuidado com o pecado! Deus castiga!
Muita gente acaba por ficar aborrecido com papo de crente.
Por conta de uma religião doente, inúmeros neo-ateístas os são, não porque queiram brigar com Deus, a quem não conhecem e não acreditam, mas porque querem brigar com os que se dizem representantes deste Deus. Neo-ateístas querem é criar encrenca com a religião cristã e com seus representantes, os crentes, pois estes muitas vezes conseguem aborrecer as pessoas com seu papo muito estranho e, por vezes, hipócrita.
Ao contrário da pregação religiosa sobre pecado e sobre o que não se pode, o discurso do Evangelho de Jesus é sobre o perdão e sobre o que se deve: Amar as pessoas pecadoras.
O discurso central do Evangelho é que todos estão perdoados por Cristo. O discurso é sobre perdão de graça. Sobre coisa boa, vida eterna, paz com o próximo, paz consigo, amor. Sobre não precisar fugir de Deus por medo de punição, mas sobre aproximar-se de Deus, pois Ele já perdoou a todos pois Ele é legal.
"Ele levou sobre sí todas as nossas iniquidades".
"Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus".
Todos quantos quiserem estão perdoados. A mensagem, portanto, que os representantes de Deus deveriam anunciar tinha que ser uma mensagem que não se concentrasse em “usos e costumes”, comportamentos culturais, comida, bebida, cabelo ou roupa. Mas não é o que acontece normalmente. Temos assistido grupos religiosos que, com a Bíblia em punho, pregam heresias:
Que Deus abençoa só a quem dá dízimo.
Que Deus não abençoa quem não dá dinheiro pra Igreja.
Que a salvação vem pelo bom comportamento e não pela Graça de Deus.
Que cristão não pode ser intelectualmente independente.
Dentre outras heresias.
Tem uma blogueira que é desertora da fé evangélica e cheia de fé em si mesmo. Ela diz ser atéia, se intitula “heresia loira” e se diverte muito com os “crentes” que, em defesa da fé evangélica, infestam seu blog com comentários hediondos e muitas visitas (conseqüentemente, rendendo também anúncios no blog, convites e grana para ela). Percebo no arcabouço do discurso desta blogueira que seu dito ateísmo não é conseqüência, necessariamente, de algum problema com Deus, mas sim, com os crentes. Por conta da má-criação dos filhos, ela bate é no Pai, num processo Freudiano de transferência. Aliás, no geral, os neo-ateus defendem sua “fé” por meio da falta de fé que eles têm nos cristãos. Irônico.
Incrível como algumas pessoas que dizem seguir Jesus falam pouco de perdão, de coisas boas, de felicidade por meio da certeza da paz com Deus. Geralmente crentes não são vistos como pessoas bacanas, que amam a todos, que amam os inimigos, que procuram não ter inimigos.
Incrível como o simpático e psico-emocional saudável discurso do "perdão gratuito de todos os pecados" foi substituído pelo doentia e culposo discurso do "tudo é pecado".
"Vinde a mim vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei".
Acho incrível como religiosos não oferecem o alívio que Jesus oferece...
Que fique claro: pecado existe!
Ninguém em sã consciência discordaria que meter uma bala na cara de um motorista para ficar com sua carteira é algo errado, portanto, não é preciso ficar batendo na tecla que isto é pecado, mesmo os dito ateus sabem que isto não é certo. Certo?
Pra que reforçar o que todos instintivamente já sabem? Até a blogueira auto-intitulada Heresia Loira não absolveria sua melhor amiga se a apanhasse hoje na cama com o seu namorado. Ela sabe o que é errado! Ela sabe o que magoa! Ela sabe o que fere! Pra que, portanto, insistir em discursar sobre o pecado? O que ela precisa saber é que Jesus perdoa gratuitamente todos os erros e os pecados arrependidos e confessados. Ponto!
O discurso que o mundo inconscientemente quer ouvir é a pregação do perdão: Sim, você errou, mas há uma nova chance para você! Não se sinta eternamente culpado. As pessoas podem não te perdoar pelos seus erros ou por você ser uma pessoa tão babaca. Você pode não se perdoar. Mas Deus é aceitação. Deus é um abraço amigo. Deus é perdão! Deus é bom.
Este discurso, tão real e libertador, precisa ser resgatado nos púlpitos e replicado na pregação cotidiana.
Quando me lembro da reação da nossa colega de viagem no avião quando soube que eu era pastor, fica claro que muitos cristãos estão voando fora da rota e a Igreja continuará fabricando ex-cristãos!
Qual Evangelho você tem pregado?
“Meus filhinhos, escrevo isso a vocês para que não pequem. Porém, se alguém pecar, temos Jesus Cristo, que faz o que é correto; ele nos defende diante do Pai. É por meio do próprio Jesus Cristo que os nossos erros e pecados são perdoados. E não somente os nossos, mas também os pecados do mundo inteiro.”
Primeira carta de João, Capítulo 2
O autor desse texto é Luciano Maia do blog Café com Deus
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Garoto chinês de 6 anos banido pela sociedade
Ah Long é um garoto
chinês de 6 anos que perdeu os pais para a AIDS. Ele nasceu com HIV e
nem sequer sua avó de 84 anos quer viver com ele porque tem medo de
pegar a doença. Ele vive na cabana dos seus pais na Província de
Guangxi, China, e recebe 70 yuans mensalmente (aproximadamente 17,50
reais) do governo. Outros aldeãos, tão ignorantes quanto a avó e que
também desconhecem a forma de contágio da AIDS, também têm medo da
convivêncai com o menino que não recebe a ajuda de ninguém. Sua única
companhia é um fiel amigo cachorro.
Apesar
de que a avó não deixe o garoto viver com ela, de vez em quando ela o
visita para ajudá-lo a plantar alguns legumes e fazer alguma comida. Ah
Ling também foi degredado pela escola local que não deixa que o menino
frequente às aulas, porque outros pais prometeram matá-lo caso frequentasse as salas de aula junto a seus filhos.
A
agência civil (nossa secretaria de bem estar social) dá ao garoto 70
yuans mensais. Seguramente que estes 17 reais não são o bastante para
manter esta pequena criança.
Ah Long praticamente teve que aprender a fazer tudo sozinho: plantar, cozinhar, cuidar das galinhas e se banhar.
Seu melhor e único amigo é Lao Hei, um cão vira-lata que não abandona Ah Long por nada.
Para
sorte de Ah Long, existem também muitas pessoas bondosas no outro lado
do mundo, que vez em quando levam roupas, alimentos e cobertores para
ele.
E eu aqui reclamando da minha vida!
Fonte: http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=16815#ixzz1CquSJ0UV
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Notícias
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
O Profeta e a Revolução
Fui a Jaraguá do Sul visitar um cliente, coisa que raramente faço, e
fui de terno e gravata, coisa que jamais voltarei a fazer. Quando sai da
fábrica era o meio da tarde e pensei em dormir numa pousada em
Pomerode, depois de encher a carne na Torten Paradis e beber uma imaculada série de Weiss no deque da cervejaria Schornstein.
Eu já estava em Pomerode, naquele cruzamento na frente da delegacia, quando olhou-me de repente a placa da saída para Timbó; lembrei-me inevitavelmente de Rio dos Cedros e de seu profeta, e decidi alongar a viagem por meia hora – ver se encontrava coragem para encarar novamente o homem que olhou o pecado no meu rosto e não viu nada de mais no que viu.
Avancei sem parada na tarde oblíqua e dourada, cruzando arrozais de um verde-limão inclemente e casinhas vermelhas encravadas em jardins de rosas. Quando fechei atrás de mim a última porteira e fiz o Corsa descer crepitando a curva ladeada de jerivás, faltava pouco para as seis da tarde.
Eu havia tirado meias e sapatos assim que entrara no carro, portanto antes de sair só afrouxei a gravata e enrolei duas vezes a barra da calça. Caminhei descalço pelo caminho de lousa até o portãozinho da cerca do jardim, gritei ô de casa, e quando venci os dois degraus da varanda já havia terminado de dobrar até os cotovelos as mangas da camisa branca.
Todas as portas e janelas da casinha de madeira estavam abertas, pelo que demorei a entender que estava vazia. Na varanda de trás (dei a volta por fora) encontrei uma mesa de madeira maciça, um fogão a lenha e um tanque escavado em pedra, abastecido sem trégua pela água de um aqueduto de meia taquara que desaparecia em direção ao morro vizinho. Retirei uma caneca de metal do prego em que pendia e bebi.
Devolvi a caneca, ponderando voltar para o carro e refazer o caminho, anulando por completo aquela tentativa e ganhando pontos para dizer um dia estive aqui e você não estava. Olhei o relógio do celular: cinco e quarenta e quatro. Decidi ir embora imediatamente e em outra ocasião explicar que havia esperado em vão das cinco e meia até as seis. Nesse ponto, no interior da casa, alcançou-me da mesa da cozinha uma visão potente o bastante (talvez a única) para me fazer abandonar o plano de fuga: uma pilha de livros.
O profeta de Rio dos Cedros entrou em casa meia hora depois, batendo uma contra a outra as solas de suas botas de borracha, e encontrou-me lendo fábulas de La Fontaine na mesa da sua cozinha. Os outros livros eram Sobre a origem da desigualdade, de Rousseau, A origem da família, da propriedade privada e do estado, de Engels, Almas Mortas, de Gogol e – o único que eu ainda não havia lido – o panfleto de quatro páginas Teses sobre Feuerbach, de Marx.
– Brabo, você voltou – ele disse, e parecia sinceramente feliz, mas antes de entrar lavou no tanque lá fora as mãos, os pés e uma braçada de raízes de aipim que trouxera numa sacola.
– Meu amigo proletário João do Pó! Desculpe aí ir entrando desse jeito – eu disse, mas ele desconsiderou com um balanço da cabeça e produziu de detrás de uma cortina estampada uma gamela com ameixas vermelhas e pêssegos.
Dez minutos depois as mandiocas cozinhavam no fogão e cada um de nós tinha diante de si um copo com partes iguais de Campari, gelo, vinho branco barato e água com gás, consagrados com uma fatia de laranja.
– E eu que não tinha lido esse livrinho de Marx – eu disse, querendo desviar a conversa. – Quando vi a casa vazia estava decidido a ir embora, mas tive de ficar pra falar com você sobre ele.
– Confesso que não li nada desse teólogo de quem Marx está falando, mas parece que não é preciso ter lido para entender.
– Você vai gostar de Feuerbach, mas sim, Marx está aparentemente falando consigo mesmo – puxei o panfleto do topo da pilha de livros e deixei que abrisse pousado na minha mão aberta. – A prática revolucionária. Eu não conhecia esse lado politizado de João do Pó.
Ele limitou-se a sorrir e sorver um gole.
– Pelo que entendi Marx está enfezado com o materialismo – ele opinou, – que embora seja a mais desiludida e terra-a-terra das ideias, ainda assim não passa de uma ideia. Nada no mundo dos conceitos basta para produzir a prática revolucionária que pode mudar o mundo, et cetera.
– Exato. Até aquele ponto a história da filosofia havia representado uma revolução arquival, por assim dizer. Os filósofos tinham em seu favor haver catalogado todos os problemas, todas as causas e todas as soluções, mas nada daquilo corria o risco de vazar dos arquivos das ideias para o mundo real.
– Como é mesmo que ele diz no final? – ele riu consigo mesmo, passando a mão pela cabeça raspada. – A última coisa?
– “Os filósofos têm se limitado a interpretar o mundo de maneiras diferentes” – eu li, imprimindo o devido drama ao cenário de dois homens discutindo filósofos mortos numa casinha de madeira no meio do nada debaixo de um céu límpido orlado por iminentes tempestades de verão. – “A questão, porém, é transformar o mundo.”
– É quase “a fé sem obras é morta”, não é verdade? – ele provocou, e ignorei a provocação.
Nesse momento a luz na cozinha piscou duas ou três vezes antes de apagar por completo, e ouvimos a geladeira tremer e silenciar. Agora só se ouviam os sapos que malhavam ferros no banhado entre o morro e a casa.
– Está sempre chovendo em algum lugar – ele lembrou.
– O bastante para sempre apagar a luz de outro – eu disse, e coloquei o celular em cima da mesa para que ele nos cinzelasse minimamente com sua vigília azul.
– Enfim – ele disse, brincando com a tampa de Campari como se quisesse fechar a garrafa, sem nunca chegar a concluir a tarefa, – houve uma época em que o que a revolução desejava era remover um sistema estabelecido de coisas e colocar outro sistema no lugar. Se a realidade resistisse à mudança, como costumava fazer, para promover a revolução era tido como necessário apelar para a violência.
– Como assim, “houve um tempo”? Não é mais assim?
– Faz algum tempo que não – ele olhou-me muito sério para confirmar. – O capitalismo, que se apropria de tudo e reverte em seu favor, apropriou-se por inteiro do discurso da revolução.
– Che Guevara é uma marca numa camiseta que você quer comprar.
– Justamente – ele ajeitou-se na cadeira, – mas não só isso. A revolução está em todo lugar; impossível agora é escapar dela. A mudança é o presente sistema, e o capitalismo se alimenta precisamente disso. Hoje um produto é que é “revolucionário”. A internet é revolucionária. Os conservadores costumavam ser os que resistiam à mudança; hoje em dias, conservadores são os que creem que a mudança é a única coisa que existe.
– Tornando dessa forma a verdadeira revolução impossível.
– Não completamente. Hoje em dia para fazer violência ao sistema é preciso rejeitar a mudança em vez promovê-la.
– Uma violência de abstenção? – bebi um gole para dissimular um mal-estar que eu sabia só tendia a crescer.
– Para fazer violência contra a revolução do capitalismo é preciso abrir mão da revolução. É preciso escolher as margens. É preciso pisar para fora do sistema.
Ele silenciou, arrependido do uso excessivo de ênfases, mas aparentemente muito interessado na minha reação.
– Não me parece muito eficaz a sua revolução – fiz com um copo um gesto que abarcava a propriedade. – Você não tem televisão em casa, mas um bilhão de brasileiros está assistindo o Big Brother.
– É como uma revolução qualquer – ele relaxou na cadeira. – Para que funcione é preciso ver mais gente aderindo à violência contra o sistema. Abster-se da revolução é agora a prática revolucionária.
Baixei o copo e ponderei um longo tempo o que queria dizer.
– Nas revoluções anteriores era muito fácil conseguir a adesão das massas, porque o novo sistema a ser implantado oferecia vantagens muito evidentes. Já ninguém vai querer abrir mão da tecnologia e do capitalismo, como você faz, porque não há vantagem nenhuma nisso. Nenhuma vantagem evidente, quero dizer.
– O problema é que o capitalismo é uma revolução que esconde os próprios custos. É um produto que cada um deve vender a si mesmo, por assim dizer, um dia após o outro. E todos compram, porque o dia seguinte depende dessa venda.
– Tenho de reconhecer – baixei a voz, mas foi sem querer, – que a mais simples das operações, que é manter-se vendável (isto é, manter-se produtivo), requer o espaço da vida inteira. Mas, para quem está dentro, apenas o custo de sair do sistema parece maior. Tecnicamente todos sabem que não precisam de um novo celular, mas a revolução é exigente. E talvez por isso irresistível.
– Você entende agora por que O Senhor dos Anéis é uma metáfora tão adequada para o nosso tempo? – ele finalmente fechou a garrafa e colocou-a de lado. – Entende por que a trilogia de Tolkien exerce um fascínio tão grande, mesmo sobre os que não sabem articular a coisa nos nossos termos?
Levantei as sobrancelhas, sinceramente embaraçado, porque não via a conversa tomando aquela direção.
– Não tenho certeza – concedi. – A coisa que mais gosto no livro é que a solução corporativa falha miseravelmente, e o herói remanescente e eficaz só sobrevive inteiramente marcado pela amargura.
Ele sorriu.
– É formidável, mas não é disso que estou falando.
– E do que estamos falando?
– Da revolução – João do Pó cortou mais uma fatia de laranja e derrubou no seu copo. – Tolkien moldou sua história a partir dos grandes épicos e clássicos que tanto admirava, mas com uma diferença. As antigas epopeias narravam a busca por algum objeto poderoso, e as dificuldades que os heróis encontravam no caminho.
– Entendi – senti o rosto queimar, mas entendi também que o profeta faria questão de articular por completo o seu argumento.
– O Senhor dos Anéis é precisamente o contrário. Se você pensar, é uma anti-busca. O desafio dos heróis é destruir um objeto poderoso, não encontrá-lo.
– E fica demonstrado que não é nada fácil.
– Especialmente porque o poder representa uma tentação para os próprios heróis. Quem vai querer abrir mão de um artefato que representa uma vantagem tão evidente?
– Pouca gente – concordei. – E mesmo os que o fizerem estarão marcados para sempre pela tentação de possuí-lo.
– O desafio da nossa era – ele disse – não é outro.
Nesse momento um vaga-lume aceso, que não tínhamos notado quando entrara, voou ao redor de nós como uma fada e pousou precisamente no topo da garrafa que nos separava.
Calamos os dois, o pensador de gravata e o pensador com terra debaixo das unhas das mãos. Estávamos ambos descalços, e de fato nossos pés se tocavam sem grande constrangimento debaixo da mesa, mas aparentemente não seguíamos para o mesmo lugar. Ou a mesma pessoa.
Então, pela moldura de tela que protegia a porta aberta da frente, vi que alguém se aproximava pelo pasto escuro guiado por uma lanterna.
– Você está esperando alguém para jantar? – eu perguntei, e meu tom, para meu embaraço, foi quase de repreensão.
– Nunca espero ninguém, mas isso não quer dizer que qualquer um não possa chegar – ele explicou, e ouvimos que se abria o portãozinho do jardim.
Cinco minutos mais tarde esvaziei o copo, pedi licença e lembrei que estava na hora de ir indo.
Autor: Paulo Brabo postado em Bacia das Almas
Eu já estava em Pomerode, naquele cruzamento na frente da delegacia, quando olhou-me de repente a placa da saída para Timbó; lembrei-me inevitavelmente de Rio dos Cedros e de seu profeta, e decidi alongar a viagem por meia hora – ver se encontrava coragem para encarar novamente o homem que olhou o pecado no meu rosto e não viu nada de mais no que viu.
Avancei sem parada na tarde oblíqua e dourada, cruzando arrozais de um verde-limão inclemente e casinhas vermelhas encravadas em jardins de rosas. Quando fechei atrás de mim a última porteira e fiz o Corsa descer crepitando a curva ladeada de jerivás, faltava pouco para as seis da tarde.
Eu havia tirado meias e sapatos assim que entrara no carro, portanto antes de sair só afrouxei a gravata e enrolei duas vezes a barra da calça. Caminhei descalço pelo caminho de lousa até o portãozinho da cerca do jardim, gritei ô de casa, e quando venci os dois degraus da varanda já havia terminado de dobrar até os cotovelos as mangas da camisa branca.
Todas as portas e janelas da casinha de madeira estavam abertas, pelo que demorei a entender que estava vazia. Na varanda de trás (dei a volta por fora) encontrei uma mesa de madeira maciça, um fogão a lenha e um tanque escavado em pedra, abastecido sem trégua pela água de um aqueduto de meia taquara que desaparecia em direção ao morro vizinho. Retirei uma caneca de metal do prego em que pendia e bebi.
Devolvi a caneca, ponderando voltar para o carro e refazer o caminho, anulando por completo aquela tentativa e ganhando pontos para dizer um dia estive aqui e você não estava. Olhei o relógio do celular: cinco e quarenta e quatro. Decidi ir embora imediatamente e em outra ocasião explicar que havia esperado em vão das cinco e meia até as seis. Nesse ponto, no interior da casa, alcançou-me da mesa da cozinha uma visão potente o bastante (talvez a única) para me fazer abandonar o plano de fuga: uma pilha de livros.
O profeta de Rio dos Cedros entrou em casa meia hora depois, batendo uma contra a outra as solas de suas botas de borracha, e encontrou-me lendo fábulas de La Fontaine na mesa da sua cozinha. Os outros livros eram Sobre a origem da desigualdade, de Rousseau, A origem da família, da propriedade privada e do estado, de Engels, Almas Mortas, de Gogol e – o único que eu ainda não havia lido – o panfleto de quatro páginas Teses sobre Feuerbach, de Marx.
– Brabo, você voltou – ele disse, e parecia sinceramente feliz, mas antes de entrar lavou no tanque lá fora as mãos, os pés e uma braçada de raízes de aipim que trouxera numa sacola.
– Meu amigo proletário João do Pó! Desculpe aí ir entrando desse jeito – eu disse, mas ele desconsiderou com um balanço da cabeça e produziu de detrás de uma cortina estampada uma gamela com ameixas vermelhas e pêssegos.
Dez minutos depois as mandiocas cozinhavam no fogão e cada um de nós tinha diante de si um copo com partes iguais de Campari, gelo, vinho branco barato e água com gás, consagrados com uma fatia de laranja.
– E eu que não tinha lido esse livrinho de Marx – eu disse, querendo desviar a conversa. – Quando vi a casa vazia estava decidido a ir embora, mas tive de ficar pra falar com você sobre ele.
– Confesso que não li nada desse teólogo de quem Marx está falando, mas parece que não é preciso ter lido para entender.
– Você vai gostar de Feuerbach, mas sim, Marx está aparentemente falando consigo mesmo – puxei o panfleto do topo da pilha de livros e deixei que abrisse pousado na minha mão aberta. – A prática revolucionária. Eu não conhecia esse lado politizado de João do Pó.
Ele limitou-se a sorrir e sorver um gole.
– Pelo que entendi Marx está enfezado com o materialismo – ele opinou, – que embora seja a mais desiludida e terra-a-terra das ideias, ainda assim não passa de uma ideia. Nada no mundo dos conceitos basta para produzir a prática revolucionária que pode mudar o mundo, et cetera.
– Exato. Até aquele ponto a história da filosofia havia representado uma revolução arquival, por assim dizer. Os filósofos tinham em seu favor haver catalogado todos os problemas, todas as causas e todas as soluções, mas nada daquilo corria o risco de vazar dos arquivos das ideias para o mundo real.
– Como é mesmo que ele diz no final? – ele riu consigo mesmo, passando a mão pela cabeça raspada. – A última coisa?
– “Os filósofos têm se limitado a interpretar o mundo de maneiras diferentes” – eu li, imprimindo o devido drama ao cenário de dois homens discutindo filósofos mortos numa casinha de madeira no meio do nada debaixo de um céu límpido orlado por iminentes tempestades de verão. – “A questão, porém, é transformar o mundo.”
– É quase “a fé sem obras é morta”, não é verdade? – ele provocou, e ignorei a provocação.
Nesse momento a luz na cozinha piscou duas ou três vezes antes de apagar por completo, e ouvimos a geladeira tremer e silenciar. Agora só se ouviam os sapos que malhavam ferros no banhado entre o morro e a casa.
– Está sempre chovendo em algum lugar – ele lembrou.
– O bastante para sempre apagar a luz de outro – eu disse, e coloquei o celular em cima da mesa para que ele nos cinzelasse minimamente com sua vigília azul.
– Enfim – ele disse, brincando com a tampa de Campari como se quisesse fechar a garrafa, sem nunca chegar a concluir a tarefa, – houve uma época em que o que a revolução desejava era remover um sistema estabelecido de coisas e colocar outro sistema no lugar. Se a realidade resistisse à mudança, como costumava fazer, para promover a revolução era tido como necessário apelar para a violência.
– Como assim, “houve um tempo”? Não é mais assim?
– Faz algum tempo que não – ele olhou-me muito sério para confirmar. – O capitalismo, que se apropria de tudo e reverte em seu favor, apropriou-se por inteiro do discurso da revolução.
– Che Guevara é uma marca numa camiseta que você quer comprar.
– Justamente – ele ajeitou-se na cadeira, – mas não só isso. A revolução está em todo lugar; impossível agora é escapar dela. A mudança é o presente sistema, e o capitalismo se alimenta precisamente disso. Hoje um produto é que é “revolucionário”. A internet é revolucionária. Os conservadores costumavam ser os que resistiam à mudança; hoje em dias, conservadores são os que creem que a mudança é a única coisa que existe.
– Tornando dessa forma a verdadeira revolução impossível.
– Não completamente. Hoje em dia para fazer violência ao sistema é preciso rejeitar a mudança em vez promovê-la.
– Uma violência de abstenção? – bebi um gole para dissimular um mal-estar que eu sabia só tendia a crescer.
– Para fazer violência contra a revolução do capitalismo é preciso abrir mão da revolução. É preciso escolher as margens. É preciso pisar para fora do sistema.
Ele silenciou, arrependido do uso excessivo de ênfases, mas aparentemente muito interessado na minha reação.
– Não me parece muito eficaz a sua revolução – fiz com um copo um gesto que abarcava a propriedade. – Você não tem televisão em casa, mas um bilhão de brasileiros está assistindo o Big Brother.
– É como uma revolução qualquer – ele relaxou na cadeira. – Para que funcione é preciso ver mais gente aderindo à violência contra o sistema. Abster-se da revolução é agora a prática revolucionária.
Baixei o copo e ponderei um longo tempo o que queria dizer.
– Nas revoluções anteriores era muito fácil conseguir a adesão das massas, porque o novo sistema a ser implantado oferecia vantagens muito evidentes. Já ninguém vai querer abrir mão da tecnologia e do capitalismo, como você faz, porque não há vantagem nenhuma nisso. Nenhuma vantagem evidente, quero dizer.
– O problema é que o capitalismo é uma revolução que esconde os próprios custos. É um produto que cada um deve vender a si mesmo, por assim dizer, um dia após o outro. E todos compram, porque o dia seguinte depende dessa venda.
– Tenho de reconhecer – baixei a voz, mas foi sem querer, – que a mais simples das operações, que é manter-se vendável (isto é, manter-se produtivo), requer o espaço da vida inteira. Mas, para quem está dentro, apenas o custo de sair do sistema parece maior. Tecnicamente todos sabem que não precisam de um novo celular, mas a revolução é exigente. E talvez por isso irresistível.
– Você entende agora por que O Senhor dos Anéis é uma metáfora tão adequada para o nosso tempo? – ele finalmente fechou a garrafa e colocou-a de lado. – Entende por que a trilogia de Tolkien exerce um fascínio tão grande, mesmo sobre os que não sabem articular a coisa nos nossos termos?
Levantei as sobrancelhas, sinceramente embaraçado, porque não via a conversa tomando aquela direção.
– Não tenho certeza – concedi. – A coisa que mais gosto no livro é que a solução corporativa falha miseravelmente, e o herói remanescente e eficaz só sobrevive inteiramente marcado pela amargura.
Ele sorriu.
– É formidável, mas não é disso que estou falando.
– E do que estamos falando?
– Da revolução – João do Pó cortou mais uma fatia de laranja e derrubou no seu copo. – Tolkien moldou sua história a partir dos grandes épicos e clássicos que tanto admirava, mas com uma diferença. As antigas epopeias narravam a busca por algum objeto poderoso, e as dificuldades que os heróis encontravam no caminho.
– Entendi – senti o rosto queimar, mas entendi também que o profeta faria questão de articular por completo o seu argumento.
– O Senhor dos Anéis é precisamente o contrário. Se você pensar, é uma anti-busca. O desafio dos heróis é destruir um objeto poderoso, não encontrá-lo.
– E fica demonstrado que não é nada fácil.
– Especialmente porque o poder representa uma tentação para os próprios heróis. Quem vai querer abrir mão de um artefato que representa uma vantagem tão evidente?
– Pouca gente – concordei. – E mesmo os que o fizerem estarão marcados para sempre pela tentação de possuí-lo.
– O desafio da nossa era – ele disse – não é outro.
Nesse momento um vaga-lume aceso, que não tínhamos notado quando entrara, voou ao redor de nós como uma fada e pousou precisamente no topo da garrafa que nos separava.
Calamos os dois, o pensador de gravata e o pensador com terra debaixo das unhas das mãos. Estávamos ambos descalços, e de fato nossos pés se tocavam sem grande constrangimento debaixo da mesa, mas aparentemente não seguíamos para o mesmo lugar. Ou a mesma pessoa.
Então, pela moldura de tela que protegia a porta aberta da frente, vi que alguém se aproximava pelo pasto escuro guiado por uma lanterna.
– Você está esperando alguém para jantar? – eu perguntei, e meu tom, para meu embaraço, foi quase de repreensão.
– Nunca espero ninguém, mas isso não quer dizer que qualquer um não possa chegar – ele explicou, e ouvimos que se abria o portãozinho do jardim.
Cinco minutos mais tarde esvaziei o copo, pedi licença e lembrei que estava na hora de ir indo.
Autor: Paulo Brabo postado em Bacia das Almas
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