A afirmação a seguir é quase uma
unanimidade em círculos sociais: “Política, futebol e religião não se
discute”. Vamos nos ater apenas a questão da religião. Baseado nesta
falsa premissa não devemos debater sobre assuntos religiosos. Aqueles
que levantam essa bandeira bradam, na mesma voz, que todos os caminhos
levam a Deus (ou ao paraíso, ou à salvação). Será?
Ao analisar as crenças de alguns grupos religiosos, principalmente quando observamos o que estes grupos afirmam sobre questões básicas da fé cristã, no que diz respeito a quem é Deus, Jesus Cristo, Espírito Santo, o homem, a Bíblia, a igreja, a salvação e o pecado, podemos constatar que não existe concordância, que não se fala a mesma língua. Vejamos, de modo bem resumido, três exemplos de credos muito distintos:
Mormonismo (Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias): Deus é um homem evoluído;
Jesus é irmão de Lúcifer; o homem poderá evoluir até se tornar um deus;
o Livro de Mórmon, Pérola de Grande Valor e Doutrinas e Convênios
compõem um complemento da Bíblia e são a base doutrinária do Mormonismo;
a salvação só poder ser encontrada no Mormonismo.
Budismo: Nega que
Deus (ou deuses – já que não enxerga Deus como o Cristianismo bíblico)
possa interagir com o homem, ou seja, é uma divindade impessoal,
chegando ao ponto de negar a existência de um ser divino; a realidade
não passa de uma grande ilusão; a vida do homem é apenas sofrimento, ou
seja, viver é sofrer; “salvação” é tão somente se libertar dos ciclos de
reencarnação (ao atingir o Nirvana).
Kardecismo (Espiritismo de
Mesa Branca / Espiritismo Científico): Jesus foi um espírito
puro, um médium. O Espírito Santo (o Consolador prometido por Jesus em
João 16.7) é a própria doutrina codificada por Allan Kardec, ou seja, o
Espiritismo é o Consolador; fora da caridade não há salvação (evolução,
fim das reencarnações, estágio de pureza de espírito); a Bíblia não é a
Palavra de Deus e a reencarnação é o meio pelo qual Deus aplica Sua
justiça.
A lista é muito longa, poderíamos
falar muito sobre a diversidade de credos, mas os exemplos acima atestam
que não há concordância geral com relação aos credos. Como pode então
existir aqueles que defendem que todos os caminhos levam a Deus?
Pluralismo Religioso
Pluralismo Religioso é diferente de
diversidade ou variedade religiosa. Diversidade/variedade é o fato de
que existe uma gama imensa de credos, que até certo ponto produzem
benefícios aos indivíduos e a sociedade, e isso é um fato inegável. Ao
falar em Pluralismo Religioso designamos a filosofia que afirma que
todas as religiões são iguais, boas, com os mesmos fins e que na
essência possuem o mesmo sistema de crenças, levando por conseqüência ao
mesmo fim. Mas atenção! Não estou dizendo que mórmons, budistas e
kardecistas são pluralistas. A pessoa que aceita o pluralismo religioso
não é necessariamente praticante de uma religião, mas sim de uma
filosofia religiosa.
Para que possamos entender melhor o
conceito do pluralismo religioso, precisamos distinguir alguns termos
relacionados a tal estudo [1]:
● O Pluralismo Religioso é
a crença de que toda religião é verdadeira. Cada uma proporciona um
encontro genuíno com o Supremo. Uma pode ser melhor que a outra, mas
todas são adequadas.
● O Relativismo afirma que
não há critérios pelos quais se possa saber qual religião é verdadeira
ou melhor. Não há verdade objetiva na religião, e cada religião é
verdadeira para quem acredita nela.
● O Inclusivismo afirma
que uma religião é explicitamente verdadeira, enquanto todas as outras
são implicitamente verdadeiras.
● O Exclusivismo é a
crença de que apenas uma religião é verdadeira, e as outras que se opõem
a ela são falsas.
Concordo em todos os sentidos com
David K. Clark que define o mundo das religiões como um verdadeiro
supermercado onde superabundam produtos atraentes [2]. Neste mercado as
pessoas têm consumido aquilo que lhes aprazem, sem se dar o trabalho de
entender que não é possível que todos os credos de A a Z (ou do
Agnosticismo ao Zen) possam levar ao mesmo fim. Respeitamos sim a
variedade religiosa bem como a liberdade religiosa, respeitamos as
crenças das pessoas, mas respeito e concordância não significam a mesma
coisa. Desta forma discordamos totalmente da cosmovisão pluralista.
Aqueles que defendem a filosofia do
Pluralismo Religioso acham que qualquer produto do mercado da fé pode
atender as necessidades humanas, por isso tudo é bom e de valor. A
questão da utilidade destes produtos vem à tona. Não há uma busca e um
exame pelo verdadeiro, mas sim pelo útil. Por exemplo, uma pessoa que
possua sua própria religião (um budista), se dirige ao Kardecismo para
buscar a comunicação com entes queridos já falecidos. Este simpatizante
do Karcecismo abraça-o buscando tão somente a utilidade que o Kardecismo
apregoa, mesmo sendo budista.
Logo, os pluralistas religiosos são
caçadores de benefícios, e não se importam se os benefícios que buscam
se tornem como vendas em seus olhos. Na contramão desta filosofia está o
Exclusivismo Religioso. O Cristianismo é exclusivista. Por maior que
seja o grito dos pluralistas, Jesus Cristo, o Filho de Deus disse que é o
caminho, a verdade e a vida (João 14.6).
Nosso objetivo como propagadores do
Evangelho é levar ao mundo perdido o Salvador, Jesus! Por isso e para
isso estamos dispostos a remover a venda que está nos olhos dos
pluralistas, fazendo esta obra de apologética não com ódio, mas sim com o
amor Daquele que nos amou primeiro. No próximo degrau vamos tratar de
uma polêmica que envolve o exclusivismo cristão: é ofensivo afirmar que
Jesus é o único caminho?
Toda honra e glória ao Senhor.
Notas
[1] GEISLER, Norman L. Enciclopédia
de apologética. Editora Vida. São Paulo, SP: 2002. p.701
[2] CLARK, David K. in BECKWITH,
Francis J. & CRAIG, William Lane & MORELAND, J.P. Ensaios
apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã. Hagnos. São Paulo,
SP: 2006. p.347
Postado originalmente em: Internautas Cristãos
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