sábado, 25 de setembro de 2010

Quem quer cair em tentação?


Se eu tenho permissão para fazer algo, aquilo não me é uma tentação, posto que somente sou tentado por aquilo que “não” posso ter, ver ou fazer. Se não posso é porque alguém me proibiu ou disse que é errado.
Se não é “errado” nem proibido, desejar, ver ou fazer , logo, não é uma tentação. Portanto, a tentação é algo que pode ser criada. Criamos tentações quando proibimos coisas. A Lei de Moisés era proibitiva, criando, pois, tentações. A Lei de Cristo é a Graça: liberdade no Espírito. Se tenho liberdade, não tenho tentações.

Paradoxal e, como diriam alguns pastores: “perigosa esta linha de raciocínio – não vamos dar liberdades para não termos problemas com ela”. Mas não dar liberdade é sair da Graça de Cristo e retornar à escravidão das leis mosaicas.

Pela Lei da Graça que hoje opera (nas pessoas que são “nascidas do Espírito”) todas as coisas são lícitas, não obstante, nem todas convêm. Porque não convém?

O que não convém?

O que não convém está relacionado ao amor ao próximo. Se o que me é lícito fazer irá prejudicar alguém em algum lugar do planeta, não devo mais fazer. Não porque eu não possa fazer, mas porque devo amar o outro e, por amor altruísta – não pela lei – deixo de fazer coisas que me dão prazer, me alegram e me são lícitas, simplesmente para não prejudicar outros.

Alguns poderiam perguntar: “Mas, deixo de fazer isto ou aquilo não é para ser salvo?”
A resposta é um retumbante: NÃO! Não somos salvos pela lei nem pelas nossas obras boas. A lei mata e o Espírito da vida. Somos salvos e aceitos por Deus não pelo que nós somos, mas pelo que Ele é! Somos salvos pela Graça de Deus, não pelas nossas boas ações!

Assim, acabamos por dar um tipo de definição para o pecado, que é prejudicar o próximo.
Não! O pecado não é prejudicar Deus, posto que a Deus ninguém prejudica, no máximo, por Ele podemos ser abençoados ou prejudicados. Ele não depende de nós, de nossa crença, de nossas teologias, de nossa defesa em favor d'Eele e nem de nossa devoção. Estas coisas são importantes para nós, homens vacilantes, que carecemos de identidade.

Pecado não é problema para Deus. Todos os pecados já estão perdoados. Ou não estão? Deus não vê mais os nossos pecados, pois eles já foram pagos por Cristo e lançados no mar do esquecimento.
Deus não vê o “nascido de novo” pela lente do pecado, mas pela lente da Graça. Para Deus os que crêem estão limpos. Infelizmente poucos de nós temos esta capacidade de acreditar no Evangelho e aceitar que fomos perdoados, preferimos crer que temos que "pagar algum preço" ou fazer algum "sacrifício" para sermos aceitos ou merecedores de um “presente” de Deus, que chamamos de salvação. Mas não, gente, é de graça mesmo!

Para piorar este cenário de dúvidas, alguns líderes religiosos estão constantemente ensinando um Evangelho que não é o Evangelho da Graça, mas o diabólico Evangelho do Mérito, por meio do qual sempre é dito: “Cuidado que Deus castiga! Não toque nisto! Não beba aquilo! Feche os olhos! Dê dinheiro! Morra!”

Postado em Café com Deus, por Luciano Maia.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ser Cristão?


Certa vez o frei Leonardo Boff perguntou para o Dalai Lama: “Qual é a melhor religião?” Ele respondeu: “A melhor religião é aquela que te faz melhor”. Boff retrucou: “O que me faz melhor?” Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapagado, mais amoroso, mais humanitário e mais responsável, a religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião”.

Concordo com a resposta do Dalai Lama, aliás, eu penso que essa foi a resposta de Jesus, esse foi o foco do ministério de Jesus, Ele andou proclamando uma mensagem com o desejo de que essa mensagem produzisse um tipo diferente de pessoas. Jesus não falou em levar pessoas para o céu, Jesus falou sobre trazer o céu para a existência.

Você me pergunta: você acredita que iremos para o céu? Sim, acredito. Não sei como será, não sei onde é, não sei nada a respeito do céu, mas sei que iremos pra lá um dia.

Essa mensagem que diz: “Aceite a Jesus, siga as regras do cristianismo e você vai passar a eternidade no céu” é uma redução ao evangelho, porque se concentra em dizer que a mensagem de Cristo entra em ação no dia da morte. Coisa triste pensar assim, deixamos de experimentar os valores do reino que geram razão, alegria e força para viver, e passamos a viver cumprindo um apanhado de regras para ir pro céu.

Jesus fala para as pessoas de um jeito de viver e não de uma vida bem sucedida pós-morte, ele convoca a uma postura pro agora, uma decisão para existir com saúde espiritual. Céu é consequência, é depois.

A espiritualidade cristã pressupõe avaliação, pressupõe auto-crítica, convoca os seguidores de Cristo a tomarem cuidado para não perder a alma.

Pense:

Você é livre e Cristo quer que você use sua liberdade para produzir vida.

Você tem a vida sob os seu cuidados. Quem toma as decisões é você. Quem decide o pai que você é? Quem determina a maneira que você trata seus empregados ou seus colegas de trabalho?

Deus não traçou seu caminho já com tudo decidido e tudo encaminhado. Não, é sua a responsabilidade de zelar por aquilo que você está fazendo, é você quem tera que lidar com as consequencias dos seus atos.

A bíblia mostra que somos livres, quando nos convida a uma postura, quando nos convoca a encarmos nossas responsabilidades, o fato de Jesus pregar, falar para mostrar o valor da coisas revela que você pode ir por outros meios, você tem como decidir isso, a vida é sua.

João Batista pregava o evangelho convocando a transformação de idéias, aquilo que o Ronald Sider chamou de expansão de consciência.

A biblia diz que onde o Reino de Deus acontece há perdão de pecados, mas não é só isso, não é simplesmente aceitar esse perdão e continuar com a mesma vida adultera, materialista, racista e egoista de antes, porque se não houver esse tipo de transformação é porque você ainda não experimentou uma salvação existêncial que muda a maneira de pensar e a vida é um verdadeiro inferno.

Creio que ser cristão é entrar numa dinâmica relacional, onde confessamos Cristo como nossa verdade e essa verdade começa a infiltrar em todas as áreas da nossa vida e assim somos dia a dia moldados a imagem de Jesus até que seremos como Ele é, nesse dia seremos revestidos de toda a verdade e um verdadeiro céu acontece no coração.

Autor: Villy Fomin, disponível em Emeurgência.

Conselho aos Jovens


O livro de Eclesiastes nos faz recomendações aparentemente contraditórias. Sim, porque de um lado se recomenda que o jovem recreie seu coração, ande por caminhos que agradem aos olhos e que satisfaçam o coração. Então, depois desse estímulo, aparece uma frase que diz: “Sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá conta”.

Ou seja: diz que se deve recreiar a alma, escolher o caminho belo, e agradar o coração, para então depois chamar a atenção para uma possibilidade quase nunca considerada nesta existência, que é a de que é possível se divertir saudavelmente, apreciar o que é bonito, e agradar a própria alma, sem fazer disso algo que necessariamente seja mal.

Afinal, Deus pedirá conta um dia de cada ato do ser... Mas, tal fato, não tem que ser visto como um convite à evasão de tudo o que possa significar alegria. Por esta razão o texto prossegue estimulando o jovem a experimentar as boas alegrias e os bons prazeres.

Assim, a recomendação é para que o jovem não se iluda com as falsas alegrias, nem com as belezas que não alimentam também a alma, e com as satisfações que não completam o ser.

Portanto, se diz: “Afasta, pois, de teu coração o desgosto e de tua carne a dor, porque a juventude e a primavera da vida são vaidade”. E prossegue recomendando que se faça isto “antes que cheguem os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer”.

Desse modo o equilíbrio da revelação da sabedoria nos põe no caminho do meio na existência, afastando-nos dos pólos e dos exageros em tudo. Infelizmente, na maioria das vezes, a juventude é desperdiçada no jovem!

É por esta razão que se passa da vida do jovem..., e se diz: “... antes que venham os maus dias...”—; fazendo-se, então, uma descrição de como pesa a vida de um velho. Sim, porque a velhice em si é canseira e enfado. Porém, quando o velho foi um jovem que desperdiçou a sua juventude no desgosto e na dor, sua idade avançada será amargurada e triste.

Desse modo, o que o Eclesiastes pede é que aqueles que, na juventude, se alegram, o façam com alegria verdadeira; e não com as euforias que só geram, ao final, desgosto e dor. Daí o apelo: “Afasta de teu coração o desgosto e de tua carne a dor...”

Ora, o estranho é que as maiores dores e desgostos que alguém pode carregar vida afora, em geral, são aqueles que decorrem de uma juventude que se desperdiça na insensatez do jovem empolgado com a primavera da vaidade. Assim se fica sabendo que a verdadeira juventude não é irreflexiva e nem inconseqüente!

Entretanto, o conselho da sabedoria não está na evasão da alegria, mas na educação dela; de tal modo que nenhuma alegria seja a vereda do desgosto, da descrença e do cinismo; e, nem tampouco, seja algo que consuma a carne com desgastes que não se tornarão em capital de bem estar para o futuro.

Hoje, quanto mais vejo a moçada tratando sexo como “hot-dog” e vejo a proliferação de “ficadas” que só deixam para trás o imperceptível desgaste de alma (fruto da troca de energias espirituais que não são boas) —, penso que nunca foi tão importante que se creia — e apenas se creia com base na saúde proposta na sabedoria divina, e não em nenhuma “moral exterior” — no quão danosas são para o ser (da carne ao espírito), essa cultura de desgosto e dor que se espalha pela terra.

Sim, porque no final, não é apenas questão de botar uma camisinha ou tomar um contraceptivo feminino, transar, lavar, botar a calcinha ou a cueca, bater um bom papo sobre a cama-coisa-nenhuma, e pensar que isso é apenas massagem erótica, e nada além disso.

Na realidade, conforme tenho dito, um casal que deseja ter uma vida juntos, tem que tecer tal existencial de modo processual, pois as coisas do amor não são automáticas, mas tecituras de gestos feitos no cotidiano e no tempo, um dia depois do outro.

Entretanto, conforme Paulo, a “fortuidade” existencial, como o unir sexualmente des-significado com alguém, gera um espírito, um outro termo, uma alteração na essência da pessoa; pois, tudo o que não é amor, é automático para o mal, produzindo transferências de natureza estranha, e, por vezes, deixando na pessoa uma sombra que, na maioria das vezes, ela não sabe nem mesmo de onde veio.

Isto sem falar que a opção por alegrias sem significado des-significam o ser; o que gera desgosto e dor de natureza psicológica e existencial.

Nestes dias, percebo que a grande dor humana já não advém do sentimento de “repressão”, como aconteceu nos séculos que nos antecederam. Prova disso é que a doença feminina por excelência, era a histeria, a qual é quase sempre o resultado da repressão, especialmente a de natureza sexual. Hoje, todavia, a histeria deixou de ser a grande vilã das angustias da alma, e se vê o crescente domínio da “Síndrome de Pânico”, tanto em homens como em mulheres; a qual (a Síndrome) produz sentimento de desamparo, orfandade e solidão.

Assim, quanto mais as pessoas se dão, mesmo que livres da repressão, sem o saberem, viajam para o pólo oposto, que é o da solidão e o do abandono. Desse modo, o convite divino é para que a alegria seja verdadeira, o belo carregue sentido e significado, e para que o que chamamos “satisfação”, não seja auto-engano, mas verdade boa para o ser. Não adianta tentar viver em qualquer dos dois pólos... Ninguém consegue neles encontrar vida.

Aliás, é Paulo que, aos Gálatas, diz que não se deve tentar viver nem sob as repressões da Lei e nem tampouco na Libertinagem e seu poder de introjeção; pois, no primeiro caso, a alma mergulha no desgosto de nunca ter sentido nenhum gosto; e, no segundo caso, ela se abisma no mundo das diversidades que criam legiões de espíritos e de sentimentos herdados pela alma em razão do excesso de trocas des-significadas.

Portanto, aproveita tudo aquilo que aproveita-aproveitar; e não te percas na multidão de prazeres que são apenas a injeção do desgosto e de dor de corpo-imagem na alma.

Todo aquele que desconhece tal equilíbrio, não importando o pólo no qual viva, experimentará muito desgosto e muita dor nesta existência; desperdiçando a força da juventude enquanto é jovem; e apenas acumulando para si os pesos de amarguras e de dores de ser que se estocam para os anos dos quais se diz: “Não tenho neles prazer!”

Pense nisto!

O autor do texto é Cáio Fábio
Postado originalmente em Cáio Fábio.net

Terra Média, Nárnia e a quenga


Se você leu O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia (ou mesmo, assistiu os adaptações para o cinema), deve ter notado a semelhança entre os míticos personagens. Isso não é coincidência: J.R.R. Tolkien e C.S.Lewis, respectivos autores das obras, foram contemporâneos, colegas de profissão na mesma faculdade, se reunindo com um pequeno grupo de amigos,nas horas vagas, em um pub - os inklings - para um happy hour e discutir sobre personagens mitológicos.

Nárnia se distingue da Terra Média em muitos aspectos.

Quando se lê o Senhor dos Anéis, se distingue bem onde ficam os lugares ruins e perversos dos locais bons e agradáveis. Mordor era o inferno, Rohan era a guerra, o lar dos hobbits, o lugar de descanso e infância. Os elfos são o mistério e o mágico.

Já Nárnia parece sempre ensolarada e bela, e vai se deteriorando, tornando-se árida com o desenrolar da trama, até o desfecho apocalíptico, místico e transcendente.

Outra grande diferença é que é fácil identificar os mocinhos dos vilões para os lados da Terra Média, os maus são feios, fétidos, selvagens, asquerosos, os bons são heróicos, lindos, caridosos e altruístas.

Em Nárnia existem diferentes raças de seres místicos convivendo, e não se distingue pela aparência a maldade ou a bondade dos seres: há faunos, minotauros, harpias, animais falantes, anões, filhos de Adão e Calormanos, bons e maus, não necessariamente nesta ordem.

Esse sempre foi um detalhe que tornou Nárnia mais aceitável e real, em minha opinião. A Terra Média é mais densa, obscura, detalhada, sufocante, mas a vida real não distingue na aparência dos que são e os que não são.

Após cumprir meu turno, fui para a estação, vazia pela hora, aguardar a saída de meu ônibus. Uma moça da idade de meu primogênito era a única da fila naquele momento. Encolhida, parecia deslocada. Sua aparência era frágil, bermuda curta, cabelos negros esvoaçados em um rosto branco e assustado, pequena, magra, eve. Demorei a perceber o quanto ela parecia perdida, desviando o olhar de tudo a sua volta, procurando de quando em vez em meu rosto alguma familiaridade. Sinceramente, naquela noite estava interessada em meu livro, e meus pensamentos logo se concentraram na leitura assim que a condução partiu.

O perfume forte e doce demais inundou o ônibus, mesmo eu sentado nos últimos bancos e a moça isolada, silenciosa, no banco da frente, antes da catraca, por onde sairia na metade do percurso, meia hora depois.

Distraído, vi quando a menina desceu e entrou em um prostíbulo chique da av. Vergueiro.

Ela não tinha cara de puta. Não estava descrito em seu semblante antes de vê-la se era um orc, um elfo, um calormano. Não consegui matar a charada, ver naquela mocinha a capacidade de passar sua madrugada a disposição daquele que pagar, independente da tara, do apetite, do cheiro.

Ela era filhinha de alguém. Para alguns, uma vagabunda que gosta do que faz, para outros, alguém que precisa de Deus, mas que as mulheres orarão para que se converta longe de seus maridos. Outros ainda, muitas vezes familiares, desejarão que ela suma, ou morra.

Muitos personagens poderiam ser vistos naquela pequena mulher.

Para pessoas como eu, um trecho de uma noite qualquer, quando voltava de um dia extenuante de trabalho.

Eu, que na minha indiferença, poderia muito bem parecer com um orc horrendo diante da possibilidade de falar-lhe palavras de esperança que levo comigo, e não fiz. A pequena menina, juvenil como uma elfa, poderia ser chamada de diaba, mas jamais identificada assim em seus olhos tristes.

Só a culpa dela mentia. Fazia com que ela acreditasse que todos soubessem de sua vileza.

Autor: Zé Luís via Cristão Confuso