Você já se sentiu deslocado, como se não se encaixasse? Já notou que ninguém te entende, nem seus pais, nem o pastor, nem a igreja? Que todos querem que você seja mais um na multidão? Vestibular, faculdade, profissão, futuro, cobrança de todos os lados… “Bem-vindo ao esquema dos adultos. Aperte o cinto e prepare-se para ser assimilado!”. E se eu dissesse que você realmente tem razão em se sentir assim? Que tudo que você vive é fruto de um “sistema de controle” muito bem elaborado que serve para impedir que você perceba a verdade?
Em Matrix, sucesso do cinema, a humanidade vive encapsulada, num estado de coma, servindo como fonte de energia para as máquinas. Para que isso seja possível, as máquinas mantêm a mente das pessoas presas numa construção de software que simula um mundo real. Imagine esse software como um SecondLifei, ou um The Simsii. Seria como uma construção virtual de um supercomputador inteligente como o Skynetiii em O Exterminador do Futuro. Uma simulação perfeita onde você pensa estar vivendo normalmente. Tão perfeita que você jamais suspeitaria não ser real. Neo se encontra na mesma situação vivendo uma vida sem sentido. Vivendo num programa de computador: a Matrix.
Nem todos vivem na Matrix. Alguns conseguiram ter suas mentes libertas e lutam contra as máquinas para libertar o máximo de pessoas dessa prisão psiquista. Um dos líderes dos humanos livres, chamado Morpheus, entra em contato com Neo na Matrix: “Acorde, Neo”.
No filme, Morpheus conversa com Neo sobre sua inquietação:
“Você (Neo) veio aqui porque sabe de algo. Você não consegue explicar o que sabe, mas o sente. Tem sentido a vida inteira; tem sentido que há algo errado no mundo. Você não sabe o que é, mas existe, como uma farpa na mente, que o faz enlouquecer”.
Neo vive esperando acordar de um sonho muito real. E por acreditar que é um sonho, mesmo sabendo que alguma coisa está errada, ele se conforma com a realidade e espera por um milagre que o faça enxergar a verdade. Neo quer descobrir o que é a Matrix e aceita o convite de Morpheus para conseguir as respostas para as tantas perguntas que ele tem.
No filme temos o famoso diálogo entre Morpheus e Neo:
Morpheus: Você a sente quando vai para o trabalho quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para que você não visse a verdade.
Neo: Que verdade?
Morpheus: Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente. Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo. Esta é sua última chance. Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul, a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai à toca do coelho. Lembre-se, tudo que ofereço é a verdade. Nada mais.
E você? Já teve a sensação de que está sendo manipulado? E se a igreja fosse uma Matrix? E se tudo que aprendeu, ouviu e viu não passa de um sistema de controle institucionalizado? E se o Jesus que te apresentaram não passa de um poderoso artifício de enganação? E se o Evangelho que te ensinaram foi convenientemente distorcido?
E se você tivesse a mesma oportunidade de Neo de saber a verdade, o que você escolheria? A pílula vermelha ou a pílula azul? Responsabilidade ou comodidade? Realidade ou ilusão? Fazemos opções todos os dias, e elas definem o que somos. Escolhendo a pílula azul, você teria uma vida de satisfação inadvertida: frequentando regularmente a igreja, esperando felicidade, alegria e prosperidade entregando seu dízimo, cantando e orando, ouvindo os sermões, participando dos eventos da igreja e evitando questões profundas que poderiam tirá-lo da zona de conforto e ignorância. Tomando essa pílula, não é preciso se preocupar com o que pregam ou fazem. Mas, escolher tomar a pílula vermelha significa que você está cansado de ser uma simples marionete do sistema religioso. Que está exausto de estar na igreja para apoiar o pastor ou o ministério. Só para passar uma imagem de um jovem crente bem ajustado. Tomar a pílula vermelha quer dizer que você quer ser realmente livre.
A igreja como está é um sistema de manipulação de mentes. É uma prisão de quatro paredes. Uma bolha onde a consciência coletiva é controlada através de hierarquia, proibições, liturgias, regras, costumes e tradicionalismos que acabam por programar as pessoas a não pensar e não criticar. Esse sistema religioso como tal, se alimenta sugando a energia dos membros: tempo, dinheiro, talento, dons e família. Você vive alienado do mundo, indiferente às questões mais urgentes da sociedade. Cria-se uma subcultura “gospel” deixando cada vez maior o abismo entre os que necessitam das boas notícias de Cristo, e aqueles que foram chamados para levar essas boas notícias aos que necessitam. A palavra igreja vem do grego ekklesia que significa “chamados para fora”. Contudo, esse sentido há muito se perdeu, visto que cada vez mais os cristãos se trancafiam em seus templos e vivem vidas totalmente irrelevantes para a sociedade.
Cristo nos chamou para sermos sal e luz da terra e, para tal, precisamos sair de debaixo da mesa, nos libertar da igreja que existe como uma Matrix, e realmente sair para fora desse “sistema de controle”, e saber discernir o que andam ensinando nos púlpitos. Jesus discerniu e viveu fora do sistema religioso de sua época de maneira que isso irritou tanto os líderes que quiseram matá-lo. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou das trevas, por isso não devemos nos submeter novamente a nenhum jugo de escravidão, muito menos um jugo religiosoiv. Deixemos de ser preguiçosos e de nos conformar com tudo que nos jogam goela abaixo. Sejamos transformados pela renovação da nossa mente em Cristo, através da Bíbliav.
Você pode escolher ser responsável por quem é, e por quem se torna em Cristo, ou pode escolher ser mais um na multidão, mais uma mente presa e manipulada, um zero à esquerda, um robozinho programado para fazer o seu serviço e não incomodar. Pode escolher sair da Matrix, sair da caixa e fazer diferença na vida dos amigos, da família e da sociedade. Ou você pode escolher ser um crente desinteressado, distante e alienado vivendo uma falsa realidade dentro das quatro paredes de um templo, e nunca conhecer o “deserto do realvi” onde as pessoas têm sede de conhecer a Verdade que veio para libertar. Ou você pode escolher viver radicalmente tudo o que Jesus ensinou e ser como Cristo convivendo, caminhando junto, entendendo o problema do outro, vivendo, perdoando e amando. Você pode escolher tomar a pílula azul e continuar sendo um crente que não faz diferença e continuar a alimentar o sistema religioso que não tem compromisso com as pessoas e suas necessidades reais. Ou você pode escolher tomar a pílula vermelha e seguir os passos de Cristo, discernindo lobos em pele de ovelha e suas mensagens enganosas, e tendo curiosidade pela Bíblia, permanecendo nas Palavras de Jesus, para que conheça a verdade, e a verdade o libertevii.
Parafraseando Trinity no filme, “é a pergunta que nos move”. Você tem sede de saber a verdade? Tem perguntas a serem respondidas? Tem dúvidas a serem sanadas? As dúvidas são essenciais para o desenvolvimento da fé. Muitos crentes acham que sua igreja tem todas as respostas e estas por sua vez nunca abrem espaço para questionamentos ou dúvidas. Para piorar, muitas vezes, as únicas respostas que a igreja tem são precárias ou manipuladoras. Quer saber até onde vai a toca do coelho? Quer ser realmente um discípulo de Cristo, livre, responsável, que pensa, entende, busca, raciocina e atende ao chamado de Jesus para sair para fora da Matrix? Uma vez fora do “sistema religioso de controle e manipulação” você pode fazer como Neo e agir no sistema para libertar os que ainda estão presos e sendo usados para inchá-lo.
Que tal criar uma nova versão do software do Cristianismo, depurando o código fonte? O que acha de deixar de ser um agente da Matrix e começar a ser um revolucionário como Jesus, e tornar-se um agente de mudança? Então tome a pílula vermelha… mas, lembre-se tudo que ofereço é a verdade, nada mais.
Notas:
i O Second Life é um ambiente virtual e tridimensional que simula em alguns aspectos a vida real e social do ser humano. Foi desenvolvido em 2003 e é mantido pela empresa Linden Lab. Dependendo do tipo de uso pode ser encarado como um jogo, um mero simulador, um comércio virtual ou uma rede social. O nome “second life” significa em inglês “segunda vida” que pode ser interpretado como uma “vida paralela”, uma segunda vida além da vida “principal”, “real”. Dentro do próprio jogo, o jargão utilizado para se referir à “primeira vida”, ou seja, à vida real do usuário, é “RL” ou “Real Life” que se traduz literalmente por “vida real”. (Wikipédia)
ii The Sims é uma série de jogos eletrônicos de simulação de vida, criado pelo designer de Jogos Will Wright e distribuído pela Maxis. Com o lançamento inicial do primeiro jogo em Fevereiro de 2000. São jogos onde se podem criar e controlar as vidas de pessoas virtuais (chamadas de Sims). O jogo atraiu legiões de fãs, devido a sua simplicidade e objetividade. Hoje em dia, existem plataformas de The Sims para PC, Celular, Nintendo DS, Playstation 2 e outros. (Wikipédia)
iii Quando em 1997, um supercomputador inteligente, Skynet, decide eliminar todos os seres humanos, que vê como uma ameaça, provoca um holocausto nuclear, que dizima grande parte da população. Inicia-se então uma guerra entre os poucos sobreviventes, e os cyborgs Exterminadores criados por Skynet para destruir os últimos humanos. Apesar das poucas hipóteses, os humanos liderados por um homem chamado John Connor, ganham vantagem. Perante a eminência da derrota, Skynet envia um dos cyborgs numa viagem no Tempo, para o passado nos anos 80, antes da guerra, com o objectivo de assassinar a mãe do líder da Resistência, Sarah Connor, antes mesmo de este nascer. Para protegê-la, a Resistência consegue também enviar um protector humano, Kyle Reese.(Wikipédia)
iv Paráfrase de Gálatas, Capítulo 5, Versículo 1.
v Paráfrase de Romanos, Capítulo 12, Versículo 2.
vi Conceito de Simulacros e Simulação, de Jean Baudrillard. Quem vive no deserto do real existe num mapa, não num territóro; o que se acredita ser real é uma cópia sem original.
vii Paráfrase do Evangelho de João, Capítulo 8, Versículo 32.
O autor desse ótimo texto é Thiago Medanha, o texto original está disponível no site do mesmo:
Thiago Medanha