terça-feira, 31 de maio de 2011

Amigos e Mitos

Das muito frutíferas e intensas conversas que tiveram Tolkien e Lewis, uma se destaca como o momento decisivo em seus debates e assinala o ponto em que Lewis passou de agnóstico, a crente. Foi numa noite de Sábado, 19 de setembro de 1931. Após o jantar três amigos saíram para um passeio: Tolkien, Lewis e Hugo Dyson (que também era cristão). A conversa naturalmente voltou-se para o cristianismo. Lewis se entrincheirara em sua visão panteísta de Deus, e por causa disso não podia abraçar o cristianismo ortodoxo, que em essência exige a crença em Cristo e uma firme convicção de que Jesus foi enviado para morrer na cruz pela salvação de nossas almas. Lewis aceitava histórias bíblicas como sendo nada além de mitos. Tolkien declarou ao amigo que um mito necessariamente não se constitui em mentira. Um mito deriva de um núcleo de verdade e descrevem um significado cultural bastante específico. Muito bem, então chame de mito se quiser, mas ele foi criado de fatos reais e inspirado por uma profunda verdade. Nenhum mito é mentira e o mito que está no cerne do cristianismo ofereceu um caminho a seguir para o aspecto não materialista de todo ser humano, uma estrada interior para uma verdade espiritual, mais profunda que aponta para Jesus como Senhor de tudo.

Michael White - TOLKIEN, UMA BIOGRAFIA – Editora Imago
 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O que é ser Cristão?

    Essa definição não pretende ser absoluta, e nem poderia uma vez que palavras não podem explicar a complexidade da vida e dessa questão especificamente, já que você aprende a ser cristão através de uma pessoa e não de um livro.

    Antes de tudo cabe salientar que, acredite ou não, ser cristão é a única forma de salvar sua vida, em todos os significados que a palavra possa significar. Basicamente é seguir as orientações de um homem que viveu há aproximadamente dois mil anos atrás, chamado Jesus. Não cabe aqui explicar como surgiu o nome cristão, mas basta saber para o momento que é como foram chamadas as primeiras pessoas que viviam conforme o exemplo de Jesus de Nazaré.

    Indo ao que interessa, seguir essas orientações vai exigir a sua vida, ou o que você pensa ser ela: suas vontades, seu orgulho e suas convicções, já que, pasmem, Jesus afirma que essa não é a verdadeira vida. Na verdade enquanto você vive pra si mesmo e para os seus chegados (o mesmo que para si mesmo) você está mais morto do que nunca. A única forma de encontrar a vida está em segui-LO, pois Ele é o caminho a verdade e a vida, agora sim verdadeira. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. (Marcos 8:35).

    Ora, quando Jesus afirma que "aquele que perde a vida por amor de mim e do evangelho a salvará" está dizendo que aquele que deixa de fazer as suas vontades para seguir as Suas palavras é o que salva a sua vida. Mas então que ensinos são esses? De uma forma simples, se é que seja possível, é: viver a vida segundo a lei do amor, essa é a única lei que o cristão deve seguir, que é amar a Deus acima de todas as coisas e amar teu próximo como a ti mesmo. Não é frequentar uma igreja nos finais de semana (quem dera!), jejuar, doar milhares, seguir determinadas regras de boa conduta e coisas do nível, tais coisas podem ajudar a viver a lei do amor mas basicamente ser cristão não é isso.

    Portanto quando você decide salvar-se e começa a seguir os passos de Jesus, você passa a colaborar na instauração do reino dos céus na terra onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos (Colossenses 3:11). Se você quiser ser o primeiro, deve ser aquele que serve.

    Senti uma enorme dificuldade para escrever isso pois apesar de entender o que é ser cristão é muito difícil explicar com palavras, e é por isso que você aprende a ser cristão não através de palavras mas através de uma pessoa, a saber, Jesus Cristo. Por isso se você decide salvar o mundo e a si mesmo por consequência, comece a seguir o exemplo de Jesus através da Bíblia, e viva a lei do amor. Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas (Mateus 7:12).

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Aquele que de Todos se Apiedou

   Ouviram-se risadas e também insultos. Riam e injuriavam, os que tinham ouvido e os que não ouviram, só de olhar a cara do funcionário demitido.

- Ter pena! Por que haviam de ter pena? - exclamou, de repente, Marmieládov, levantando-se de mão estendida, tomado de uma enérgica exaltação, como se estivesse apenas à espera daquelas palavras. 

– Mas por que hão de ter pena de mim? Digam! É assim mesmo. Não há motivo. O que me devem fazer é cravarem-me numa cruz e não terem pena de mim! Mas crucifiquem-me depois de me julgarem e, quando me tiverem crucificado, tenham pena de mim. E então eu próprio irei ter com vocês para sofrer o suplício, pois não é de alegria que eu tenho sede, mas de tristeza e de lágrimas! Imaginas tu, taberneiro, que esta meia garrafa me trouxe a felicidade? Sofrimento, o sofrimento é que eu procurava no seu fundo; tristeza e lágrimas, e encontrei-as realmente; quanto à piedade, há de ter piedade de nós Aquele que de todos se apiedou e tudo compreendeu: Ele, que é o amigo e também é o juiz. Nesse dia Ele há de aparecer e perguntará: "Onde está essa pobre moça que se vendeu por uma madrasta má e tísica e por umas crianças, que lhe não são nada? Onde está essa pobre moça que teve compaixão do pai, bêbado inveterado, sem se assustar com o seu embrutecimento?" 

   E depois dirá: "Anda, vem cá! Eu já te perdoei uma vez. Já te perdoei uma vez. Perdoados te sejam também agora os teus muitos pecados, porque amaste muito". E perdoará à minha Sônia; há de perdoar-lhe, eu sei que há de perdoar-lhe... Foi isso o que senti há pouco no meu coração, quando fui vê-la... E há de julgar a todos e a todos perdoará, tanto aos bons como aos maus, aos prudentes e aos pacíficos... E, depois de julgar todos, inclinar-se-á também para nós: "Vinde cá", dirá, "vós outros, também, vós, os bêbados, vinde cá, impudicos; vinde cá, porcalhões!" E nós aproximar-nos-emos, sem nos envergonharmos, e deter-nos-emos. E Ele dirá: "Meus filhos! Imagem bestial é a vossa e tendes a sua marca; mas aproximai-vos também". E intervêm os castos, e intervêm os prudentes: "Senhor! Mas vais admitir estes também?" E Ele dirá: "Pois eu os admito, ó castos! Aqui os acolho, ó prudentes! Porque nem um só deles se julgou nunca digno de tal mercê..." E estender-nos-á as suas mãos, e nós outros entregar-nos-emos nelas e romperemos em pranto e compreenderemos tudo... Então, havemos de compreender tudo! E todos hão de compreender... E Ekatierina Ivânovna também compreenderá... Senhor, venha a nós o vosso reino...

Fiódor Dostoiévski em seu livro Crime e Castigo, interpelando que Aquele a que de todos se apiedou, há também de perdoar os últimos, os degenerados os que não se julgam dignos, pelo contrário.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eis um Homem


   Eis um homem que buscava felicidade. Como não conseguia perceber a beleza e alegria nas coisas simples ao seu redor saiu a procurar. Primeiramente pensava que a felicidade estava diretamente ligada ao prazer físico do corpo por esse motivo que se entregou a todos os prazeres sensuais da carne, desde as mais longas festas até aos prazeres sexuais cada vez mais sensitivos que podia encontrar, no começo sentiu um prazer sim, isso ele não poderia negar. Mas eis que passado o fascínio inicial logo não se contentava mais apenas com isso buscando cada vez mais e mais, porque assim como uma droga isso não mais o satisfazia e precisava de doses sempre maiores. Depois de algum tempo percebeu que a felicidade não estava ai.

   Então pensou consigo mesmo: dessa vez vou encontrar a felicidade em coisas tangíveis e duradouras as quais me deleitarei dia após dia, logo adquiriu tudo o de mais belo que mãos humanas poderiam criar: com as mais brilhantes jóias e mais finas roupas se enfeitou, nos mais suntuosos e maravilhosos palácios se abrigou, as obras de artes mais valiosas que existiam ele adquiriu, e tudo o que agradava seus olhos era comprado. Tinha tudo o que de mais caro um homem poderia obter. Mas outra vez sentia a felicidade escapar de suas mãos, pois o vazio de sua alma não podia ser satisfeito com riquezas temporais que logo perdiam seu encanto, e aprendeu, estarrecido, que a felicidade não poderia ser comprada, não aceitava barganhas.

   Depois de ter passado essas experiências sentiu-se só e triste. Tinha desistido da felicidade. Dessa forma passou a viver sua vida da forma mais honesta que podia viver consigo mesmo, não buscava mais satisfazer apenas suas vontades mas buscava compartilhar, e logo fez grandes amigos que nos momentos mais escuros estavam ao seu lado para consolar. Passou a ver a beleza e maravilha da vida em coisas simples como um pássaro cantando na manhã de primavera ou o ar puro das montanhas. Viu, com grande admiração, o que não tinha visto antes: como era belo e mágico o mundo ao seu redor… a singularidade e complexidade de cada homem com que cruzava, a beleza e a vida dos campos, florestas, mares e montanhas que conhecia. Quando havia resignado, quando não mais barganhava com a felicidade foi que ela o encontrou, pois por algum milagre que ainda não entende, conseguiu entender que a felicidade é algo grande e perfeito demais para ser negociada ou estar sobre seu o controle, é que só pode ser encontrada no mais sincero coração, disposto a amar e fazer o que deve ser feito sem esperar nada em troca.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Assim Vivem os Homens



   Tolsoi dizia que existem três conceitos de vida, dois pelos quais a humanidade já passou, que são o modo de vida animal ou pessoal onde o ser visa apenas seus interesses e vontades individuais; o da vida social onde busca os interesses de seu grupo: família, tribo, sociedade, Estado, Nação e etc; e o terceiro, o qual passamos hoje (ou deveriamos passar), com o cristianismo: a vida universal ou divina onde cada ser humano compreende a beleza e o significado da vida não em si mesmo ou em seus chegados, mas em cada ser humano que carrega uma centelha divina, em toda a obra. Tal modo de vida foi proposto e ensinado por Jesus a dois mil anos atrás, Ele já compreendia a nova forma de vida que a humanidade precisa aprender para viver, deixando para trás os outros dois modos simplistas e pobres de se viver.

   Eis que passaram milênios e alguns de nós ainda vivem como os mais ancestrais e brutos dos homens: buscando apenas o seu prazer pessoal. Sua vida é o niilismo em sua forma mais perfeita, pois cada ação, pensamento, e sua forma de vida em si é a busca de sua satisfação, de seu prazer. Alguns menos outros mais, mas ainda sim o modo de vida animal. Não importa o que o Outro sente, mas apenas o que eu sinto. Não importa se minhas ações podem prejudicar alguém ou que conseqüências tiveram, se entristeceram alguém, o que importa em últimos casos é se me trouxe prazer.

   O que interessa é os seus interesses ou os do seu grupo, quero que os interesses: do meu estado, nação, partido político, amigos, classe profissional, família, ideologia e etc. prevaleçam em detrimento dos outros. Os mais atrasados vivendo apenas para si, alguns mais a frente buscando os interesses dos seus, mas achar algum louco vivendo pela vida, pela universalidade, por toda a humanidade é pedir demais, quase um absurdo diria o niilista convicto.

   Jesus a milhares de anos a frente de seu tempo já ensinava a nova etapa da vida pela qual a humanidade deveria viver a partir daquele momento: a forma de vida fraterna e divina, cada um buscando viver para o próximo, não viver para ser servido mas viver para servir, pois esse modo de vida garantia Ele, é a única forma honesta e verdadeira pela qual podemos encontrar a vida e felicidade verdadeira. Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á. (Lucas 17:33). E saia por ai proclamando para quem estivesse disposto e apto para ouvir: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

As Palavras Esquecidas


   
   Esta obscuridade chegou a tal ponto que os homens não mais compreendem as noções mais simples, expressas no Evangelho com as mais simples palavras. Hoje, tendo a luz da doutrina de Cristo penetrado até os ângulos recônditos da consciência humana, conforme disse Ele, grita-se de cima dos telhados o que ele dizia ao pé do ouvido; quando esta doutrina se mescla a todas as manifestações da vida doméstica, econômica, social, política e internacional, seria inexplicável que permanecesse incompreendida se para tanto não houvesse causas especiais.

   Uma destas causas é que tanto fiéis como ateus estão firmemente convencidos de que compreenderam, há muito tempo, tão completa, positiva e definitivamente a doutrina evangélica, que não é possível atribuir-lhe um significado diverso daquele que lhe é dado. E sua interpretação errônea é fortalecida pela antiguidade da tradição. O rio mais copioso não pode acrescentar uma gota d'água a um copo já cheio.

   Pode-se explicar ao homem mais ignorante as coisas mais abstratas, se ele delas ainda não tem noção alguma; mas não se pode explicar a coisa mais simples ao homem mais inteligente, se ele está firmemente convencido de saber muito bem o que se lhe quer ensinar.

   A doutrina de Cristo apresenta-se aos homens de nosso tempo como uma doutrina perfeitamente conhecida desde há muito em seus mínimos detalhes, e que não pode ser compreendida de modo diverso do que o é atualmente. O cristianismo é, assim, para os fiéis, uma revelação sobrenatural, milagrosa, de tudo o que é dito no Credo. Para os livres-pensadores é uma manifestação esgotada do desejo que têm os homens de crer no sobrenatural, um fenômeno histórico que encontrou sua expressão definitiva no catolicismo, na ortodoxia, no protestantismo, e que para nós não mais possui qualquer significado prático. 

   A importância da doutrina é ocultada dos fiéis da igreja e dos livres-pensadores da ciência. Comecemos a falar dos primeiros. Há 1.800 anos, em meio ao mundo romano, surge uma nova doutrina, estranha, nada semelhante a nenhuma das que a haviam precedido e atribuída a um homem, Cristo. Esta doutrina era inteiramente nova (tanto na forma, quanto na substância) para o mundo judaico que a tinha visto nascer e sobretudo para o mundo romano, onde era pregada e propagada.

   Em meio às complicadíssimas regras religiosas do mundo judaico — onde, segundo Isaías, havia regra sobre regra — e à legislação romana, levada a um alto grau de perfeição, surge uma nova doutrina que negava não apenas todas as divindades, como também todas as instituições humanas e suas necessidades. Em troca de todas as regras das antigas crenças, esta doutrina não oferecia senão um modelo de perfeição interna, de verdade e de amor na pessoa do Cristo e, como conseqüência desta perfeição interna, a perfeição externa, preconizada pelos profetas: o reino de Deus, no qual todos os homens, não mais sabendo odiar, serão unidos pelo amor, e no qual o leão estará frente ao cordeiro. Ao invés de ameaças de castigo para as infrações das regras ditadas por antigas leis religiosas ou civis, ao invés da atração das recompensas por sua observância, esta doutrina só atraía por ser a verdade.

“Se alguém quiser cumprir Sua vontade, saberá se minha doutrina é de Deus ou se falo de mim mesmo" (Jo 7,17). "Vós, porém, procurais matar-me, a mim que vos falei a verdade" (Jo 8,40),  "e a verdade vos fará livres. Não devemos obedecer a Deus senão com a verdade. Toda a doutrina será revelada e compreendida pelo espírito da verdade. Façam o que Deus lhes manda e conhecerão a verdade" (Jo 8,36).

   Nenhuma outra prova da doutrina foi apresentada além da verdade, a adequação da doutrina com a verdade. Toda a doutrina consistia na busca da verdade e em sua observação, na efetivação cada vez mais perfeita da verdade e do desejo de dela se aproximar, sempre mais, na vida prática. Segundo esta doutrina, não é por meio de práticas que o homem se torna justo.

   Os corações elevam-se à perfeição interna através de Cristo, modelo de verdade, e a perfeição externa pela efetivação do reino de Deus. O cumprimento da doutrina está no caminho da estrada indicada, na busca da perfeição interna pela imitação de Cristo, e da perfeição externa graças ao estabelecimento do reino de Deus. 

   A maior ou menor felicidade do homem depende, segundo esta doutrina, não do grau de perfeição que ele pode alcançar, mas do seu caminho mais ou menos rápido para esta perfeição.

Liev Tolstói em, O Reino de Deus está em Vós.