Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Mateus 11:29
1.
Se Jesus nos recomenda veementemente em seu Sermão do Monte total discreção em nossos feitos, em nossas ações beneficentes, orações, jejuns, atos de justiça e esmolas, tudo devendo ser feito em secreto, distante dos spots de luz, longe da aprovação dos homens, afastado dos aplausos das grandes platéias e como resultado direto disso, em segredo nosso Pai nos recompensará, e se o próprio Jesus disse que o que a nossa mão direita faz ignore a mão esquerda...
Como é que se explica essa avidez voraz de líderes por serem catapultados pra pedestais cada vez mais elevados, essa sofreguidão irrefreável de tantos outros em serem aplaudidos em mega eventos e em shows megalomaníacos de lucros imensuráveis, com o fim de serem visto pelos homens e enriquecerem às custas deles?
Pense...
2. Se Jesus que é o nosso Mestre e exemplo único a ser seguido disse que Ele próprio, sendo O Filho do Homem não tinha onde reclinar a cabeça, que deveríamos ter uma vida simples nos contentando com o que temos, sem pre-ocupações e as ansiedades, e se Paulo também nos exorta delatando a intrusão sorrateira de Satanás tentando induzir e enganar a igreja afastando-a da pureza e da simplicidade devidas a Cristo...
Como explicar o luxo gritante, a ostentação de casas em condomínios fechados elitizados, os carros importados, os seguranças, as viagens dispendiosas, e a vida nababesca de muitos líderes ditos evangélicos que arrebanham milhões de crentes simplórios e desavisados e arrancam milhões de reais de seus bolsos quase vazios e surrados?
Pense...
3. Tenho visitado a alguns anos um homem extraordinário. Não, não é um empresário bem sucedido ou um pastor executivo de uma mega congregação. Não. “Seu”Djalma mora num casebre mal acabado descendo uma ladeira no longíquo bairro Cidade de Deus em Manaus. Com 43 anos, não tem carro, graduação e dinheiro. No Natal não teve um grande banquete na ceia. Ganhou 5 panetones (um dos quais eu dei). Foi uma festa.
Sua aparência também não impressiona em nada.
Aliás, existe uma característica que complica mais ainda. Ele perdeu as duas pernas em um terrível acidente. Dono de si, brigão, bêbado, sobe no caminhão. A porta estava destravada. Caiu no vazio, na escuridão da estrada. A mente desaba em espiral rumo ao negrume da vestigem. Acordou no hospital, não sentindo as pernas. Conheceu quase todos os hospitais da cidade. Pernas necrozadas. Cheiro putrefato da morte. Membros amputados sem anestesia. Dor intensa, no corpo e na alma. Tristeza profunda, choro, dor, angústia. Decepção. A boca amordaçada pelas ataduras da dúvida atroz. A vida apagada já sem o brilho da motivação para simplesmente existir.
Um dia conheceu a Palavra de Deus. Recebe a mensagem libertadora do Evangelho meio à contra gosto. O poder do Evangelho despedaça a pedra dura do coração, transformando em fragmento de pó toda resistência humana. Esperança ressurge das brumas cizentas da incerteza. Fé imputada. Volta pra Deus. Alegria indizível.
É isso o que mais me impressiona no seu Djalma. A alegria esboçada em seu rosto de caboclo amazonense. O entusiasmo com que fala sobre Jesus. Os olhos brilham, o riso largo engrandece esse pequeno homem reduzido, fazendo exalar uma paz suave no ambiente empobrecido. Jesus entrou na minha vida e isso é tudo, diz ele.
...Não precisamos de muito para sermos pessoas felizes de verdade.
Isso não é super Interessante? Porque para a maioria das pessoas, para a sociedade essencialmente narcisista e consumista, ”seu” Djalma seria um nada, um zé-ninguém, um ser descartável que não produz, um aleijado que não gera dinheiro ou lucro pra ninguém.
Para Deus, entretanto, um gigante, um velocista de grandes distâncias.
Que grande inversão de valores!
Pense...
O autor desse belo texto é
Manoel Silva Filho