Esses seres humanos que dormem ao relento sobre papelões, tampados com jornais ou, com sorte, com um velho cobertor, são os miseráveis, os excluídos, os esquecidos, os que já não merecem ou fingimos não merecer a nossa atenção. São como animais que na maioria das vezes desviamos o olhar, pois a nossa “humanidade”, que não morre dentro de cada um, insiste em nos lembrar como de certa forma cada um de nós é responsável por esse ser humano, e com vergonha de nós mesmo é que desviamos o olhar. Mas nós ficamos a nos perguntar: “mas o que eu poderia fazer?” Bom, o engraçado é que nós poderíamos salvar o mundo, mesmo fazendo muito pouco. Não se engane achando que não existe solução ou que ela virá através de grandes movimentos ou programas institucionais, não, o mundo só pode ser salvo através de você por micro salvamentos, que podem se realizar a cada novo dia. Esses dias, junto com alguém que amo, de madrugada, coloquei um cobertor sobre um desses esquecidos, o que foi muito pouco, mas como eu já disse antes, na verdade foi tudo. E o que tantas outras pessoas podem confirmar é que o sentimento de ajudar outro semelhante é provavelmente o mais puro e verdadeiro sentimento de felicidade que alguém pode experimentar. Mas, por agora, vamos voltar a trabalhar, pois temos mais o que comprar.